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quinta-feira, 28 de março de 2024

Indígenas têm aula embaixo de árvore por falta de salas

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01/10/2014 08h05 – Atualizado em 01/10/2014 08h05

Indígenas têm aula embaixo de árvore e reclamam de falta d´água

Reserva tem mais de 800 crianças fora da sala de aula por falta de escolas. Lideranças recorrem a Justiça para a construção de novas escolas.

fotos – Marcos Ribeiro

Valéria Araújo

Sem salas de aula, 60 alunos da Escola Indígena Tengatui Marangatu estudam embaixo de uma árvore, aos fundos do Posto da Fundação Nacional do Índio (Funai) na Aldeia Jaguapiru em Dourados.

Trata-se de duas salas do 9º ano que não encontraram espaço dentro da escola e a forma encontrada para que pudessem estudar foi destiná-los a um galpão improvisado, que não oferece estrutura básica para comportar uma sala de aula. Sem nenhuma ventilação, o local é abafado e faz com que os alunos não suportem o calor excessivo. Sem alternativa eles vão para debaixo da árvore onde os professores improvisam aula.

Além do calor, os alunos se deparam com a falta de água, banheiros e ainda disputam espaço com lagartas de árvore e morcegos que ficam instaladas em telhado sem forro. “Já aconteceu dos cadernos e livros dos alunos ficarem todos sujos com fezes e urinas de morcego”, destaca o professor.

O aluno Claudinei Bruno diz que a situação é desestimulante. “Todos os dias penso em desistir de estudar. A gente passa sede, vontade de ir ao banheiro e muito calor. Quando venta, a poeira entra toda no galpão que está com os vidros quebrados. Quando chove os problemas aumentam porque há muitas goteiras e molha tudo lá dentro”, lamenta.

A estudante Flávia Sepre Verá, de 15 anos, diz que é muito cansativo e perigoso para os alunos ficarem o tempo tudo atravessando a estrada para tomar água ou ir ao banheiro. “Gasta muito tempo e é perigoso estarmos fora do ambiente escolar, correndo o risco de atropelamentos e ações de criminosos”, destaca a aluna.

De acordo com Comissão Indígena de Professores, hoje a escola Tengatui Marangatu tem 970 alunos, um excesso de cerca de 400 estudantes. Atualmente são duas salas, mas até o ano passado 5 salas de aula funcionaram debaixo de árvores. “A direção da escola teve que espremer os alunos e fechar duas salas de aula. Também fechou cadastro para novas matrículas”, destaca o professor Maximino Rodrigues.

Segundo perfil socioeconômico de Dourados 2012, cerca de 30% dos alunos matriculado desistiram ou reprovaram e as lideranças acreditam que o motivo são as péssimas condições nas escolas municipais. A redação entrou em contato com a Assessoria da Prefeitura que ainda não retornou contato para eventuais esclarecimentos.

De acordo com relatório de professores indígenas a estimativa é de que 800 crianças estejam fora da escola por falta de vagas. De acordo com o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena, Fernando de Souza, venceu em 2012 um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) em que a Prefeitura de Dourados teria que construir 5 novas salas de aula. Em 2013 e 2014 nada avançou e as lideranças indígenas decidiram que não mais dialogar. “Agora o caminho será a Justiça porque é inadmissível que crianças sejam tratadas como estão nas escolas públicas”, destaca.

Para a liderança, todas as dificuldades são motivos de preocupação para as mães. “Hoje temos claro que a educação é o caminho para se conseguir uma vida mais digna. Vejo que quando os alunos não têm esta chance estão expostos a situações preocupantes como drogas e envolvimento em crimes. A educação está sendo negada aos alunos indígenas”, destaca.

Outro lado

A secretária de Educação de Dourados, Marinísia Mizoguch reconhece as superlotação dentro da Reserva, mas diz que desconhece o fato dos alunos estarem estudando embaixo de uma árvore. Ao O PROGRESSO ela diz que em recente reunião com a secretária estadual de educação Nilene Badeca conseguiu que ela cadastrasse mais uma escola para a aldeia de Dourados.

No entanto, para se tornar realidade, esta nova escola cadastrada precisará de investimentos federais. A secretária também diz que vão pedir ao Estado para que ceda 4 salas da escola Guateka para os alunos da Tengatui e verificar a possibilidade de novas escolas construídas pelo Estado em parceria com a Prefeitura. “A responsabilidade por estes alunos é do Município, Estado e União e temos que juntos dar uma solução para isto”, destaca.

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