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quinta-feira, 25 de abril de 2024

Celulares podem atrasar desenvolvimento da fala

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Celulares podem atrasar desenvolvimento da fala, diz fonoaudióloga

Por trás do que deveria ser uma inofensiva tela, se escondem perigos que impactam diretamente no desenvolvimento das crianças

01/08/2017 06h36 – Por: Valéria Araújo

Por trás do que deveria ser uma inofensiva tela, se escondem perigos que impactam diretamente no desenvolvimento das crianças. É que num mundo cada vez mais conectado, já é comum ver cada vez mais bebês manuseando celulares e outros aparelhos com tela. Porém, o que pode ser um momento de alívio para os pais cansados e distração dos bebês, também pode causar graves conseqüências para as crianças como os atrasos na fala. Especialistas em várias áreas, como da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), desaconselham o uso desses aparelhos para menores de 2 anos.

Um outro estudo realizado no Hospital para Crianças Doentes da Universidade de Toronto em 2015, no Canadá, indica que quanto mais “tempo de tela”, maior o risco dos bebês apresentarem atraso no desenvolvimento da fala. Segundo os pesquisadores, os resultados da análise apontaram que, para cada 30 minutos de “tempo de tela”, os riscos da criança ter alguma demora para falar sobem em 49%.

Um dos fatores principais para este prejuízo no desenvolvimento da fala das crianças identificado na pesquisa é o isolamento social que estes aparelhos provocam. Segundo os pesquisadores, muitos pais têm o raciocínio errôneo de que com estas telas estão estimulando a criança, mas estes equipamentos não promovem a orientação espacial, nem a temporal e nem a interação com o outro, e com isso ela fatalmente apresentará problemas. Para eles, as crianças precisam se comunicar, verbalizar, errar, serem corrigidas, e os jogos e aparelhos eletrônicos não dão estas possibilidades.

O uso exagerado das telas geram novas doenças como a chamada síndrome de “demência digital”, causada pelo uso excessivo da tecnologia e, tem sido relatada em crianças em idade escolar. Elas apresentam uma perda nas habilidades cognitivas e na memória. Em adolescentes, a Fomo (fear of missing out, ou medo de perder) – um tipo de ansiedade social que faz o jovem não se desligar da rede social nem por um minuto. Obesidade, sedentarismo, insônia, agressividade, hiperatividade e problemas de atenção já são velhos conhecidos relacionados ao excesso de telas.

Em Dourados a educadora infantil e fonoaudióloga Daniela Bender Morandi, orienta os pais sobre o desenvolvimento da fala das crianças, desde o momento em que saem da maternidade. Para ela, todas as atitudes e também omissões deles serão impactadas na formação da criança.

Ela explica, inclusive, como os pais podem estimular de forma saudável a fala dos filhos:

Em qual idade normalmente as crianças dizem suas primeiras palavrinhas com significado?

Por volta dos 12 meses as criancinhas nomeiam ou pedem algo. É esperado algo em torno de 5 à 10 palavras.

Como é o processo de desenvolvimento da fala até os 5 anos?

O desenvolvimento da linguagem oral nos pequenos é a parte que eu acho muito bonita, tanto que busco dedicar meus estudos e energia nesta área de atuação. Começa desde que o bebê vem da maternidade. É realmente um processo de enriquecimento verbal por estimulação auditiva, visual, olfativa e cinestésica. O bebê está completamente receptivo à todo e qualquer estímulo e o “botão on” da educação já foi ligado. Com isso, todas as atitudes e também omissões dos pais são refletidas no desenvolvimento da criança.

Qual a importância do processo de balbucio e o papel dos pais nessa fase? Quais as primeiras palavras que a criança pronuncia?

O papel dos pais é fundamental, em todas as fases da formação de uma criança, mas durante o processo de balbucio é ainda maior, pois é eles que dão o suporte emocional/afetivo, a significação dos sons que ela emite, gerando no ser em formação a idéia do retorno, do feed back. É como a criança dizendo: “ah, então quando eu faço PÁ, meu pai fica feliz, sorri e me abraça…. acho que vou fazer isso de novo”.

Como agir quando a criança apenas aponta, mas não fala a palavra?

