16/05/2015 07h15 – Atualizado em 16/05/2015 07h15
A banda Paralamas do Sucesso é a grande atração deste sábado a partir das 23h30, na Exposição Agropecuária e Industrial de Dourados. A história de uma grande banda costuma ter o espírito da sua época. Ao mesmo tempo em que conta algo que só estava no ar, ajuda a ter mais clareza do escondido nas entrelinhas do cotidiano. Se uns meninos que começaram a fazer rock no Brasil na década de 80 entraram na música brasileira pra sempre, os Paralamas do Sucesso estão entre os culpados. E estão soltos por aí pra contar a história.
Em entrevistas, em conversas ao vivo ou em qualquer oportunidade que houvesse lá no começo, os Paralamas falavam dos amigos de Brasília e dos moleques que também tinham banda pelo Brasil. Da primeira entrevista na Rádio Fluminense até o palco do Rock in Rio, eles passaram de anônimos a promessa. Vital e sua moto se transformou em um dos primeiros hits daquela geração e lhes rendeu o convite para gravar um disco. E a turma foi junto, afinal estava lá uma música de Renato Russo. Outros punks e new wavers entraram no circuito até então dominado por cariocas e ajudaram a ampliar fronteiras.
Aliás, já que se falou em Rock in Rio, também tinham sido os Paralamas a puxar a curiosidade para as bandas nacionais do maior evento que o show business brasileiro já tinha vivido. Dali pra frente, os palcos melhoraram, as turnês cresceram, as rádios deram espaço e a TV se abriu a toda uma nova cultura jovem.
Havia um novo país nascendo dos escombros da ditadura, que queria a própria trilha sonora. Depois do bom lançamento de “Cinema Mudo”, da série de hits e sucessos que vieram a reboque de “O Passo do Lui” e da apresentação histórica no Rock In Rio, veio “Selvagem?”. E aí, o patamar subiu sério. Turnês pela América Latina e pelos Estados Unidos fizeram dos Paralamas a primeira banda brasileira reconhecida internacionalmente. E nessa, eles foram parar no tradicionalíssimo Festival de Montreux. Dessa apresentação, tiraram o disco “D” – o primeiro de uma série de ao vivos.
E veio “Bora-Bora”. Abriu-se outro caminho sem volta: mudaram ainda mais a linguagem pop brasileira e oficializaram o naipe de metais. Além disso, radicalizaram de vez na fusão com sons afro-caribenhos. Os arranjos mudaram, as dinâmicas de palco também e, de quebra, eles ainda ofereciam a primeira leva de canções de dor-de-cotovelo, ressentimento e mágoas de amor. Os cacos de um coração estilhaçado afiavam a pena de Herbert e o tornavam um compositor para se levar a sério.
“Big Bang” veio na sequência para tentar explodir o que havia em volta. Herbert seguia remoendo dores amorosas e ainda aproveitava para cantar o jeito brasileiro – não necessariamente o jeitinho – de sobreviver em tempos desleais.
Virada a década de 80, a desilusão chegou ao talo em “Os grãos”. O país – apesar de collorido – estava sem cor, como a capa do disco. Depois de seis álbuns lançados em oito anos de carreira, viria a ânsia de se renovar e se expor ao risco, como tinham feito Beatles, Stones, Beach Boys e todas as outras bandas que se tornaram maiores que a vida. Na sequência, veio “Severino”, ainda mais duro e abstrato. Novos experimentos eletrônicos. Rock cru.
A Argentina tinha abraçado os caras e, como resposta a nós mesmos, eles apontavam para um certo sertanismo: seco como a caatinga, frio como a Inglaterra onde foi mixado. Tom Zé e Brian May. Linton Kwesi Johnson e Cabral de Melo Neto. Poucos ouviram o disco, mas os shows lotaram.Foi da força vital de tocar ao vivo que os Paralamas se reconstruíram. Quando o Brasil começava a abrir espaço para novos grupos, de uma nova geração, chegou o segundo disco de show, “Vamo Batê Lata”.
Quase um milhão de discos vendidos depois, eles estavam de volta para capitanear a nau renovada do rock nacional. Novos garotos e garotas eram apresentados a um repertório que tinha estourado quando eles ainda estavam nascendo.
Tocaram Raimundos e Chico Science. Tocaram com o Skank e com o Pato Fu. E mais uma vez eram os caras que apresentavam os novos ares da música pop brasileira. Olhando pra frente, lançaram junto ao disco do show um EP de quatro faixas inéditas.