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sexta-feira, 19 de abril de 2024

Jogo digital ajuda a prevenir intoxicações de crianças em casa

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Icict/Fiocruz – 17/01/2017 12h02

Férias! O que é para ser um ótimo momento em família pode se tornar um período de sustos e preocupações. Segundo especialistas, a casa é o local onde as crianças correm mais riscos.

Para alertar pais e jovens, o Polo de Jogos e Saúde, do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) e do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), transformaram em algo lúdico a campanha de prevenção contra acidentes por intoxicação: a equipe criou o jogo digital Quem deixou isso aqui?.

O jogo, lançado durante o seminário Prevenção de intoxicações em foco: panorama das intoxicações infantis e ações educativas do Centro de Estudos do Icict e o Sinitox, realizado em dezembro, vem atraindo a atenção de pais e filhos pela facilidade com que pode ser jogado e as informações que fornece.

A ideia é manter a personagem central – Aninha, uma menina de três anos – longe de coisas que podem intoxicá-la como medicamentos, plantas, materiais de limpeza e até mesmo alimentos e bebidas alcóolicas.

Ao se depararem com o número elevado de ocorrências em intoxicações domésticas em crianças, os integrantes do Polo, Marcelo de Vasconcellos e Flávia de Carvalho, que já tinham desenvolvido outras parcerias com o Sinitox, avaliaram a necessidade de abordar o assunto. “Vimos que a intoxicação doméstica era um problema muito mais sério.

Assim, a contribuição do Sinitox foi essencial para uma escolha certeira do tema e para verificação técnica de todas as informações”, diz Vasconcellos.

Apesar da personagem ser uma meninha, o jogador encarna um adulto que tem que protegê-la dos riscos de uma intoxicação.

“O jogo foi direcionado a pais e responsáveis, uma vez que são eles que precisam aprender sobre os riscos da intoxicação doméstica.

Esta abordagem vem da nossa visão sobre a mídia dos jogos, de que ela não é algo restrito para crianças, mas que pode ser atraente e educativo para qualquer pessoa”, explica Flávia de Carvalho.

A coordenadora do Sinitox, Rosany Bochner, acredita que o jogo “é pioneiro no que se refere à prevenção de intoxicações” e apesar de ter sido “desenvolvido para jovens, adultos e pais, com certeza as crianças também vão acabar se interessando pelo seu modo dinâmico de jogar”.

Vasconcellos afirma que esse jogo foi um “grande aprendizado” para a equipe envolvida, onde todos puderam se dar conta sobre os mais variados riscos. Afinal, é comum as pessoas relatarem casos de intoxicação de crianças na família ou na vizinhança.

“O assunto nos chamou a atenção tanto para nossa vida doméstica, quando repensamos a organização de nossas próprias casas, quanto para nossa experiência profissional como designers gráficos, pois o risco da intoxicação muitas vezes é agravado pelo projeto gráfico dos produtos”, explica.

Casa = perigo

Quando tinha três anos, Kevin, filho de Fabíola Ferreira, deu um susto e tanto na mãe. Ela deixou no quintal uma mistura de amônia e água sanitária para uso próprio e, num momento de distração, o menino colocou a mistura na boca. Imediatamente seus lábios ficaram “assados”, segundo Fabíola, e ele começou a gritar.

A mãe achou que ele fosse morrer, mas felizmente ele não engoliu o produto, o que foi a sua salvação. “O médico me disse que se ele tivesse engolido, teria morrido”, lembra Fabíola.

Casos como esse acontecem a todo momento e o jogo busca retratar situações em que as crianças atraídas pelas cores das embalagens ou pelo conteúdo colorido, ou mesmo até a cor de flores e plantas, numa distração dos pais, levam à boca. O resultado é sempre assustador para os pais e traumático para as crianças.

As estatísticas comprovam que a fase de um a quatro anos é a que requer uma atenção redobrada por parte de pais e responsáveis.

Dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan Net), do Ministério da Saúde, apontam que entre 2010 e 2015, na faixa etária entre um e quatro anos, 29.169 crianças se acidentaram por intoxicações.

