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sábado, 20 de abril de 2024

Estudo mapeia principais causas de afastamento do trabalho

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Trabalhadores de usinas de tratamento de esgoto são os que mais sofrem de doenças, seguidos por agentes do PSF e profissionais da mídia .

Pesquisa inédita da Universidade de Brasília mapeou as principais doenças que causam afastamento do trabalho no Brasil.

Em 2008, 4% dos 32,5 milhões de trabalhadores brasileiros receberam o auxílio-doença – benefício concedido pelo Ministério da Previdência Social a quem recebe atestado médico por mais de 15 dias consecutivos.

Os principais motivos estão ligados a lesões, como fraturas de pernas, punhos e braços; doenças oesteomusculares, como dores na coluna; e doenças mentais, como depressão, alcoolismo e esquizofrenia. O custo aos cofres públicos foi de R$ 669 milhões.

Anadergh Barbosa-Branco, autora da pesquisa e especialista em Medicina de Trabalho, pesquisou 82 ramos de atividades e descobriu que as áreas de trabalho mais recorrentes em auxilio-doença são as seguintes: usinas de tratamento de esgoto, Programa Saúde da Família e rádio e televisão.

Os trabalhadores de usinas de esgoto estão em primeiro lugar.

De cada 10 mil, 2.396 receberam atestado médico por mais de 15 dias.

Eles também são os primeiros colocados nos três principais motivos de afastamento: lesões, doenças osteomusculares e doenças mentais.

“Precisamos entender melhor por que esses profissionais aparecem sempre em primeiro lugar.

Temos uma hipótese que está relacionada à situação de economia mista. Embora sejam celetistas, vivem como estatutários”, opina Anadergh.

Ela acredita que a mesma razão se aplique aos agentes do Programa Saúde da Família.

Em cada 10 mil, 1.005 receberam o auxílio. “Eu penso que, como os trabalhadores do esgoto, eles se sentem mais seguros e acreditam que não perderão o emprego”, justifica Anadergh.

“É bom lembrar que trabalhadores que voltam do atestado médico não podem ser demitidos durante um ano”.

Já entre os profissionais da mídia eletrônica, são 912 casos de doença para cada 10 mil pessoas.

Radialistas aparecem em quarto lugar em uso de substancias psicoativas como álcool, cocaína e outras drogas, o que pode levar esses trabalhadores a sofrerem com doenças mentais.

“O grande problema é que a doença mais prevalente nesse grupo é o uso de múltiplas drogas aliada ao uso de outras substâncias psicoativas”, avalia Anadergh.

Enquanto em todos os outros ramos as maiores prevalências ocorrem nas faixas etárias de 30 a 49 anos, no setor de rádio e televisão ocorre entre 20 e 29 anos.

Para a pesquisadora, o dado revela o estresse a que esses profissionais são submetidos.

“É uma supresa porque são profissionais que tem um nível socioeconomico diferente daqueles que tradicionalmente tem problemas com álcool, como os trabalhadores da construção civil”.

Para cada 10 mil trabalhadores, 422 receberam auxílio-doença

As mulheres são maioria entre os beneficiários do auxílio, mas os homens ficam afastados do trabalho por mais tempo.

Uma média de 91 dias para os homens e 84 para as mulheres. “Quando os homens procuram ajuda a situação de saúde deles já está em estado bem mais grave do que quando as mulheres vão ao médico”, explica Anadergh

ACIDENTE DE TRABALHO

Entre os trabalhadores afastados do serviço por mais de 15 dias, 43,8% deles tiveram como motivo algum acidente de trabalho.

Número bem maior que o calculado em 2006, quando apenas 29,3% dos casos de auxílio-doença eram ocasionadas pelo trabalho.

Paulo César Andrade, autor da pesquisa Prevalência, Duração e Despesa Previdenciária da Incapacidade Temporária por Acidentes de Trabalho no Brasil, orientado pela professora Anadergh, acredita que o aumento ocorreu por conta da implementação do Nexo Técnico Epidemiológico (NTEP).
O documento foi incorporado pelo Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS) e o pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), em abril de 2007. Foi desenvolvido por Paulo Rogério Albuquerque de Oliveira, pesquisador da UnB.

