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terça-feira, 19 de março de 2024

41 mil toneladas de alimentos por dia vão para o lixo no Brasil

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41 mil toneladas de alimentos por dia vão para o lixo no Brasil, alerta nutricionista

Sociedade Nacional de Agricultura – 21/10/2016 18h00

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), no Dia Mundial da Alimentação, 16 de outubro, traçou perspectivas para 2050 e uma das principais prevê que o número de habitantes em todo o planeta deve superar a marca dos 9 bilhões, nos próximos 34 anos. Para abastecer tanta gente, a produção mundial de alimentos teria de aumentar em 60% para garantir o equilíbrio da segurança alimentar.

Hoje, cerca de 3% da população no Brasil vive em situação de vulnerabilidade alimentar, conforme relatório do órgão internacional, embora o País tenha saído do mapa da fome em 2014.

Ainda assim são pessoas que passam por necessidades e que não precisariam conviver com este tipo de situação se não houvesse tanto desperdício aqui e lá fora.

“Anualmente, um terço dos alimentos produzidos no planeta vai para o lixo, o que equivale a 1,3 bilhão de toneladas por ano.

De acordo com Robert van Otterdijk, especialista em agricultura da FAO, com apenas um quarto deste total é possível alimentar os mais de 800 milhões de famintos”, relata a nutricionista Camila Mendes Kneip, que trabalha na Organização Não-Governamental (ONG) Banco de Alimentos.

Ela ainda informa que, segundo estimativa do Instituto Akatu 2016, com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), 41 mil toneladas de alimentos são desperdiçadas no Brasil por dia.

“Isto daria para alimentar 25 milhões de pessoas, também por dia, ou seja, 13% da população do País, um número quase comparável à soma da população das regiões metropolitanas de São Paulo (20 milhões) e do Rio de Janeiro (12 milhões)”, ressalta Camila, em entrevista à equipe SNA/RJ.

Na cadeia alimentar, que passa pelos produtores rurais, transportadoras, comerciantes e consumidores, “somos todos responsáveis pelo desperdício dos alimentos”.

“Infelizmente, existe uma cultura de consumo exagerado, muitas vezes, baseada no conceito de que “é melhor sobrar do que faltar”, o que corrobora para o aumento dos números relativos ao desperdício”, avalia a nutricionista.

PARTES NÃO CONVENCIONAIS

Ela também salienta que existe o problema do preconceito com as partes não convencionais dos alimentos (cascas, entrecascas, folhas, talos e sementes), que são, normalmente, descartadas, sem que as pessoas associem este descarte como um desperdício. “Atualmente, a maior perda vem de hortifrútis, com 45% da produção sendo descartada.”

Na opinião de Camila, hoje ainda existe um grande preconceito com os alimentos “feios”. “Por falta de informação, a população acaba desprezando frutas, legumes e folhas que estão em perfeito estado para consumo, mas não são tão “bonitos” quanto outros. Esse pensamento acaba afetando não só os alimentos que compramos, mas toda a rede de produção.”

De acordo com a nutricionista da ONG Banco de Alimentos, os produtores seguem padrões impostos pelo varejo que, por sua vez, seguem padrões dos consumidores. “Desta forma, mesmo antes de chegar à mesa, o alimento pode ser desperdiçado.”

Na visão de Camila, deveria ocorrer uma mudança de cultura para o futuro do Brasil, especialmente, com as crianças, que serão as grandes transformadoras de uma sociedade justa e sustentável.

“Enquanto isto não acontece, cada um pode fazer sua parte no dia a dia, aprendendo que utilizar as partes não convencionais dos alimentos e comprar os “frutos feios” pode ajudar na economia da casa e na redução do desperdício.”

Conforme a nutricionista, o produtor rural precisa aliar técnicas e tecnologias, de modo a não perder o alimento na produção; o comerciante e os produtores devem usar armazenamentos e transportes adequados para cada tipo de alimento, evitando seu desperdício.

O comerciante de varejo também pode adequar os pedidos de compra com a média de venda e realizar doação de alimentos excedentes de comercialização ou produção.”

Para auxiliar os consumidores, Camila dá algumas dicas para economizar e combater o desperdício do momento da compra até o preparo.

COMPRAR BEM

É necessário planejar as compras; o ato de fazer listas e cardápios pode ajudar muito neste processo. Evite compras grandes, fuja das promoções em atacado para não comprar mais do que precisa e acabar jogando o alimento fora.

Evite excessos! E prefira os alimentos da época, pois possuem melhor qualidade (maior durabilidade, maior teor nutricional e menor quantidade de defensivos agrícolas), além de apresentarem preços mais acessíveis.

CONSERVAR BEM

Armazene os alimentos em locais limpos e em temperaturas adequadas para cada tipo de alimento. Ao armazenar as partes não convencionais dos alimentos para serem utilizadas em preparações futuras, siga uma destas opções: conserve-as em saquinhos separados e fechados em geladeira, devendo ser utilizadas em até 48 horas – ou embrulhe-as em porções pequenas separadamente em fita-filme, etiquete-as (com o nome do alimento e a data) para que possam ser distinguidas futuramente e congele-as, podendo ser utilizadas no período de até um mês de conservação.