As ações do adulto sempre vêm acompanhadas de palavras independente da idade do bebê, pois aprendemos pelo exemplo. É imitando nossos pais e cuidadores que desenvolvemos a nossa fala e isso é muito importante. Dar somente o que a criança aponta, sem exigir dela algum som pelo menos, dependendo da idade e do desenvolvimento dela pode ser ruim.

Quais os principais erros cometidos pelos pais e que atrapalham no desenvolvimento da fala dos filhos?

Esse que falamos anteriormente é um deles. Um amor equivocado onde há extremismos no dar/oferecer, por exemplo, gerando pessoas que não precisam fazer exatamente nada, pois “tudo cai do céu”, não precisa fazer som nenhum, só apontar e os adultos já dão o que elas estão querendo e até o que é em demasia. Tudo isso sem discernimento do que a criança está precisando naquele momento, que às vezes é até mesmo um “não”. Pensam em fazer tudo em nome de não fazê-lo “sofrer”, não fazê-lo chorar. Esta atitude adulta, de não permitir aos filhos o contato com as frustrações, inerentes ao ser humano, eu vejo como uma das atitudes mais perniciosas que existem hoje em dia, tanto para o desenvolvimento da linguagem quanto para o desenvolvimento da persolnalidade do indivíduo.

Quais as principais causas de atraso na fala?

Os casos que mais chegam no meu consultório são de crianças que estão recebendo informações errôneas em sua educação, sem causas orgânicas só com caráter comportamental e também crianças já com algum diagnóstico e encaminhamento dos pediatras, psicólogos, escolas e neurologistas. Bebezinhos que já estão apresentando algum atraso neuropsicomotor em relação com os parâmetros de normalidade, possivelmente vão apresentar também atrasos de fala.

O que fazer para estimular a fala nesses casos? Colocar o filho na escola resolve?

Muitas coisas simples podem serem feitas para estimular o “apetite” verbal nos pequenos, como cantar músicas tipo tema (vê uma borboleta no jardim, mostra ela e canta: “borboletinha…”) contar histórias, que podem ser infantis, mas também podem ser relatos legais de história de vida dos pais e parentes com quem a criança tem vínculo. Os pais devem desligar mais os eletroeletrônicos e “ligar”o olho no olho. Devem falar com ela enquanto dirigem o carro, mostrando a paisagem, por exemplo. Amor e dedicação dos pais não têm preço e vale muito! Escola é bom sim, vale sempre à pena investir no alicerce que é a educação infantil,a socialização da escola formal, porém nunca irá substituir a educação e estimulação de casa.

Quando procurar ajuda de um fonoaudiólogo?

O fonoaudiólogo é o profissional capaz de habilitar e reabilitar as desordens da comunicação, sempre que não estiver dando para entender o que a criança está falando e estiver gerando sentimentos aflitivos em algum dos lados é bom procurar o profissional habilitado que pode orientar, encaminhar para os serviços de medicina competentes em diagnósticos e/ou outros profissionais da saúde e tratar, muitas vezes sendo uma terapia breve, fonoterapia como chamamos.

Como são feitos os diagnósticos para identificação de atraso na fala?

Em alguns casos o paciente, acompanhado de seus pais, chega até o meu serviço apresentando apenas a queixa, ainda sem o diagnóstico do médico. Nessas situações é realizada uma anamnese, avaliação e reforçado o encaminhamento para o profissional, como parte integrante do processo terapêutico, que pode ser o médico, porém sem excluir o fonoaudiólogo que fará o exame da audição, por exemplo, pois o atraso pode ser devido a perda auditiva ou ao neurologista, para descartar qualquer causa orgânica.

Como são feitos os tratamentos para o desenvolvimento da fala?

O tratamento consiste primeiramente em estabelecer um “rapport” um vínculo com o paciente, no caso brincando com ele, observando como brinca e avaliando como posso auxiliá-lo. Também é verificado quais sons ele possui e, à partir daí, usando materiais lúdicos e outros construídos especialmente para o que ele está necessitando, e aos poucos, individualmente e em cada caso, ir ampliando o repertório verbal, fazendo com que a criança se sinta forte e capaz de comunicar o que esteja querendo e, dessa forma trazendo harmonia ao seio da família.

