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quinta-feira, 25 de abril de 2024

Estudo dissocia sintoma de doença cardíaca de psiquiátrica

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Um dos mais comuns equívocos no diagnóstico de pessoas que procuram atendimento médico com palpitações, taquicardia e falta de ar, características de transtornos de pânico e de outros distúrbios de ansiedade, é o de associar esses sintomas ao Prolapso de Válvula Mitral (PVM), uma anormalidade cardíaca.

O resultado de uma pesquisa de mais de cinco anos na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP e publicada no início do mês no British Journal of Psychiatry pelos professores José Alexandre de Souza Crippa e Benedito Carlos Maciel, não encontrou qualquer associação entres essas condições.

Para esse resultado os pesquisadores usaram técnicas mais modernas de avaliação cardiológica e de diagnóstico psiquiátrico.

Eles analisaram 232 pessoas, sendo 41 com transtorno do pânico, 89 com fobia social e 102 controles saudáveis.

“A importância deste resultado é que, ainda hoje, é bastante comum o atendimento de pacientes com transtorno de pânico ou fobia social que passaram previamente por avaliação cardiológica e foram diagnosticados com PVM”, diz o professor Crippa, do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento.

O professor explica que, se for feita uma avaliação cardiológica mais minuciosa nas pessoas que procuram os consultórios, com sintomas de transtorno do pânico ou fobia social, é provável que parte desses sujeitos não tenha o diagnóstico de PVM.

“Mas só os sintomas já são o suficiente para validar de forma errônea o medo do paciente de ter um problema cardíaco.

Isso pode retardar o diagnóstico e o tratamento do transtorno de ansiedade e aumentar a dificuldade do paciente em aceitar que tem um distúrbio psiquiátrico tratável”, avalia Crippa.

O professor diz, ainda, que há mais de 30 anos essa associação vem sendo feita e que, hoje, é difícil encontrar livros textos tanto de cardiologia como de psiquiatria que não mencionam o fato.

“Mas os resultados publicados até aqui eram insuficientes para estabelecer ou excluir essa associação.”

Em mais de 40 estudos que avaliaram a anormalidade cardíaca com os transtornos, diz Crippa, nenhum usou critérios atuais mundialmente aceitos para o diagnóstico de PVM e, entre outros problemas, as amostras tinham pacientes em uso de medicação ou com outras doenças, além de serem pequenos os números de pacientes estudados.

Retardar o tratamento de transtornos de pânico ou de outros distúrbios de ansiedade pode levar à progressão da doença, explica o professor.

Ainda, segundo Crippa, pode haver aumento na frequência dos ataques/crises, das limitações na vida da pessoa, além do desenvolvimento de comorbidades psiquiátricas como depressão e abuso de álcool e drogas, perdas financeiras e dificuldade de manter laços afetivos, vergonha e estigma entre outras.

Prolapso da Válvula Mitral

PVM é a alteração mais frequente que acontece com o coração, sendo que a palavra prolapso significa um deslizamento ou deslocamento de parte de um corpo em relação à sua posição usual.

“Na maioria das pessoas a causa é desconhecida, mas em alguns casos parece ser geneticamente determinada por uma alteração do tecido conjuntivo. Uma redução na produção do colágeno tipo III é outro fator identificado.”

O professor diz que muitos pacientes são totalmente assintomáticos do prolapso da válvula mitral enquanto outros podem apresentar inúmeros sintomas. As queixas mais comuns são as palpitações e a síncope, devidas a distúrbios do ritmo cardíaco, falta de ar e fadiga, sendo esta última a mais comum.

“A dor torácica é diferente da apresentada em outra doença coronariana, pois raramente ocorre durante ou após o exercício e não responde ao uso de nitratos. Possui curso geralmente benigno e sem sintomas.

Quando sintomático é controlado pelo uso de medicamentos e, nos casos mais graves, por cirurgia valvular; cada vez mais precoce hoje em dia, é indicada evitando-se assim as complicações.

Os pacientes identificados como portadores de PVM devem ser monitorados regularmente por um médico”, conclui.

A pesquisa teve financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Além dos professores Maciel e Crippa, participaram do estudo os pesquisadores Antonio Waldo Zuardi, também da FMRP, os doutores Alaor Santos Filho, Maria C. Freitas-Ferrari, Minna M. D. Romano, os alunos de pós-graduação Clarissa Trzesniak, Thiago F. Lascala, e os professores Antonio E. Nardi, da UFRJ; Rocío Martín-Santos, da Universidade de Barcelona.

(Serviço de Comunicação Social da Coordenadoria do Campus da USP de Ribeirão Preto)

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