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quinta-feira, 28 de março de 2024

Nações Unidas lutam contra a radicalização da juventude no mundo

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28/05/2015 18h00

ESPECIAL: Nações Unidas lutam contra a radicalização da juventude no mundo

Mais de 4 mil soldados europeus, homens e mulheres jovens, uniram-se ao Estado Islâmico. Para especialista, a falta de perspectivas e lugar na sociedade torna mais fácil para os jovens abandonarem seus lares e alistar-se a causas extremistas.

Em 1991, quando eclodiu um conflito armado na Argélia após manobras eleitorais entre forças militares do governo e um grupo religioso terrorista, a maioria dos cerca de 25 mil rebeldes que formaram uma guerrilha nas montanhas do norte do país tinha menos de 25 anos. Entre eles estava Djamel, ainda no ensino médio quando entrou no radicalismo.

“Eles nos disseram para lançar uma jihad contra este governo infiel e lutar até o fim dos tempos”, disse Djamel à TV das Nações Unidas (UNTV) em uma entrevista em 2010 para o documentário “The Terrorist Who Came Home”. “Nós queríamos subverter completamente o governo.”

O conflito da Argélia durou mais de dez anos e custou a vida de cerca de 150 mil pessoas, incluindo o irmão de Djamel.

E com o insucesso dos rebeldes, perguntas começaram a surgir em relação à eficácia e a força moral das reivindicações dos insurgentes.

“Nós começamos a duvidar do terrorismo”, disse Djamel. “No início tivemos poder. Tivemos caminhões, carros, grupos e armas, mas depois de três anos e meio tudo começou a desmoronar”.

Estudiosos do extremismo em geral concordam que a história do terrorismo internacional se desenrolou ao longo de quatro correntes específicas: a Onda Anarquista , abrangendo as décadas entre os anos 1880 e 1920; a Onda Anticolonial, que atingiu o pico entre os anos 1920 e 1960 quando impérios desmoronaram e nações conseguiram se libertar do jugo do imperialismo; a Onda da Nova Esquerda dos anos 1960 a 1990, que viu a ascensão de grupos militantes defendendo ideais de esquerda e de extrema direita; e a tendência atual, a Religiosa, dando vida aos fundamentalistas e jihadistas religiosos de hoje.

No entanto, após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, o radicalismo dos jovens é uma questão que continua a confundir os Estados-membros à medida que inúmeros jovens abandonam suas famílias e vidas de aparente prosperidade no Ocidente para juntar-se às fileiras de grupos militantes islâmicos.

Apenas no Oriente Médio, o Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIL), beneficiou-se da chegada de 4 mil soldados europeus, homens e mulheres jovens, e ao mesmo tempo, recrutou pesadamente jovens marginalizados da região.

Lutando por um papel na sociedade

Em reunião do Conselho de Segurança sobre o papel dos jovens no combate ao extremismo violento e promoção da paz, realizada na sede da ONU em abril, Peter Neumann, diretor do Centro Internacional para o Estudo da Radicalização observou que os combatentes estrangeiros se aliando ao ISIL eram mais diversificados do que qualquer população extremista que já tinha visto.

Tão diferente que pela primeira vez o grupo de radicais incluiu um grande número de mulheres – representando até 20% das tropas em alguns países.

“Por mais diferentes que sejam os combatentes estrangeiros com que eu e meus colegas encontramos e conversamos; apesar de perfis e características diferentes; o que muitos, se não a maioria deles, tinham em comum é a sensação de que não faziam parte de suas sociedades”, disse ele à reunião.

“E se você não sentir que você pertence, se você não sentir que você é parte de sua sociedade, torna-se mais fácil de sair – e torna-se mais fácil odiar. Torna-se mais fácil ir contra a própria sociedade cujo passaporte você possui e cuja língua você fala”.

Os fatores radicalizadores dos jovens na Europa e outras regiões, apesar de variados, estão baseadas em estímulos socioeconômicos ou a falta deles: a falta de integração social e cultural, a falta de oportunidades econômicas, a falta de emprego. Quando a esperança e a oportunidade são eclipsados, o extremismo, muitas vezes se alimenta do desespero.