HIGIENIZAR BEM

Todas as frutas, verduras, legumes, cascas, entrecascas, talos, sementes e folhas devem ser lavados, um a um, em água corrente – somente depois devem ser higienizados em solução de hipoclorito de sódio (seguindo instruções de uso na rotulagem).

PREPARAR BEM

No momento do preparo seja criativo! Não jogue fora as partes não convencionais, utilize-as na própria receita ou em outras.

Prepare apenas a quantidade necessária para as refeições da família. Faça uma média da quantidade de porções por pessoa. E, caso haja sobras, armazene-as em geladeira para utilizar em outras refeições.

DOAÇÃO DE COMIDA NÃO COMERCIALIZADA

O desperdício de comida também é visível em bares e restaurantes. Infelizmente, segundo Camila, não existem leis que tratem de doação de alimentos no Brasil.

Ela cita alguns projetos encaminhados, tais como o Estatuto do Bom Samaritano e o PL nº 3070/15. A portaria da Anvisa 2619/11 e a RDC 216 tratam do preparo dos alimentos em unidades de alimentação e defendem que as sobras devem ser descartadas.

“O Código de Defesa do Consumidor, por sua vez, não explicita diretamente sobre a doação, mas pode ser utilizado para responsabilizar o produtor em caso de dano ao consumidor.”

De acordo com a nutricionista, a ONG Banco de Alimentos participou do processo de criação do Estatuto do Bom Samaritano: “Acreditamos que seja de grande valia para a diminuição do desperdício e aumento da doação de alimentos no País. O projeto de lei não foi aprovado e, provavelmente, muito disto se deve às barreiras das normas de higiene e manipulação da vigilância sanitária”.

Hoje em dia, continua Camila, “participamos de discussões em conjunto com o MDSA (Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário) para que esse projeto seja revisto, reescrito e haja uma nova proposta de lei que trate da doação de alimentos e possa melhorar o quadro dando maior garantia aos doadores”.

ONG BANCO DE ALIMENTOS

Sobre a ONG Banco de Alimentos, Camila informa se tratar de uma associação civil que trabalha para minimizar os efeitos da fome e combater o desperdício de alimentos.

“Nossa proposta central é permitir que um número maior de pessoas tenha acesso a alimentos básicos e de qualidade, e em quantidade suficiente para uma alimentação saudável e equilibrada.”

Fundada em 1998, a partir da iniciativa civil e pioneira da economista Luciana Quintão, a associação arrecadou – de janeiro de 1999 a julho de 2016 – mais de seis mil toneladas de alimentos, evitando um grande desperdício.

“Trabalhamos com doação de alimentos in natura, industrializados, refrigerados e congelados e não perecíveis; para isso, temos um veículo vedado e refrigerado que faz transporte exclusivo de alimentos para doação.

A ONG assume a responsabilidade do transporte desses alimentos, assim que saem do doador até a entrega na instituição – que se responsabiliza pelo preparo dos mesmos.”

Conforme a nutricionista, os doadores são supermercados, hortifrútis, empresas e indústrias produtoras de alimentos, padarias, produtores rurais, pessoas físicas, entre outros: “Em geral não recebemos doações de restaurantes por não poder receber alimentos prontos, porém, em caso de excesso de estoque – alimentos industrializados em embalagens fechadas próximos ao vencimento que não serão utilizados – restaurantes também podem doar”.

A ONG Banco de Alimentos também é uma das pioneiras no conceito de colheita urbana, um sistema eficaz pelo qual os alimentos fornecidos por empresas doadoras são destinados a 42 instituições cadastradas no projeto.

“É uma das nossas principais frentes de trabalho. A ONG busca onde sobra e entrega onde falta, recolhendo excedentes de comercialização próprios para o consumo – alimentos que teriam o lixo como destino.

Evitando, dessa forma, que toneladas de alimentos sejam desperdiçados e colaborando com a alimentação de 22 mil pessoas diariamente”, relata Camila.

COMO DOAR

Maneira fácil e rápida de colaborar com a ONG Banco de Alimentos, que costuma firmar uma parceria com estabelecimentos e consumidores interessados em doar a Nota Fiscal Paulista.

Outra forma de colaborar é fazendo uma colaboração em dinheiro: “Com uma doação de nove reais por mês, o cidadão ajuda o Banco de Alimentos a alimentar uma pessoa, mensalmente, com as três refeições diárias”.

As doações são feitas com cartão de crédito – via sistema de pagamento online PayPal – e também por boleto bancário (quantia mínima de 18 reais). Para aqueles que querem ajudar com outro valor, é possível doar múltiplos de nove.

Um terço dos alimentos produzidos no planeta vai para o lixo, o que equivale a 1,3 bilhão de toneladas por ano. Com apenas um quarto deste total é possível alimentar os mais de 800 milhões de famintos no mundo. Foto: Divulgação

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