24/05/2015 13h00
A deficiência mineral das pastagens tropicais é um dos fatores responsáveis pela baixa produtividade da pecuária brasileira, daí a importância da suplementação do gado para fornecer os nutrientes necessários ao crescimento e desenvolvimento dos animais.
“A mineralização do rebanho contribui para aumentar a produtividade, favorece o ganho de peso, o rendimento de carcaça e a fertilidade”, afirma Lauriston Bertelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Suplementos Minerais (Asbram).
Segundo ele, cerca de 50% do rebanho brasileiro recebe algum tipo de suplementação mineral, mas em dosagens abaixo das necessidades dos animais.
O médico veterinário Fernando Carvalho, técnico da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), de Presidente Bernardes (SP), destaca que as forrageiras tropicais, nativas ou cultivadas, são deficientes principalmente em fósforo, sódio, zinco, cobre, selênio e iodo, além de cobalto, em menor quantidade.
Ele ainda ressalta a importância da mineralização dos bovinos na formação dos ossos e dos músculos, na produção de leite e no sistema imunológico, nas defesas das doenças infecto-parasitárias, e no retorno econômico da atividade.
“De acordo com estudos, cada um centavo investido em mineralização traz um retorno de três a 22 centavos, dependendo da categoria animal e da qualidade da suplementação”, ilustra Carvalho, que também é autor do livro A História da Suplementação Mineral no Brasil.
NA SECA E NA CHUVA
Carvalho afirma que, durante o inverno (na seca), há uma queda acentuada na disponibilidade de forragem, com produção ao redor de 10% do total anual, em decorrência da falta de umidade e da baixa temperatura.
“Nessa época do ano, além da menor oferta de alimento no pasto, a forragem apresenta baixo teor de proteína e menor digestiblidade, o que contribui para o menor consumo de matéria seca de qualidade insatisfatória, resultando em perda de peso (e até em morte), pela deficiência de energia, proteína, vitaminas e minerais”, observa.
O veterinário ainda salienta que a suplementação a pasto depende da qualidade da pastagem e da massa disponível, da área e dos animais (sexo, idade, raça), da infraestrutura (cochos e bebedouros).
“Os suplementos devem complementar e fornecer os nutrientes deficientes na forragem.”
Ele chama a atenção para a necessidade de suplementação mineral na época das chuvas, quando ocorre deficiência mineral acentuada em bovinos criados a pasto, em razão da maior disponibilidade de proteína e energia nas pastagens e das flutuações no valor nutritivo destas.
“Nessa época, os animais precisam de metaloenzimas que têm papel importante na eficiência máxima no metabolismo proteico e energético.”
EQUILÍBRIO MINERAL, PROTEICO E ENERGÉTICO
Na visão do médico veterinário Sergio Oliveira Juchem, especialista em nutrição de ruminantes e pesquisador da Embrapa Pecuária Sul (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), a suplementação deve garantir os nutrientes que a pastagem não consegue suprir, de forma equilibrada.
Quanto aos ingredientes a serem utilizados, ele recomenda observar o custo do quilo de proteína (porcentagem de proteína bruta) para alimentos proteicos, e do quilo de energia (% NDT – nutrientes digestíveis totais) para os energéticos.
“Um quilo de farelo de trigo (71% NDT), embora mais barato, pode ter um custo da unidade energética superior ao do milho, por exemplo, que na base de kg do alimento é mais caro, mas apresenta um teor energético superior (89% NDT). Esta lógica serve também para os subprodutos”, compara.
De acordo com ele, o cálculo do custo-benefício não é muito simples, uma vez que deve levar em conta o preço do boi no futuro, o que é difícil de ser estimado. Ainda destaca que algumas questões práticas podem ser úteis.
“O cálculo do valor a ser desembolsado para um determinado plano de suplementação, para a obtenção do preço mínimo pago pelo boi ou bezerro, para que esse plano seja viável e resulte em lucro ao criador, ajuda a ranquear as estratégias de suplementação em avaliação, da mais rentável até a menos rentável, devidamente ajustadas para o desempenho animal decorrente de cada estratégia utilizada”, ressalta Juchem.
O pesquisador da Embrapa Pecuária Sul também comenta a importância de se considerar o retorno, caso os recursos inicialmente disponibilizados para suplementação fossem aplicados na melhoria das pastagens, renovação, adubação, etc..
Outra forma de avaliar o benefício da mineralização, explica, é estimar o custo atrelado ao uso do suplemento e o risco que o produtor corre em não fazer a suplementação mineral, por exemplo, das fêmeas em acasalamento e gestação. “Ou seja, o custo da suplementação é equivalente a quantos bezerros nascidos?”.
(Por equipe SNA/SP)
