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quinta-feira, 28 de março de 2024

Projeto para garantir acessibilidade aos deficientes fica no papel

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23/06/2014 07h59 – Atualizado em 23/06/2014 07h59

Valéria Araújo

Sem acessibilidade, o quarteirão do bairro Estrela Hori não cumpre o papel pelo qual foi projetado: garantir qualidade de vida aos deficientes. No local, nada funciona. Sem infraestrutura adequada, moradores, com dificuldade de locomoção, ficam praticamente isolados do resto da cidade. O conjunto foi entregue pela Prefeitura de Dourados, em outubro de 2003 e, segundo os moradores, as casas estavam no contrapiso e sem qualquer chance de acessibilidade. A estimativa é de que em Dourados mais de 30 mil pessoas tenha algum tipo de deficiência. Destes, mais de 700 são pacientes de múltiplas deficiências e não saem de casa.
De acordo com o presidente da Associação Alecrim Ronaldo Gomes, a criação do bairro foi um erro em todas as instâncias. “É uma verdadeira aberração e afronta à política pública de inclusão, o que fizeram. Os deficientes devem estar em todos os lugares e não num bairro afastado do resto da cidade. Isto é formar gueto, não é incluir”, destaca.

Ronaldo conta que já que foi criado, o poder público deve dar as condições de acessibilidade no bairro, o que não acontece. “O poder público precisa encontrar um programa federal, que reforme e garanta a adaptação necessária para os deficientes. Esta reforma não poderia ter custo para as famílias, já que elas não podem pagar e vivem de programas sociais”, destaca.

Ronaldo diz que uma lei municipal foi criada em 2012, em Dourados, mas ela nunca saiu do papel. “Na teoria, ela é perfeita, mas nunca funcionou. Para se ter ideia, nem mesmo os órgãos públicos de maneira geral não incentivam a inclusão. Um cadeirante que vai no Núcleo de Educação Especial, que cuida do aluno deficiente de Dourados não consegue ter acesso, porque esbarra com uma escada enorme a sua frente. Assim, acontece na Secretaria de Saúde, Assistência Social e tantas outros órgãos públicos”, destaca.

Para Ronaldo, que até outubro do ano passado exerceu a função de presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com deficiência, o melhor caminho para garantir estes diretos é a criação de uma secretaria ligada diretamente ao gabinete do prefeito ou à Secretaria de Governo. “A Pasta precisa ter autonomia e não depender de outras secretarias, já que a política voltada para o deficiente é muito específica. Hoje, o conselho é ligado à Secretaria de Assistência Social, que tem o compromisso de auxiliar os deficientes na inscrição de programas sociais, nada a mais”, conta.

CalvárioAs famílias e os pacientes deficientes moradoras no Estrela Hori de Dourados enfrentam verdadeiro “calvário” para sair de casa. Não há asfalto, calcadas, rede de esgoto, rampas de acesso e nem as casas são adaptadas.

A dona de casa Maria Lindauva do Nascimento dedica a vida para cuidar do filho de 24 anos, deficiente físico e mental. Ela arrasta a cadeira de rodas do filho por cinco quadras. Enfrenta buraco, pedras e a terra da rua sem asfalto. “Eu tenho que ir arrastando meu filho, até chegar no ponto de ônibus mais perto. Faço isso ao menos três vezes na semana para levá-lo ao médico. Para pegar a circular das 6h30, saio de casa às 5h30. Quando entro no coletivo, sou, muitas vezes, insultada pelos outros passageiros, que reclamam do espaço e do tempo que se perde para colocar meu filho dentro da circular. Esta é a minha rotina. Arrastar meu filho de um lado para outro na busca de salvar a vida dele”, lamenta.

A dona de casa Hortência Camargo Correia tem dois filhos deficientes físicos. “Quando chove, meus meninos não vão para a pestalozi. Não dá para sair do bairro e nenhum ônibus entra aqui. Ficamos totalmente isolados do resto do mundo”, destaca.

A dona Noceni Alves dos Santos é deficiente física. Ela diz que outra dificuldade é a assistência à Saúde. “Nós não temos posto de Saúde no bairro e, por isso, somos atendidos na unidade do Maracanã. As consultas e os exames demoram meses, isto quando se consegue marcar. Nos sentimos esquecidos pelo poder público, já que ninguém aparece para nos ajudar”, destaca.

Segundo ela, a falta de calçadas e asfalto impede que os cadeirantes possam ir e vir. “Quem utiliza a cadeira, fica preso em casa, pois com ruas intransitáveis, é impossível andar de cadeira de rodas. Quando chove a situação é ainda pior”, revela.

Israel Marinho da Silva não mora mais no bairro, mas contou, recentemente, ao Dourados Agora, o que enfrentava. Ele é cadeirante. “As residências projetadas para dar acesso também apresentam problemas. Espaços pequenos impedem que cadeirantes possam se locomover dentro de casa. Somente as portas maiores estão regulares. O sofá, por exemplo, fica na varanda, porque, se for colocado na sala, eu não entrava com a cadeira. A família do cadeirante que não têm deficiência é obrigada a ficar do lado de fora da casa”, descreveu a situação.

Outra preocupação é que o quarteirão do bairro abriga pessoas com diferentes deficiências. “Frequentemente, pessoas com problemas mentais se descontrolam. Já aconteceu de cadeirantes serem agredidos por conta disso. Não tem nem como se defender, porque o cadeirante, ou que usa muletas, por exemplo, acaba se tornando frágil em algumas situações”, avaliou.

Maria Lindauva arrasta a cadeira do filho por cinco quarteirões até chegar no ponto de ônibus mais próximoFoto: Hedio Fazan

Dona Noceni Alves dos Santos diz que outra dificuldade é a assistência à saúde

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