06/03/2012 07h10 – Atualizado em 06/03/2012 07h10
Trânsito lento atrasa os ônibus e obriga usuários do transporte coletivo a esperar até 2 horas no ponto
Flávio Verão
O atraso dos ônibus em Dourados vem tirando a paciência de quem depende do transporte coletivo. Ficar mais de uma hora no ponto tornou-se rotina em diferentes linhas de bairros da cidade. Investimentos em novas linhas vêm sendo feitos, porém a falta de planejamento no trânsito tem contribuído para atrasar os ônibus, que competem por espaço com carros, bicicletas e pedestres.
A doméstica Fátima Souza de Oliveira diz que o problema é crônico. “Eu já cansei de chegar no trabalho atrasada. Minha patroa já sabe que quando eu chego meia hora, 45 minutos mais tarde é por causa do ônibus”, disse. “Ainda bem que ela [patroa] entende; e as outras pessoas que não podem atrasar, como que fica?”, indagou a doméstica.
Todos os dias Fátima utiliza a linha ‘Colibri’ que, segundo ela, sempre atrasa. Na manhã de ontem, o coletivo demorou 40 minutos. Era para passar às 7h10, mas pegou os passageiros às 7h50. “O pior é aos finais de semana. No sábado chego a ficar quase duas horas no terminal do transbordo para pegar o ônibus. É uma tortura”, desabafa.
A auxiliar de serviços gerais Maria Aparecida Mendes, moradora no BNH 4º Plano, se queixa da mesma situação. “Não há um horário definido para passar o ônibus. Para não perder o transporte eu saio cerca de 20 minutos antes do informado por eles, porque sempre acontece do coletivo passar tanto adiantado como atrasado”, disse ela.
Na Medianeira Transportes, empresa responsável pelo serviço na cidade, ajustes são feitos com frequência e novas linhas vêm sendo colocadas para atender à população. Acontece que o trânsito da cidade passa por reforma, o que emperra o fluxo de veículos e consequentemente atrasa os ônibus. Obra na rede de saneamento, realizada na Avenida Weimar Torres, sub esquina com Nelson de Araújo, é outro entrave.
“A maioria dos coletivos passam por ali. E como é uma avenida movimentada o trânsito se torna lento. Fora dali, a região central, num todo, está se tornando congestionada, o que faz atrasar os coletivos”, afirma Marcelo Soccol, gerente da Medianeira.
Por dia, 56 ônibus circulam pela cidade de Dourados e transportam uma média de 15 a 20 mil pessoas. Em 2004 eram 35 coletivos. “Estamos ampliando a frota conforme a cidade cresce; da mesma forma estão sendo introduzidos mais horários, ou seja, estamos fazendo de tudo para tornar viável o transporte”, justifica Marcelo. Acontece que a quantidade de passageiros poderia ser maior se a engenharia de trânsito fosse favorável ao transporte público, se o trânsito fosse feito e pensado para a população e não para os carros.
O arquiteto e urbanista Luiz Carlos Ribeiro diz que o transporte público em Dourados “é mal feito, mal planejado e mal operado”. Segundo ele, de nada adianta ampliar a frota de ônibus ou trocá-los por veículos novos se não mudar a sistemática do trânsito. “O maior problema está no trânsito, que a cada dia torna-se congestionado. Ônibus tem que ter prioridade, mas não é isso que vemos em Dourados e na maioria das cidades brasileiras”, pontuou.
Luiz Carlos já chegou a elaborar um projeto urbanístico para o município, envolvendo todos os usuários de trânsito. O problema é que para ser executado mexeria com o comércio em geral, “coisa que administrador nenhum terá a audácia de colocar em prática”.
“Na Marcelino Pires, por exemplo, deveria diminuir o canteiro central e colocar duas canaletas, ida e volta, para o ônibus, de ponta a ponta da avenida”, diz o especialista. Essa mesma sistemática deveria ser adotada em vias mais largas dos bairros da cidade, para interligar até o centro. A proposta tornaria o transporte ágil e prático.
Há 30 anos em Dourados, Luiz Carlos diz que nunca viu uma administração discutir o urbanismo da cidade. “Já temos cerca de 200 mil habitantes e esse transporte público que vemos aí é amador. A cidade não comporta mais os coletivos andando em meio a carros no centro da cidade e parando vagarosamente de quadra em quadra para pegar passageiros, nas calçadas. Essa sistemática é ultrapassada, tem que mudar”, ressalta o especialista, acrescentando que o terminal de transbordo utilizado na cidade é também ultrapassado.
No ano passado a prefeitura de Dourados criou a Agência de Trânsito, com a finalidade de criar projetos para melhorar o trânsito da cidade. Está em andamento um estudo sobre o transporte público, mas não há prazo de quando ele será terminado, bem como se será colocado em prática.
