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sexta-feira, 29 de março de 2024

Viva Rio: reconstrução do Haiti sofreu com lentidão de órgãos internacionais

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07/06/2014 09h46 –

Agência Brasil

As instituições internacionais que atuam na reconstrução do Haiti desde o terremoto de 2010 foram lentas ao responder às necessidades geradas pela tragédia, disse ontem o diretor executivo do Viva Rio, Rubem César Fernandes. A organização não governamental (ONG) fluminense atua naquele país desde 2004 com projetos sociais e consultorias. Para Fernandes, projetos com prazos longos demais fizeram os primeiros resultados da reconstrução só serem sentidos no ano passado.

“Os primeiros três meses tiveram uma resposta bem eficaz na defesa civil, para acudir a desgraça imediata. Mas, quando começou a reconstrução, em abril de 2010, quase nada aconteceu, nem sequer a limpeza do entulho nas ruas. Houve muita demora nos processos”, lembrou Fernandes. Segundo ele, a Organização das Nações Unidas (ONU) e os bancos internacionais recorreram a procedimentos de longo prazo.

“A impressão que dá é que as instituições não estão preparadas para reconstrução. Elas aplicam a mesma lógica dos programas de desenvolvimento de longo prazo: seis meses de avaliação de impacto ambiental antes de limpar o entulho. Os procedimentos são lentos e têm pouca relação com as necessidades dessa fase crítica de reconstrução”, criticou.

A Viva Rio concedeu uma entrevista coletiva hoje, em conjunto com a ONU e o grupo de teatro haitiano Les Rescapés para falar dos dez anos da Missão de Paz das Nações Unidas no Haiti (Minustah).

Na entrevista, o diretor do Centro de Informação da ONU para o Brasil, Giancarlo Summa, destacou que houve um esforço concentrado na questão da segurança do Haiti desde o início da missão, porque o país vivia uma situação de descontrole que inviabilizava o funcionamento das instituições: “É mais simples construir uma polícia eficiente do que um sistema de saúde eficiente. E, se você não tem uma polícia eficiente, não pode fazer mais nada. Foi dada ênfase a essa questão”, afirmou.

Segundo Summa, um dos fatores de instabilidade no Haiti eram as Forças Armadas, que mantiveram as ditaduras e deram golpes sucessivos quando os ditadores fugiram. A opção foi extingui-las e criar a Polícia Nacional Haitiana. “Também houve um esforço na construção do Estado, do Judiciário e da educação, mas o terremoto complicou tudo, porque morreu muita gente, muitos funcionários públicos. Havia uma debilidade anterior que foi agravada, e a construção é difícil”, acrescentou.

Para o ex-comandante-geral da Polícia Militar e coordenador de Segurança Humana do Viva Rio, Ubiratan Ângelo, a Polícia Nacional Haitiana foi a instituição pública que mais cresceu desde a entrada das forças de paz no país. “Quando o Haiti atingir a meta de 16 mil policiais, a relação policial por habitante será maior que a do Rio de Janeiro, por exemplo, com uma concentração metropolitana muito menor”.

O treinamento e o crescimento da polícia do Haiti estão entre os principais requisitos para que a Minustah possa deixar o país. Em setembro, a Secretaria-Geral da ONU divulgará relatório sobre a missão, e, em outubro, o Conselho de Segurança da organização decidirá se renova a missão, o que deve ocorrer, porém com redução de tropas. Summa informou que a missão de paz deve ficar no Haiti pelo menos até as eleições do ano que vem e que as tropas brasileiras devem ser últimas a sair.

Coordenador do grupo de teatro Les Rescapés, que produziu programas sobre a Copa do Mundo que serão exibidos no Brasil e em outros países, o haitiano Robert Montinard torce pela saída das tropas, mas admite que isso não pode ocorrer imediatamente.

“Como haitiano e patriota, quero que elas vão embora agora, mas, como pessoa responsável, que quer a segurança do país e que sabe que vai haver eleição daqui a pouco, que sabe como é nossa democracia, fraca e bem mal representada, sei que precisamos de ajuda. Mas não sei se essa ajuda é do Exército e da Missão de Paz. Não sei se não é na educação do povo haitiano, para mudar algumas práticas e tentar levantar o nosso pais”, questionou Montinard. “Eles ajudam no terremoto, na eleição e na segurança, mas não é uma alegria para nós ver todo dia um cara com fuzil de outro país nos dirigindo. Não estamos felizes, mas a importância da presença deles é grande.”

De acordo com Montinard, a Polícia Nacional Haitiana reprime manifestações por melhores condições de vida. Ele critica a falta de diálogo, dizendo que é preciso conversar mais com o povo. “Não precisa usar gás de pimenta em manifestação por luz e eleições.” Segundo Montinard, há manifestações, mas, às vezes, as pessoas vão para alguns lugares e o comandante da polícia diz que não está autorizada a mobilizaçãoo. Quando as manifestações chegam perto do palácio [presidencial], sempre usam gás de pimenta, porque não é permitido.”

Rubem Fernandes lembrou que, em 2008, quando houve protestos contra o encarecimento dos alimentos e a fome, os militares não permitiam que se chegasse ao Palácio Nacional, ao Parlamento e a outras áreas estratégicas, mas que houve tolerância com a ocupação de ruas. “No Brasil, as manifestações tomam ruas por algumas horas, mas não há uma situação de ocupação geral da população durante uma semana inteira”, comparou.

Ubiratan Ângelo, que participa das ações do Viva Rio no Haiti, afirma que a Polícia Nacional lida melhor com as manifestações do que os governo anteriores. “Em manifestações antigas, morria muita gente no Haiti, no enfrentamento contra armas letais. Hoje, você tem gás, bala de borracha, e elas podem ser violentas, às vezes, mas as manifestações fazem parte da cultura haitiana.” Para Giovanni Summa, manifestação é praticamente um esporte nacional no Haiti, quase tão popular quanto o futebol. “Na Minustah, há uma enorme preocupação em evitar qualquer tipo de violência desnecessária. Há um cuidado maior do que aquele que se viu nas ruas do Brasil no ano passado”, disse Summa.

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