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sexta-feira, 19 de abril de 2024

Planta estudada em Dourados pode medir a qualidade do ar

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22/09/2014 14h15 – Atualizado em 22/09/2014 14h15

Planta estudada em Dourados pode medir a qualidade do ar, do solo e da água

Coração-roxo é muito usada para ornamentação e serve como ‘termômetro’ da poluição do ar

Luiz Radai

Um trabalho realizado na Faculdade de Ciências Biológicas e Ambientais da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados) desde 2010 pelo então aluno de Ciências Biológicas Bruno do Amaral Crispim, hoje doutorando em Ciência e Tecnologia Ambiental, sob orientação da professora doutora Alexeia Barufatti Grisolia vem chamando atenção pelo grande ganho que pode render à sociedade em geral. Aceito para publicação em revistas científicas internacionais, o trabalho analisa uma planta que apresenta dano genético se exposta a poluentes.

Ainda como graduando, o aluno pesquisador buscou realizar o biomonitoramento da qualidade do ar em Dourados, e encontrou na Tradescantia pallida, também conhecida como coração-roxo ou trapoeraba roxa, uma característica muito interessante: ela sofre alterações genéticas por conta da poluição a que estiver sendo exposta.

Segundo Crispim, a sociedade poderá ter informações adicionais referentes aos locais de maior concentração de poluentes na cidade e dessa forma auxiliar em políticas públicas de gestão ambiental da qualidade do ar. “Também poderíamos incentivar o plantio de Tradescantia em várias locais da cidade para que uma equipe especializada possa periodicamente monitorar a potencialidade de poluentes atmosféricos causarem danos genéticos nas plantas e indiretamente gerar informações referentes à qualidade do ar destes locais na cidade de Dourados”, disse.

A planta também pode ser um incentivo para a população possa se conscientizar quanto ao uso excessivo de veículos automotores em excesso que pode estar causando efeitos tanto ambientais como a saúde da população que reside próximo a estes locais de alto fluxo veicular, aponta o pesquisador.

Nativa do México, mas muito usada para ornamentação em nosso país, a coração-roxo tem diversos exemplares nos jardins por Dourados, e foi neste locais que Crispim realizou os primeiros experimentos. “Uma vez por mês, nós realizávamos as coletas de botões jovens das plantas nesses locais. Em seguida, o material biológico era encaminhado para o Laboratório de Biologia Geral da Faculdade de Ciências Biológicas e Ambientais da UFGD para as preparações das lâminas e contagem dos micronúcleos”, conta.

A observação aconteceu em quatro canteiros existentes na cidade, sendo um na Cidade Universitária, Unidade 2 da UFGD, na rua Monte Alegre, na rua Ponta Porã e na avenida Hayel Bon Faker. “A explicação parece complicada, mas não é. Quando o material genético é danificado pode causar a perda de parte de um cromossomo ou um cromossomo inteiro, e produzir outro núcleo menor, chamado micronúcleo. Assim, a quantidade de micronúcleos nas células é diretamente proporcional aos danos genéticos que a célula está sofrendo. Observamos no estudo a maior quantidade de micronúcleos nos locais onde o tráfego veicular era maior”, explica.

Crispim informa que as plantas da Hayel Bon Faker foram as que apresentaram maior dano genético, seguida pelas plantas da rua Monte Alegre e depois da rua Ponta Porã. “Na cidade universitária, observamos média menor de mutação”, disse.

Depois de se estender por mais dois anos, hoje esta pesquisa foi ampliada para a região da Grande Dourados que compreende as cidades Caarapó, Deodápolis, Douradina, Dourados, Fátima do Sul, Glória de Dourados, Itaporã, Jatei, Juti, Nova Alvorada do Sul, Rio Brilhante e Vicentina. Atualmente, professores e alunos de graduação, mestrado e doutorado participam do projeto.

“Eu me sinto muito realizado neste estudo. Estudar os efeitos ambientais sempre esteve em meus planos quando iniciei as pesquisas com o biomonitoramento me senti muito útil perante a sociedade onde com essas informações podemos demonstrar que mesmo Dourados – não sendo considerada uma metrópole – tem um alto índice de poluentes, evidenciado pelos resultados do trabalho, que pode ser comparado com grandes centros. E não existe uma preocupação direta com estes fatores aqui na região e que se faz necessário uma política pública para tentarmos minimizar este tipo de poluição”, finaliza.

REPERCUSSÃO

Mesmo que o uso da planta como bioindicador de poluição seja conhecido, inclusive tendo a CETESP (Companhia de Trânsito de São Paulo) como exemplo de uso do coração-roxo nas análises de poluição do ar nas ruas daquele Estado, a novidade da pesquisa foi aliar as análises de genotoxidade e análises estomáticas, ou seja, verificar que os efeitos de alterações genéticas estavam diretamente associados ao efeitos de adaptação que a planta realiza para realizar o processo de respiração através dos estômatos.

O trabalho iniciado em 2010 conseguiu como resultado a publicação de um artigo intitulado “Biomonitoring the genotoxic effects of pollutants on Tradescantia pallida (Rose) D.R. Hunt in Dourados, Brazil” na Revista Internacional – Environmental Science and Pollution Research.

Por viver este momento de necessidade de informações sobre como identificar a qualidade do ar, o trabalho também teve repercussão em outros meios de informação internacional, sendo publicado nota em relação à pesquisa no site canadense Environment Progress.

“Em 2011 continuamos os estudos e como resultado deste trabalho estamos com um outro artigo Effects of atmospheric pollutants on somatic and germ cells of Tradescantia pallida (Rose) D.R. HUNT cv. purpurea aceito para publicação em dezembro de 2014 na revista Annals of the Brazilian Academy of Sciences”, conta Crispim.

Planta é encontrada em  vários jardins de Dourados (Foto: Divulgação)

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