Uma consulta rápida ao Sinitox/Fiocruz, comprova essa realidade – apenas em 2013, dos 9.507 casos de intoxicação nesta faixa etária, 6.459 foram justamente os que envolviam medicamentos (3.691), produtos domissanitários (1.767) e produtos químicos (1.001).

Segundo a coordenadora do Sinitox, Rosany Bochner, “quase um quarto das intoxicações ocorre nessa faixa etária – são 22% das ocorrências”, explica.

E os motivos são simples: “o grande tempo que as crianças passam no ambiente doméstico, os inúmeros produtos tóxicos disponíveis, os produtos armazenados de forma incorreta, as embalagens inseguras dos produtos e a pouca informação que pais e responsáveis têm sobre as formas de prevenção de acidentes”, afirma Bochner.

Testando e brincando

Quem conheceu o jogo e elogiou a iniciativa foi Ana Claudia Moraes, a coordenadora do Centro de Controle de Intoxicações (CCIn), de Niterói, no estado do Rio de Janeiro, que recebe as informações de todo o estado sobre intoxicações.

Para ela, “o jogo tem um ambiente agradável, que realmente remete ao lar e trazendo situações cotidianas desperta o jogador para a identificação de perigos em casa que ele provavelmente não estaria atento se não fosse pelo alerta e envolvimento que o jogo promove”, enfatiza.

Para a coordenadora do CCIn, Quem deixou isso aqui? “envolve e motiva, e creio que através desta sensibilização e ‘treinamento’ na identificação de perigos, é possível mudar comportamentos, ajudar a reduzir os perigos e riscos existentes em casa, assim como a real ocorrência de acidentes”, afirma.

O jogo pode ser acessado aqui. Ele está disponível para tablet e desktop nas plataformas Google Play e Apple, e brevemente poderá ser jogado nos sistemas Android e iOS. Eloá Dias testou e colocou o filho, Gabriel, de 12 anos, para jogar também.

Ela disse que achou o jogo “interessante, dinâmico”. Para ela, “o jogo é um alerta, pois há coisas que passam despercebidas em casa”. Seu filho “seguiu o jogo sem utilizar as instruções (o tutorial) e também aprendeu um pouco”, afirmou.

“Ele me chamou a atenção, após jogar, dizendo: “viu, mãe, vê se guarda esses remédios que você deixa sobre a mesa”, afirmou a mãe, que ficou meio sem graça com a observação do filho. Ela aproveitou e indicou a algumas colegas que têm crianças pequenas para também acessarem o jogo.

Outro que testou e se disse surpreso com as informações apresentadas foi Brunner Jorge, que achou o jogo “muito bem explicativo, de fácil acesso e compreensão”.

Ele afirmou que se deu conta que em sua casa há plantas e o “remédio de mosquito” que estão ao alcance do pequeno Bruno, de um ano e meio.

Mas, ressaltou que ele e a esposa “estão sempre ‘de olho’”, mesmo assim um dia o pequeno pegou um sabonete, rasgou a embalagem e quase o comeu, para desespero dos pais. Para Brunner o jogo serve de “alerta” para os pais.

Prevenir é o foco da parceria entre o Polo de Jogos e Saúde e o Sinitox. Para isso também foi criada a maquete Casa segura, “que replica todos os possíveis cômodos de uma residência, como sala, cozinha, quarto, banheiro, área de serviço e jardim, e neles são apontados os diversos produtos tóxicos presentes de forma não segura”, explica Rosany Bochner, que afirma que o objetivo é “travar um diálogo com o público sobre as situações de risco para as crianças”.

A maquete está em exibição no saguão da Biblioteca de Manguinhos, da Fiocruz, no Rio de Janeiro. Mas, não para aí o desenvolvimento de materiais educativos para a prevenção.

A coordenadora do Sinitox afirma que “o próximo passo será a produção de um novo jogo que contemple acidentes com animais peçonhentos”.

Icict/Fiocruz

Graça Portela (Icict/Fiocruz)

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