O uso das tecnologias como os celulares, podem influenciar na fala?

Acredito que ainda estamos bem no começo da era digital e, ainda não temos dados suficientes para ver até que ponto, toda essa “digitalização” vem ser mais ou menos benéfica em tão tenra idade. Porém o que sabemos, até o momento, é que, em nome dos pais terem algum “sossego”e/ou não frustrar o filho, fazem uso do celular, literalmente (tanto dando na mão dele quanto usando eles próprios na frente da criança….), perdendo um tempo precioso de contato visual, vínculo afetivo e integração familiar. Muitas vezes deixando mais tempo do que o recomendado para cada faixa etária, podendo trazer prejuízos para o ser em formação. Nesse ponto já tem algumas pesquisas contra-indicando o uso antes dos quatro anos.Um exemplo, é usar o celular antes de dormir, danificando a rotina saudável do sono, tanto prolongando indevidamente o horário de dormir (essencial para o cérebro) quanto pela hiperestimulação visual.

Meninas falam antes do que os meninos?

Sim, há pesquisas que demontram que as meninas, em geral, falam primeiro e em maior quantidade do que os meninos, aos 18m o vocabulário de uma menina tem cerca de 90 palavras e os meninos dessa idade, por outro lado, tem apenas 40 palavras. Nas meninas, a parte do cérebro destinada às habilidades lingüísticas, o hemisfério esquerdo, desde os seis meses de idade, já mostra mais atividade elétrica quando escutam sons lingüísticos. Quando começam a falar costumam articular melhor, criam frases mais longas e complexas, falam com mais fluidez. Os meninos, ao contrário, encontram mais facilidade para escrever durante os primeiros anos escolares.

É normal uma criança começar a gaguejar sem motivo aparente? Isso significa que ela será gaga?

Acontece sim, e é até mesmo corriqueiro, antes dos 4, 5anos a criança não conseguir se expressar de uma forma tão fluente, “tropeçando” ou repetindo palavras, até mesmo por não possuir um repertório verbal tão extenso. Mas é bem importante os pais terem uma atenção o quanto antes, para procurar ajuda profissional, pois dessa forma, poderemos orientar para que uma possível gagueira não se instale.

A mãe deve corrigir quando a criança fala uma palavra errada?

É bom sempre falar novamente a palavra de uma forma correta, olhando e articulando, sem exageros, nos olhos dos filhos. Sendo os pais os primeiros modelos, é essencial em nossa sociedade, que busquemos ser bons modelos, também com os exemplos de caráter, como manter a rotina da casa (horários de se alimentar, higiene e dormir, com limites claros), falar a verdade, cumprir o que promete e fala para a criança. Esse empoderamento parental é primordial para que se solidifique a confiança, e a criança queira realmente “copiar” esses pais, que são tudo para ela. Os pais precisam não ter medo de educar, alguns acreditam que sendo “chatos” vão perder o amor e carinho dos filhos e isso precisa ser revisto e modificado urgente.

Por que os pais não devem repetir os erros de pronúncia da criança?

As crianças, apesar de pequenas, em geral, são muito perspicazes e, percebem logo que o adulto está fazendo algo falso, que não é o jeito dele falar… isso pode gerar, muitas vezes sentimentos e atitudes nas crianças não tão boas.

É normal a criança trocar letras (L por R, F por V)?

Dependendo da faixa etária e desenvolvimento da fala dela pode ser sim. Se a criança teve atraso para adquirir a linguagem oral é bem provável atrasar também a pronúncia correta das palavras e bem comum, atrasar a linguagem escrita, o letramento formal, como uma espécie de efeito dominó.

Qual deve ser a atitude dos pais quando o filho fala muito errado?

Sempre observar o que está “pegando”. Muitas vezes é de caráter somente comportamental, quando mudanças nas posturas e atitudes dos pais vão significar efetivas mudanças nas crianças e na vida delas como um todo, real alicerce de futuros cidadãos dignos e responsáveis no futuro, gerando, consecutivamente, em um círculo virtuoso, ainda melhores pais.

Fonoaudióloga diz que os pais devem estar atentos a fala dos filhos  - Foto: Hédio Fazan

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