O NTEP possibilitou que a perícia médica do INSS caracterizasse os acidentes do trabalho sem precisar do Comunicado de Acidente de Trabalho, emitido pelo empregador.

“Muitas vezes é o empregador que ainda comunica o acidente de trabalho, mas estima-se que 36,9% dos acidentes ocorridos não chegam ao INSS”, lembra Paulo César.

Os trabalhadores de usinas de tratamento de esgoto foram mais uma vez campeões em benefícios, 718 casos a cada 10 mil.

Seguidos por profissionais de fabricação de produtos de madeira (296 casos para 10 mil) e por trabalhadores que constroem edifícios (262 para 10 mil).

Os afastamento por acidente de trabalho também foram motivados por lesões, por doenças osteomusculares e por doenças mentais.

Estima-se que no mundo apenas 3,9% dos acidentes de trabalho são notificados. O dado inclui trabalhadores formais e informais.

Eliene Machado, consultora da gerência de habitação da Caixa Economica Federal, ficou afastada 11 meses do trabalho e nesse período passou por quatro cirurgias. O acidente aconteceu durante uma confraternização no final de 2009.

Os colegas organizaram uma gincana em uma fazenda e durante uma bricadeira Eliene caiu em um buraco. Para diminuir o impacto da queda, ela colocou o braço e acabou quebrando um osso do cotovelo.

“Fui internada no mesmo dia e no outro já estava fazendo cirurgia”, conta a consultora.

Ela ainda não recuperou totalmente os movimentos do braço direito e de dois dedos. Para recuperar todos os movimentos, Eliene teria que passar por outra cirurgia.

“Meus colegas brincam dizendo que eu não preciso de férias porque fiquei bastante tempo em casa, mas eu senti muita dor, cheguei a tomar morfina”, conta.

Para ela, o mais difícil foi ficar fora do trabalho por tanto tempo. Mesmo depois de 22 anos na Caixa Economica, Eliene nunca chegou a tirar 30 dias de férias.

“Hoje eu estou frequentando um psicólogo, porque o resultado disso tudo foi sentir muita ansiedade. Quando voltei ao trabalho, percebi que eu não fazia falta, que as coisas caminharam mesmo eu estando longe”, lamenta.

Em geral, trabalhadores entre 50 e 59 anos registraram mais acidentes de trabalho, 128 casos para cada 10 mil.

Foi a maior prevalência entre as faixas etárias. “O incômodo dessa faixa é que as doenças manifestam-se com mais gravidade, ocasionam maiores incapacidades e precisam de mais tempo para recuperação”, lamenta Paulo.

Ramos de atividades e casos de benefícios em 2008

Trabalhadores de usinas de esgoto: 2.396 casos para cada 10 mil
Agentes do Programa Saúde da Família: 1.005 casos para cada 10 mil
Profissionais de rádio e televisão: 912 casos para cada 10 mil

Lesões

Trabalhadores de usinas de esgoto: 730 casos para cada 10 mil
Profissionais de rádio e televisão: 244 casos para cada 10 mil
Agentes do Programa Saúde da Família: 242 casos para cada 10 mil

Doenças osteomusculares

Trabalhadores de usinas de esgoto: 635 casos para cada 10 mil
Profissionais de rádio e televisão: 221 para cada 10 mil
Agentes do Programa Saúde da Família: 147 casos para cada 10 mil

Doenças Mentais

Trabalhadores de usinas de esgoto: 240 casos para cada 10 mil
Agentes do Programa Saúde da Família: 184 casos para cada 10 mil
Profissionais de rádio e televisão: 176 para cada 10 mil

Ramos de atividades por benefícios por acidentes de trabalho

Trabalhadores de usinas de esgoto: 718 casos para cada 10 mil
Profissionais que trabalham na fabricação de produtos de madeira: 296 casos para cada 10 mil

Construção de edifícios: 262 casos para cada 10 mil
Fabricação de móveis: 199 casos para cada 10 mil

Lesões

138 casos para cada 10 mil
Doenças osteomusculares – 93 casos para cada 10 mil
Doenças Mentais – 45 casos para cada 10 mil.(Gabinete do Senador Cristovam Buarque)

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