O recente relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) apontou que o desemprego global entre os jovens deve continuar subindo ao longo de 2017.

Em 2013, no último registro, eram cerca de 74,5 milhões de jovens desempregados. Hoje, metade da população mundial tem menos de 25 anos de idade, e 87% das pessoas entre as idades de 15 e 24 podem ser encontradas no mundo em desenvolvimento.

Entre elas, 600 milhões de jovens vivem de forma precária em zonas de guerra, encurralados no centro do conflito e experienciando suas consequências por meio da pobreza e destruição.

Para o enviado especial do secretário-geral para a juventude, Ahmad Alhendawi, a atual situação nos países árabes reflete a falta de perspectivas dos jovens para o futuro.

“O salário médio para os soldados do ISIL é de três a quatro vezes maior do que o salário padrão no Oriente Médio.

Você tem uma situação em que para o jovem no Oriente Médio seria necessário 16 vistos para viajar para 22 países. Assim, não há independência econômica e nenhuma mobilidade”, complementou Alhendawi. “Você tem uma situação na Síria hoje, onde a única vaga para os jovens é na luta”.

Preenchendo o Vazio

De acordo com Alhendawi, as soluções são brutalmente claras: os jovens do mundo devem ser tratados como construtores da paz em um sistema de inclusão que traga as políticas de juventude progressistas e de investimento para o primeiro plano.

“Eu não compro o argumento de que todas as pessoas com o ISIL são ideologicamente motivadas. Há muitos fatores de atração lá porque os jovens têm falta de perspectivas e uma sensação de desesperança e está sendo oferecido a eles uma promessa de ser parte de algo”, disse ele. “Isso é o que eu chamo de ‘vazio’ em nossos esforços de construção da paz.

Temos que resolver os problemas fundamentais que estão fazendo com que uma grande geração de jovens se sinta sem esperança, marginalizada, excluída da vida pública e temos que trazê-la de volta. Acho neste sentido, a ONU tem um papel a desempenhar”.

Jean-Paul Laborde, o chefe da Direção Executiva da Luta Antiterrorista da ONU (CTED), há muito pede uma abordagem multifacetada na prevenção da propagação do radicalismo através das fronteiras.

Entre elas, estão sugestões para que a comunidade internacional adote ferramentas abrangentes, como a educação, a fim de apagar as chamas do extremismo antes que se tornem demasiadamente selvagens para controlar.

“Ou [o terrorismo] vai continuar e vai destruir nossas sociedades – algo que não é aceitável – ou temos de pôr em prática todos os elementos.

Temos que voltar para o que eu disse: educação, desenvolvimento, aplicação da lei, as fronteiras, a visão internacional, política internacional, a cooperação internacional.

Enquanto o mundo não fizer isso, então vamos continuar a ter estes problemas”, disse Laborde. “Nós temos que ser rápidos. Eu sempre disse que as organizações terroristas estão equipados com Ferraris; não estamos equipados nem mesmo com uma bicicleta”.

O Caminho de volta do radicalismo

Na Argélia, onde a guerra já tinha deslocado a sociedade e plantado as sementes que logo se transformaram na Al Qaeda, as autoridades do país estavam desesperadas procurando uma alternativa para o derramamento de sangue que tinha custado tanto em termos de vidas humanas e desenvolvimento.

Para alterar este cenário, decidiram lançar um processo de reconciliação, ao anunciar uma anistia para os jovens nas montanhas.

Djamel finalmente deixou as montanhas e abandonou suas armas – um primeiro passo no caminho da recuperação do ‘vazio’ da guerra civil argelina.

Ele reconstruiu sua vida e começou uma família.
A comunidade internacional tem uma tendência a culpar os jovens por muitos problemas, Alhendawi observou.

E até que essa percepção seja descartada, o radicalismo continuará sendo um dos problemas mais urgentes do mundo.

“Os jovens não causam os problemas. Eles são as vítimas e os que mais sofrem com esses conflitos”.(nacoesunidas.org)

O radicalismo dos jovens atuais continua a confundir os Estados-membros da ONU, com mulheres e homens deixando sua vida aparentemente confortável para lutar por causas extremistas em outros países. Foto: UNODC

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