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quinta-feira, 18 de abril de 2024

O desafio do desenvolvimento e da inclusão social une Ásia e América Latina

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23/05/2015 07h00

O foco das políticas no crescimento econômico é necessário, mas insuficiente para alcançar o desenvolvimento.

O crescimento econômico nas economias em desenvolvimento da Ásia e da região do Pacífico terá apenas leve aumento em 2015.

A inflação caiu e deve permanecer baixa, o que levará à redução da taxa de juros. O crescimento econômico não tem resultado em crescimento inclusivo.

Esses são alguns dos principais resultados do Relatório Econômico e Social das Nações Unidas para a Ásia e o Pacífico 2015, lançado oficialmente para a América Latina e o Caribe no seminário Ásia e Brasil: Perspectivas de Cooperação e Inclusão, realizado em Brasília no auditório do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) no último dia 14.

Trata-se da terceira vez que o Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo (International Policy Centre for Inclusive Growth – IPC-IG) lança o estudo, principal publicação anual da Comissão Econômica e Social das Nações Unidas para a Ásia e o Pacífico (UNESCAP, na sigla em inglês).

O lançamento reuniu o coordenador residente do Sistema ONU e representante residente do PNUD no Brasil, Jorge Chediek; o presidente do IPEA, Jessé José Freire de Souza; o diretor dos Estudos Econômicos e Políticos Internacionais do IPEA, Renato Baumann; e o diretor da Comissão Econômica e Social para América Latina e Caribe (CEPAL), Carlos Henrique Fialho Mussi, além de integrantes do corpo diplomático da Ásia e do Pacífico.

Após as saudações iniciais de Jorge Chediek, Renato Baumann abriu o seminário ao compartilhar sua análise do relatório, expondo as semehanças e diferenças entre Ásia e América Latina. Primeiramente, destacou a aparente similaridade – o desafio da armadilha da rédia média –, demonstrando como ambas as regiões podem aprender uma com a outra, haja vista terem encarado esse desafio em direções opostas e alcançado resultados diferentes: o Leste Asiático buscou intenso crescimento econômico e um modelo peculiar de complementariedade produtiva, enquanto a América Latina teve êxito na implementação de políticas sociais voltadas para a redução da pobreza e da concentração de renda.

Ele apresentou, em seguida, as diferenças históricas básicas entre os modelos econômicos da América Latina e da Ásia: diferentemente da América Latina, a Ásia tem os mais elevados índices de poupança do mundo.

No caso de um choque externo, a América Latina tende a voltar-se para o FMI, enquanto os países asiáticos tradicionalmente optam por soluções regionais.

Diferentemente da América Latina (Brasil, Chile, México), a Ásia tem se empenhado em extrair os fundos que investiu fora.

Do ponto de vista socioeconômico, os termos de troca da América Latina dependem de variações no âmbito dos recursos naturais, o que gera impacto no preço das commodities. Os termos de troca da Ásia, ao contrário, permanecem relativamente estáveis.

Além disso, na década de 1990, a riqueza gerada na América Latina durante o boom comercial foi aplicada no financiamento de políticas sociais em vez de investimento ou infraestrutura.

Isso resultou em estagnação, por duas décadas, nas disparidades entre as economias mais fortes e mais fracas do continente.

Enquanto isso, devido ao tipo de estrutura produtiva empregada, os países asiáticos alcançaram crescimento de dois dígitos, resultando em redução substancial na desigualdade, segundo Baumann.

Ele iniciou sua fala com citação do relatório, a qual se aplica ao contexto latinoamericano: “O potencial de crescimento das economias está se retendo pela vulnerabilidade estrutural, incluindo falta de infraestrutura e excessiva dependência de commodities por parte de algumas economias.

A frágil recuperação econômica global tampouco está contribuindo para as perspectivas de crescimento. A menos que se busquem reformas com vigor, os riscos de recaída na trajetória do crescimento podem aumentar”.

