27.4 C
Dourados
quinta-feira, 28 de março de 2024

Novas usinas começam a operar, mas etanol celulósico vive momento delicado

- Publicidade -

31/01/2015 16h00

Nos últimos meses acontecimentos importantes se desenvolveram no universo do etanol celulósico. O resultado de anos de trabalho — e apostas — culminaram na inauguração, quase sincronizada, de três usinas de empresas expoentes no mercado.

No Brasil, a GranBio colocou sua fábrica para rodar em setembro, enquanto a Raízen inaugurou sua unidade em novembro.

A joint-venture entre a DSM e a Poet deu origem a primeira usina de etanol celulósico em escala comercial dos EUA também em setembro, apenas algumas semanas antes da GranBio.

O desafio de produzir em larga escala começou para estas empresas e, passado os primeiros meses de operação, pouco foi divulgado sobre o total produzido, as dificuldades e as perspectivas de aprimoramento da tecnologia.

No entanto, um documento divulgado na semana passada pela Novozymes, que atende às três usinas mencionadas e é a principal fornecedora de enzimas do mercado, somou-se a uma série de fatos negativos que ajudam a entender o momento atual da tecnologia.

O que parece estar ocorrendo é um ajuste de expectativas sobre os prazos de desenvolvimento do etanol celulósico pelo mundo e desânimo em relação as perspectivas de curto e médio prazo.

Em relatório financeiro publicado no dia 20 de janeiro, a empresa dinamarquesa revelou que sua expectativa de fornecimento de enzimas foi adiada em três anos.

A meta era fornecer a sua tecnologia para pelo menos 15 usinas até 2017, agora, o prazo foi estendido para 2020.

Um dos motivos citado pela Novozymes para esse ajuste é o “desenvolvimento mais lento” da indústria. “Ao longo dos últimos dois anos, a experiência da Novozymes mostrou que o desenvolvimento das primeiras usinas tem demorado mais que o esperado, assim como a utilização das capacidades instaladas.”

A empresa compartilhou também incertezas presentes no mercado, características típicas das inovações tecnológicas buscando penetração comercial.

“A Novozymes viu vários novos modelos de produção e diversidade de matérias-primas sendo exploradas por parceiros ao redor do mundo. Isto faz com que as usinas presentes no pipeline tenham inúmeros formatos e tamanhos.”

“Exatamente quantas usinas serão construídas nesta primeira onda do mercado permanece incerto, mas nós esperamos oferecer tecnologia para cerca de 15 usinas operando a plena capacidade até o final da década”, completa a empresa.

Beyond Petroleum?

Os sinais de que o negócio ainda enfrenta sérios obstáculos aparecem em outros fatos recentes.

O mais emblemático é a desistência completa da britânica British Petroleum no negócio de etanol celulósico. Após injetar mais de U$ 750 milhões em um extenso portfólio de produtos e tecnologias voltadas à segunda geraçao de etanol, a BP desistiu de aprimorar o processo e colocou a venda um considerável patrimônio e mais de cinco anos de pesquisa.

A notícia de que venderia seus ativos de segunda geração veio após o anúncio, feito ainda no final do ano passado, de que a empresa iria “descontinuar as atividades” com o etanol de segunda geração, ante um “ambiente externo de negócios desafiador”.

Verde-amarelo

No Brasil, a Raízen, após a inauguração de usina de etanol celulósico, precisou de um questionamento da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para admitir que não tem nenhum plano concreto de expansão para o renovável.

Embora o próprio presidente da empresa, Vasco Dias, tenha afirmado em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo que a companhia tem planos de “investir entre R$ 2 bilhões e R$ 2,5 bilhões para colocar sete plantas em operação até 2024”, a sucroalcooleira, após ser questionada pela CVM, classificou a possibilidade como “mera expectativa de longo prazo, sujeita a riscos e incertezas”.

Na ocasião, a sucroalcooleira argumentou que “a construção de novas plantas produtoras de etanol celulósico depende tanto dos resultados a serem gerados pela primeira usina” quanto de “fatores de mercado fora do controle da companhia”.

Nem mesmo projetos como o da GranBio, em Alagoas, passaram incólumes às dificuldades. No processo de construção da primeira planta de etanol 2G do hemisfério sul, a holding da família Gradin teve de arcar com um aumento de 35% no custo do projeto, atraso na entrega de equipamentos e os impedimentos legais que têm travado o uso de organismos geneticamente modificados e importação de insumos.

EUA e o preço do petróleo

BCG usinas etanol ceulosico 280115Ninguém viveu tão intensamente a euforia com o etanol celulósico quanto os EUA. E, por lá, as novas perspectivas são desanimadoras por conta das incertezas quanto aos incentivos do governo.

Para o economista especializado em energia, Wallace Tyner, o principal entrave ao sucesso do E2G, é a carência de um mandato de combustíveis renováveis mais robusto e a ausência de subsídios que permitam às usinas competir com a indústria petroleira.

“Sem um mandato de combustíveis, a queda nos preços do petróleo faz com que a perspectiva para o etanol celulósico seja completamente inviável do ponto de vista econômico”, disse por email, o pesquisador da Universidade de Purdue, nos Estados Unidos.

Questionada sobre que impacto o preço do petróleo teria no desenvolvimento do etanol 2G, a Novozymes defendeu que não precisa de um “nível de certeza” quanto ao preço da commodity para atingir seus objetivos, contudo, admitiu que a falta de subsídios por parte do governo pode tornar ainda “mais lento” o desenvolvimento da indústria.

“Atualmente, o E2G ainda está dependendo de subsídios governamentais, contudo, ele precisa andar com as próprias pernas (em cinco, dez anos) e ser capaz de competir com a gasolina.

Agora, o obstáculo do custo para a viabilidade comercial aumentou com os baixos preços do petróleo, logo, o desenvolvimento será provalmente mais lento que esperado”, comentou, por email, o gerente sênior de Relações com Investidores da Novozymes, Klaus Sindahl.

Pessimista, Tyner defende que, sem um mandato ou subsídios do governo, o etanol de segunda geração dificilmente ficará em pé. “O preço do petróleo precisaria chegar a U$140 para o etanol de segunda geração ser economicamente viável, sem qualquer subsídio ou mandato”, concluiu.

Otimismo

Mas a visão de que o etanol celulósico continua com grande potencial não mudou, apesar dos ajustes nas previsões e na tecnologia. A Novozymes, em seu documento enviado aos investidores, projeta duas ondas que carregarão o futuro do setor.

A primeira ainda está acontecendo e deve ir até 2020. Nesta fase a fabricante de enzimas atenderá os primeiros players do mercado ao mesmo tempo em que aprende com eles através das parcerias.

Já a próxima fase carrega o “poder transformador da conversão da biomassa”. No entanto, o potencial desta segunda onda “dependerá de como a mercado se desenhará nos dez anos após 2020.”

“O apoio político para os combustíveis avançados feitos a partir da biomassa é um importante fator [que poderá definir] quão rapidamente esta indústria emergente será estabelecida”, conclui a Novozymes.
(NovaCana.com)

Veja também

- Publicidade -

Últimas Notícias

- Publicidade -
- Publicidade -

Últimas Notícias

- Publicidade-