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quinta-feira, 28 de março de 2024

Ele investiu no conhecimento e de atendente de lanchonete chegou a comendador

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17/11/2015 13h50 – Atualizado em 17/11/2015 20h28

Flávio Verão

Estudar para ser alguém na vida. Com certeza a maioria das pessoas já ouviu esta frase e até mesmo recebeu conselho de alguém da família para investir nos estudos. Foi o que fez Wander Medeiros Arena da Costa, 38 anos.

Pai, marido, advogado, professor universitário, procurador regional das entidades públicas, ele enfrentou inúmeras adversidades da vida para investir na carreira profissional para lhe render mês passado o título de comendador.

Como muitos estudantes, Wander ficou dividido em que carreira seguir: direito ou artes cênicas. Mas o destino, como ele mesmo diz, o colocou no caminho certo, tanto que apareceu um “anjo” em sua vida para ajudá-lo a dar os primeiros passos para se firmar no mercado de trabalho.

Por volta dos 10 anos Wander começara a trabalhar, na lanchonete do pai, dono de um pequeno estabelecimento no centro de Dourados e que depois migrou para o terminal rodoviário. A mãe era contra, mas como o pai que tomava as decisões, o menino estudava pela manhã e no período da tarde cuidava dos negócios da família.

Filho mais velho de quatro irmãos, todos homens, Wander era o encarregado a ajudar o pai no sustento da casa.
Foi assim, até aos 15 anos, quando decidiu se mudar para a casa da avó, em Cajuru, interior de São Paulo. Ele queria estudar para ser ator. “Eu ia para o primeiro ano do ensino médio e naquela época participava da Companhia de Teatro Camaleão em Dourados. Fiz até apresentações no teatro municipal”, recorda. Em dezembro de 1992 chegou em Cajuru.

Acontece que que na virada daquele ano a avó passou mal e foi parar no hospital, onde permaneceu por dois meses internada, até a morte. De volta a Dourados, Wander voltou a encarar a mesma rotina. Mas uma nova tragédia, em novembro do ano posterior, abalou a família. Numa viagem a Campo Grande, seu pai morreu vítima de acidente.

Foi a partir daí, aos 16 anos, que assumiu a chefia da casa, para cuidar dos três irmãos e ajudar a mãe. A rotina na lanchonete “Café da manhã”, conhecida na época como a mais paupérrima entre os demais estabelecimentos da rodoviária, passou a ser dobrado.

“Tive que trabalhar bem mais. Lembro que muitas lanchonetes fechavam no final e início de ano. Foi aí que aproveitei para faturar e aumentar nossas vendas”, diz Wander, que gostava de ouvir histórias de inúmeras pessoas que passavam pelo local. “Eram pessoas da mais pobre a mais rica, aprendi muito com elas”, rememora, afirmando que ouvi-las o ajudou muito a enter melhor a vida.

Prestes a completar maioridade, Wander começou a receber a ajuda do irmão Rafael, cinco anos mais novo. Os outros dois irmãos são Vinícios e Fagner. Foi graças ao apoio de Rafael que Wander pôde ingressar na faculdade e cursar Direito, aos 18 anos, na Unigran.

Para complementar a renda da família e pagar o curso, Wander decidiu procurar emprego e também foi trabalhar como entregador de salgadinhos industrializados, além, é claro, de atuar na lanchonete da família. “Foi uma época bastante puxada, sem final de semana, sem descaço”, lembra ele, que mesmo assim nunca desanimou de estudar.

Essa rotina continuou até os 22 anos, quando se formou em Direito. Como os demais irmãos foram crescendo, havia mais ajuda na rotina da lanchonete. No último ano da faculdade, Wander passou a dar aulas particular para colegas do curso, na própria Unigran.

Nessa época foi convidado a substituir um professor numa empresa de cursinhos preparatórios, a Exata Concursos. “Foram apenas três sábados e num deles tive a honra de receber em uma de minhas aulas o Cláudio, dono da Exata”, recorda.

A formatura se aproximava e como não teve a oportunidade de fazer estágio, a preocupação passou a assombrá-lo. “Ficava me questionando onde iria trabalhar, o que faria depois de formado”. Numa noite, sua mãe tentou acalmá-lo e pediu para o filho não se preocupar, pois “Deus iria ajudá-lo”.

“Foi impressionante, minutos depois o Cláudio ligou e disse que eu seria contratado para dar aulas em curso para fiscal de renda”, contou em lágrimas, ao comemorar pelo primeiro emprego como professor na área do Direito.

Na Exata Concursos Wander teve a grata oportunidade de conhecer Carlos Paiva, advogado das antigas na época e bastante respeitado, pessoa que tornou-se um verdadeiro anjo em sua vida.

A amizade rendera aproximação a ponto dos dois montarem um escritório de advocacia e de lá para cá nunca faltou serviço. “Lembro que na época, isso em 2001, ganhei R$ 2,5 mil numa ação. Era muito dinheiro e isso mudou minha vida e da minha família”, recorda ao falar do “gordo” salário para ele há 15 anos.