Em sua opinião, embora os dois continentes tenham muitas diferenças, eles enfrentam hoje desafios semelhantes. Mussi prosseguiu ao apontar o quanto a América Latina padece de falta de infraestrutura. Os países asiáticos, por sua vez, não estão mais urbanizados que os latinoamericanos.

Com isso, quis dizer que eles também precisam investir em infraestrutura em várias frentes: logística, moradia e urbanização. Segundo Mussi, a Ásia necessita investir 900 bilhões de dólares em infraestrutura.

A questão é: como financiar essa necessidade? A poupança será suficiente? Será necessário recorrer a financiamento externo? Como coordenar as parcerias público-privadas (PPP)? Que ambiente regulatório se deve adotar? Mussi ressaltou, então, as implicações negativas da excessiva dependência de commodities para as taxas de câmbio, os índices de inflação e o orçamento. As taxas de dependência do Irã e do Cazaquistão, por exemplo, estão acima de 30%.

O diretor da CEPAL afirmou, em seguida, que 38% dos Investimentos Estrangeiros Diretos (FDI, na sigla em inglês) estão na região da Ásia-Pacífico (545 bilhões de dólares).

No nível macroeconômico, o foco do estudo está menos na pobreza (multidimensional) e mais na inclusão, que se pode definir como uma combinação de melhores padrões de vida, menos desigualdade de renda, mais oportunidades e menos pobreza extrema.

Observou-se em alguns países (China, Índia e Indonésia) que os índices de desigualdade em geral caíram, e o coeficiente de Gini aumentou, o que levanta a seguinte questão: se o crescimento é necessário, qual tipo de desenvolvimento se deve buscar?

O Relatório Econômico e Social das Nações Unidas para a Ásia e o Pacífico fornece um índice de inclusão que serve de base para a classificação dos países, na qual o Cazaquistão e a Federação Russa estão na frente, e a Índia e o Paquistão ficam em último.

Em sua conclusão, Mussi destacou as recomendações, em termos de políticas, formuladas no estudo: dar maior atenção ao meio rural (aumentar a produtividade agrícola com foco nos na qualidade, nos padrões e nos investimentos em pesquisa e desenvolvimento – P&D, assim como desenvolver as atividades não agrícolas, mas com impacto no setor, por meio da industrialização rural); fortalecer o desenvolvimento financeiro, estimular a inclusão financeira; incentivar a criação de pequenas e médias empresas; e robustecer o papel desenvolvimentista da política macroeconômica, ao fazer com que os gastos existentes sejam mais orientados para o desenvolvimento (reduzir gastos não voltados para o desenvolvimento, ampliar o acesso aos sistemas de saúde, reforçar os programas de proteção social e expandir o investmento em educação).

Jorge Chediek encerrou a sessão reiterando que o crescimento econômico não gera automaticamente progresso social ou desenvolvimento humano e que indicadores de desenvolvimento são necessários.

Ele saudou o apelo da UNESCAP ao crescimento inclusivo e a mais investimentos (nos níveis público, privado e doméstico).

Concluiu fazendo referência ao orgulho da presidente Dilma Rousseff em relação às políticas sociais que tiraram 36 milhões de brasileiros da pobreza e possibilitou que 44 milhões ingressassem na classe média.

Considerando tais resultados em meio a um crescimento econômico fraco, o principal desafio para o futuro é garantir a consolidação desses avanços e do crescimento inclusivo.

O lançamento do relatório encerrou-se com intervenções do público, que incluiu embaixadores e outros representantes diplomáticos de Afeganistão, China, Guiné Bissau, Índia, Japão, Malásia, Marrocos, Nepal, Paquistão, Sri Lanka, Rússia e Timor-Leste.

O IPC-IG foi convidado a realizar o evento dadas suas estreitas relações entre a Ásia e o Brasil, e mais precisamente devido à pesquisa colaborativa entre os países asiáticos e e
o IPC-IG, como esclareceu Jorge Chediek em suas palavras iniciais.
(Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento / PNUD com informações do IPC-IG)

Foto UNESCAP

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