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sexta-feira, 29 de março de 2024

Na hora do adeus – Julio capilé

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Julio capilé*

Toda partida é dolorosa. É mais sentida pelos que ficam. Os que vão têm a companhia da curiosidade e, dessa forma, vão se distraindo e mais ou menos disfarçando a saudade. Para os que ficaram as lembranças são mais freqüentes. A todo instante vem a recordação das maneiras ou manias, dos atos realizados e assim de pensamento em pensamento a pessoa ausente não deixa seu antigo espaço. Se a ausência for por longo tempo, nos primeiros dias há como que uma desestruturação que demora a ser adaptada pelos que ficaram. Até mesmo coisas que o ausente deixou por orientar, em sua ausência fazem falta. “Quem parte deixa saudades”.

Se a ausência prolongada for para uma viagem ao exterior há sempre a preocupação de como a pessoa querida vai se haver com a língua e os costumes do país em que vai residir. Para isso é feita previsão cuidadosa. Mas sempre esquece de alguma coisa.

A hora do adeus mais dolorosa é quando a pessoa querida deixa para sempre o convívio da família, isto é, quando desencarna. Todos nós não temos idéia de quando partiremos para o Oriente Eterno e, assim, ninguém está preparado para deixar tudo arrumadinho quando se ausentar. Mesmo as pessoas gravemente doentes não pensam com lógica o que sua ausência causará para os que ficam. As mortes súbitas nem se fala. Há um desarranjo total no seio da família. E, se o espírito desencarnante é muito preocupado com os bens terrenos, também terá problema no plano espiritual. Às vezes uma bobagem como: “esqueci de ensinar o segredo do cofre”, “por que não passei a casa para os filhos para evitar o problema de inventário?” perturbará por certo tempo. A família que fica sente um vazio, um desconforto indescritível. Tem a sensação de que foi mentira. “Mas ontem estava tão bem”! E ficam as inquietações do “porque eu não lhe disse mais vezes do meu amor?” “Porque não fui melhor esses anos todos?” Porque não expressei mais minha amizade? E assim por diante. Fica um amontoado de culpas pequeninas, mas que com a ausência permanente ficam a martelar o pensamento.

No velório há como que uma reunião festiva. Pessoas não vistas há muito tempo aproveitam para tirar o atraso dos encontros. Fica um ambiente turbulento com todos falando ao mesmo tempo. É uma falta de respeito. O certo é a pessoa ficar calada em prece, se souber, ou com bons pensamentos. Lembrar das horas felizes que passou com o desencarnado, das boas ações que ele realizou, das qualidades positivas da pessoa que parte. Aquele é o dia mais importante para aquele espírito. Ele está nascendo no mundo espiritual. Ainda está confuso. Nem sabe se desencarnou ou não. Pode julgar-se “vivo”. Vivo ele está, mas em outra dimensão, pois a vida não acaba, é eterna na carne ou fora dela. Mas o corpo está ali. Foi o repositório de uma vida de lutas, de sonhos e de realizações. Merece respeito e, como tal, devemos permanecer ante ele.

Segundo espíritos esclarecidos que desencarnaram, assistiram ao seu funeral e viram e ouviram as pessoas, muitos ficaram decepcionados com os chistes durante a vigília, com as lembranças desairosas a seu respeito e até com maledicência. Isso perturba o viajante que segue para um rumo que lhe é desconhecido. Todo espírito ao desencarnar tem essa perturbação, a não ser que seja altamente categorizado por sua vida de caridade e trabalho. Essa categoria varia infinitamente, mas todos merecem respeito e consideração. Funeral não é lazer. É um momento de contrição e orações.*Médico. Escreve às 4ªs feiras no O Progresso. < julio.capile @apis.com.br >

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