Dois outros advogados passaram a integrar o escritório. Foi aí que Carlos Paiva percebeu que Wander estava preparado para comandar o ambiente de trabalho e seguir a carreira advocatícia.

Entre os anos de 2001 a 2004 Wander Medeiros esteve bastante envolvido em causas trabalhistas, área pela qual pegou admiração e atua fortemente até hoje. Questões indígenas foram as que chegaram na época, vindo a criar uma tese de direito em defesa das causas trabalhistas dos índios, funcionários de usinas.

A tese repercutiu muito na época e os juízes passaram a aceitar sua proposta e rejeitar uma súmula do Tribunal Superior do Trabalho (TST) contrário ao que Wander defendia. No ano de 2003 teve que sustentar, oralmente, durante uma audiência em Dourados, sua posição frente à súmula.

Na plateia estavam operadores do direito, entre eles desembargadores do Tribunal Regional do Trabalho (TRT/MS), como o atual presidente e corregedor Nery Sá e Silva de Azambuja, quem lhe indicara a receber a Comenda Ordem Guaicurus do TRT, destinada a personalidades que destacaram-se, de maneira significativa, na prestação de serviços à sociedade em geral, e, em especial, ao Judiciário Trabalhista do Estado de Mato Grosso do Sul.

A comenda, entregue mês passado, foi um reconhecimento sobre a tese de Wander apresentada há 12 anos, bastante repercutida na época. Equipes nacionais de televisão, até do Jornal Nacional, vieram a Dourados fazer reportagens sobre as causas trabalhistas ganhas por Wander. Os índios, naquele tempo, não tinham benefícios trabalhistas e ganhavam por produção. Wander conseguiu retroagir as ações que foram feitas de 1969 até 1999. Até então não era aceito fazer tal retroação por tanto tempo.

Tudo mudou

Respeitado na cidade na área trabalhista, Wander voltou à rotina normal de trabalho ao final de 2003, quando encerraram as causas indígenas. Como sempre se dedicou aos estudos, ao conhecimento, se preparou para concursos e, em 2004, foi aprovado como procurador regional das entidades públicas. Dois anos depois também foi aprovado em concurso para professor na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS).

A partir daí se dividiu entre professor, procurador autárquico e advogado. Os irmãos – Rafael, Vinícios e Fagner – também decidiram entrar na carreira jurídica e hoje, advogados, trabalham com Wander. “Juro que não influenciei nenhum deles a seguir essa carreira”, brinca, agradecendo a união e opoio dos irmãos no sucesso do escritório. Em 2009, Wander passou a atuar em conjunto com a advogada trabalhista Maria Bugosi, parceria até hoje.

A lanchonete “Café da manhã” na rodoviária continua em propriedade da família, mas nem Wander, nem os irmãos, tampouco a mãe precisam trabalhar no local. Tudo é mais moderno e funcionários cuidam do negócio.

Família

Maria do Carmo é a esposa de Wander. Se conheceram quando ele ainda cursava a faculdade. Foi amor à primeira vista. Já são 15 anos de casamento e da união do casal veio dois filhos: Felipe, com 14 anos, e Amanda, 8 anos.

Ela também entrou na área jurídica, é bacharel em direito e cuida de toda a parte administrativa do escritório. Falar sobre a esposa não é fácil para Wander, que muito se emociona. “Foi outro anjo que Deus colocou em minha vida. Sempre esteve comigo nas mais difíceis horas, sempre me apoiou, é meu porto seguro”, declara, agradecendo a ela a oportunidade de lhe dar os dois filhos.

Objetivos

Embora jovem, com 38 anos, Wander já é um advogado renomado em Dourados e no estado de Mato Grosso do Sul. Ao olhar para o seu passado, ele analisa o quanto foi difícil chegar até onde está. “Tive a honra, a oportunidade de ter o advogado Carlos Paiva em minha vida, quem devo muito por me oportunizar a ingressar no mercado de trabalho. Vejo que muitos advogados jovens, de hoje em dia, não têm essa sorte e encontram dificuldades. Quero ajudar esses profissionais”, diz ele.

Candidato à presidência da OAB seccional de Dourados, Wander reconhece que, assim como a sociedade em geral vive um momento de crise, a entidade local também não está distante dessa realidade. Com isso, se eleito, quer restabelecer prerrogativas, estreitar relacionamento com poderes constituídos, mostrar-se mais presente nas relações institucionais, retomar o diálogo com a sociedade, voltar a ser protagonista da história -como já ocorreu nos tempos da luta pelo resgate das liberdades democráticas. Ele tem como candidata a vice a advogada Gilvane Bezerra. As eleições ocorrem na sexta-feira, dia 20 de novembro.

Pai, marido, advogado, professor universitário, procurador regional das entidades públicas, ele enfrentou inúmeras adversidades da vida para investir na carreira profissional para lhe rendar mês passado o título de comendador.Foto: Flávio Verão

Familiares e amigos posam com orgulho em foto em noite que Wander foi agraciado como Comendador

Família é o que Wander tem de mais precioso. Na foto com a mulher Maria do Carmo e os filhos Felipe e Amanda

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