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quinta-feira, 28 de março de 2024

Uma crônica de amor e esperança: por Dourados – de Biasotto

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20/12/2014 07h43

Uma crônica de amor e esperança: por Dourados

Wilson Valentim Biasotto*

Quando cheguei, em 1974, ela tinha apenas 39 anos, uma cidade menina, experimentando o seu segundo surto de desenvolvimento. O primeiro fora com a implantação da Colônia Nacional Agrícola. Uma semana antes de minha chegada, outro professor viera trazendo esposa e filho no carro, seguido pelo caminhão da mudança. Passaram apenas uma noite na cidade, não permitiram que a mudança fosse descarregada. Não viveriam nesse fim de mundo.

Os pessimistas normalmente perdem em suas avaliações. Alguns dias após eu ter chegado, escrevi aos meus pais uma carta, que eles guardaram carinhosamente, na qual lhes dizia: “A cidade é uma dessas cidades que estão começando a progredir, tem mais ou menos uns quarenta mil habitantes, é cheia de progresso, no entretanto só possui uma avenida asfaltada, isso que é um desgosto, assim mesmo essa avenida está repleta de buracos no asfalto. Por falar em ruas, as ruas são todas largas avenidas, quando estiverem devidamente asfaltadas será muito bacana”.

Existem algumas coincidências na vida da gente que são regidas pelo acaso. Em 1973, eu havia feito um curso de especialização em História do Brasil em Ribeirão Preto. Ribeirão, àquela época, era considerada a Califórnia brasileira e, por analogia, eu considerava Dourados a Ribeirão Preto do Centro-Oeste. Ribeirão era um grande centro universitário, e daí a ideia de transformar o CEUD (então campus da UFMS), em UFGD.

Daquela família pessimista que se recusou a descarregar a mudança não sei a história, mas eu, particularmente, dificilmente teria encontrado outro recanto tão próspero, acolhedor, uma Canaã para migrantes de todas as partes do Brasil que chegavam para o plantio da soja e do trigo, para as edificações, para exercerem suas respectivas profissões de advogados, médicos, dentistas, professores e tantas outras que o crescimento da cidade exigia. Chegavam para constituírem as suas famílias e, como eram bem recebidos, passavam a receber bem. Por isso Dourados tornou-se essa cidade de todos os povos, todas as crenças, todas as músicas e de todos os sabores.

Devido a suas terras férteis, sonhou-se com a abertura de um curso de Agronomia para sustentar o desenvolvimento agrícola. Wlademiro do Amaral doou uma quadra inteira (atual reitoria da UFGD) para a construção da sonhada faculdade, mas ao invés de Agronomia (só concretizada em 1978), foram implantados em 1971 os cursos de Letras e Estudos Sociais. Foi o primeiro passo para a transformação de Dourados em Cidade Universitária. Em 1976, Luiz Carlos, Ivo Cerzósimo e Murilo Zauith criaram a Socigran (hoje UNIGRAN). Em 20 de dezembro de 1993, por força constitucional (emenda do deputado Walter Carneiro em 1979), foi instituída a UEMS, implantada em 1994, dentro do Campus do CEUD, pois a proposta àquela época era transformar CEUD e UEMS em UFGD. No entanto, com a luta de professores, alunos e comunidade, a UEMS conquistou uma identidade forte, e então formulou-se o projeto Cidade Universitária (CEUD e UEMS somando-se, inclusive para a criação da UFGD). Para completar o complexo universitário de Dourados, em 2003 foi implantada a UNIDERP, hoje

ANHANGUERA.

Claro que uma cidade se constrói com o trabalho de todos os seus moradores, trabalho esse, diga-se de passagem, muitas vezes desconstruído por maus ou incompetentes políticos e por elementos com formação moral discutível, vândalos que só destroem: com pedras ou palavras, faladas ou escritas. Dourados suporta, segue em frente e, a meu ver, sem desmerecer as demais universidades, com a implantação da UFGD em 2005, estamos vivenciando o terceiro surto de desenvolvimento.

A nossa Federal não caiu do céu. Sua concretização deu-se pelo encontro da luta de alguns visionários (que desde o início dos anos de 1980 trabalharam para esse propósito) com a política do governo Lula de expandir o ensino público superior brasileiro.

Tão grande se tornou a UFGD que ouso dizer que nem mesmo todos os funcionários da instituição a conhecem. São 85 mil metros quadrados de construção aos quais se somam 12 mil metros quadrados do HU. Quando implantada em 2005 tinha 99 docentes efetivos e 66 técnicos administrativos, hoje são 462 professores, a maioria doutores com dedicação exclusiva, 863 técnicos e mais 1100 funcionários no HU.

Os cursos oferecidos, abrigando 7 mil alunos, passaram de 12 para 34 de graduação presenciais e mais 5 à distância. De dois programas de mestrado, em apenas nove anos de sua existência passou para 18 e, de nenhum, para 8 doutorados.

Impressiona também o orçamento da nossa Federal. São mais de 225 milhões (sendo que desse total 76 milhões são destinados ao HU). Para se ter um parâmetro para comparações, os recursos próprios da Prefeitura de Dourados para a Saúde foram de pouco mais de 54 milhões e o orçamento empenhado em 2013 chegou à casa dos 575 milhões.

Os números são importantes, mas o mais significativo é que eles estão se transformando em desenvolvimento e em massa crítica que colocará Dourados e região no rol das cidades com elevado Índice de Desenvolvimento Humano.

suas críticas são bem vindas: [email protected]
•Membro da Academia Douradense de Letras; aposentou-se como professor titular pelo CEUD/UFMS, onde, além do magistério e desenvolvimento de projetos de pesquisas, ocupou cargos de chefia e direção.

Professor Wilson Valentin Biasotto

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