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quinta-feira, 18 de abril de 2024

Diabetes pode levar à cegueira, doença renal e amputação

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Diabetes pode levar à cegueira, insuficiência renal e amputações

No dia de combate e prevenção da doença, dados da Sociedade Brasileira de Diabetes, mostram que somente no Brasil existem mais de 16 milhões de pessoas com a doença e metade delas não sabe que tem o problema

14/11/2017 06h33 – Por: Valéria Araújo

Silenciosa e com complicações irreversíveis, o diabetes é uma das principais causas de cegueira, insuficiência renal e amputações. No dia de combate e prevenção da doença, dados da Sociedade Brasileira de Diabetes, mostram que somente no Brasil existem mais de 16 milhões de pessoas com a doença e metade delas não sabe que tem o problema. O número de pacientes vem crescendo mundialmente e estima-se que até 2030 este índice deva aumentar para mais de 550 milhões.

O que muitos ainda não sabem é que o diabetes mal controlado compromete outros órgãos do corpo humano, como os rins. Em torno de 30% dos pacientes que fazem hemodiálise no Brasil, tiveram sua insuficiência crônica dos rins causada pelo diabetes. Nos Estados Unidos este índice atinge 60%.

Outra grave complicação é a cegueira. Segundo a Federação Internacional de Diabetes (IDF), a falta de controle adequado da glicêmia (nível de açúcar no sangue) e uso inadequado de medicamentos levam a danos nos nervos – que podem levar à diminuição da sensação de dor e agravar lesões existentes nos pés.

Com relação à saúde ocular, o diabetes induz também a maior incidência de glaucoma e a mais temida de todas as complicações que, de acordo com especialistas, é sem dúvida a retinopatia diabética. Atualmente as duas maiores causas de cegueira irreversível, ou seja, sem chances de recuperação visual, são glaucoma e a retinopatia diabética.

De acordo com o Ministério da Saúde, entre 40% e 70% de todas as amputações das extremidades inferiores estão relacionadas ao diabetes, sendo que 85% delas são precedidas de uma ulceração nos pés. Se essas lesões fossem evitadas ou tratadas adequadamente na fase inicial seria possível impedir a perda do membro, por isso é tão importante a prevenção e o controle da doença.

Esse ano a campanha nacional da Sociedade Brasileira do Diabetes, alerta para o crescimento da doença entre o público feminino. Em Mato Grosso do Sul a Regional Mato Grosso do Sul da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM MS) escolheu como tema local o o limite de glicemia normal, como forma de alertar a população.

Segundo a médica endocrinologista e metabologista, Luciana Secchi, o normal é até 99 mg/dl. “É muito importante que a população saiba que na eventualidade de receber um resultado de exame com glicemia acima do limite deve-se procurar um médico e discutir com ele o significado desse resultado e a necessidade ou não de tratamento ou mudanças de estilo de vida naquele momento”, destacou. Em entrevista, a médica explica mais sobre a doença e como prevenír. Confira:

Quais os tipos de Diabetes e as características dele?

Existem vários tipos de diabetes, mas os mais comuns são mesmo o diabetes tipo 1 e o diabetes tipo 2. Outro tipo muito importante é o diabetes gestacional, que pode complicar um grande número de gestações no mundo todo.

A Federação Internacional de Diabetes (IDF) definiu o tema “Mulheres e Diabetes: nosso direito a um futuro saudável” como tema para a campanha “Dia Mundial do Diabetes” desse ano. Por quê?
O Dia Mundial do Diabetes foi criado em 1991 pela IDF em conjunto com a OMS (Organização Mundial da Saúde), em resposta às preocupações sobre os crescentes números de diagnósticos no mundo. A data tornou-se oficial pela ONU (Organização das Nações Unidas) a partir de 2007, e o dia 14 de novembro foi escolhido para marcar a oportunidade de mobilização mundial redor desse tema. O tema deste ano foi escolhido porque se calcula que haja mais de 199 milhões de mulheres vivendo com diabetes hoje, e visa esclarecer sobre a importância do acesso dessas pessoas à informação e ao tratamento para diminuir o risco das complicações.

Que porcentagem dos pacientes com diabetes tem bom controle da doença no Brasil e porque os números costumam ser baixos?

No Brasil não há estatísticas confiáveis e recentes de controle do diabetes, principalmente para os casos de diabetes tipo 2, que é o mais prevalente. Sabemos que no Brasil há mais de 12 milhões de pessoas com diabetes. Calcula-se que a metade dos pacientes que são portadores da doença não são diagnosticados, ou seja, não sabem que têm a doença. Não sabendo, não recebem tratamento adequado e o controle. Quando diagnosticada, o controle da doença exige dos pacientes certas mudanças no estilo de vida, que podem não ser fáceis para várias pessoas, além de medicamentos, alguns de alto custo, e monitoramento das glicemias. A complexidade de todos esses fatores, aliada à falta de acesso dos pacientes brasileiros a vários recursos em saúde, contribui para as dificuldades do controle da doença.

Em Mato Grosso do Sul, a campanha está focando nos limites dos índices de glicose. Por quê?

A Regional Mato Grosso do Sul da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM MS) escolheu como tema local para campanha deste ano ressaltar que glicemia (valor do “açúcar” no sangue) normal é até 99 mg/dl para que a informação, fornecida de maneira simples e exato, atingisse um número maior de pessoas dentro da realidade do nosso estado. É muito importante que a população saiba que na eventualidade de receber um resultado de exame com glicemia acima do limite deve-se procurar um médico e discutir com ele o significado desse resultado e a necessidade ou não de tratamento ou mudanças de estilo de vida naquele momento.

Qual o perfil de quem tem a doença?

As pessoas que correm mais risco de desenvolver diabetes tipo 2, o mais comum deles, ao longo da vida são as pessoas com excesso de peso, sedentárias (que não executam atividades físicas), com alto nível de stress. Aquelas que têm muitos casos de diabetes na família também estão sujeitas a um risco maior da doença.

Porque a doença tem aumentado no público infantil?

Ainda não se conhecem exatamente os fatores que estão levando ao diagnóstico de um número maior de crianças com diabetes tipo 1, inclusive em idades mais precoces. Há também um aumento na incidência de diabetes tipo 2 relacionado aos fatores que já citamos em crianças e adolescentes.

O que os pais devem fazer para afastar esse perigo de casa?

As crianças devem receber alimentação adequada, variada, preferencialmente com o menor número possível de produtos industrializados, pobre em frituras, sem excesso de sal, açúcar e gorduras. Atividade física e o estímulo a jogos ao ar livre pelo menos 2 horas por dia e a limitação do tempo de uso de aparelhos eletrônicos também é muito importante.

Quais as características do diabetes?

Geralmente o diabetes é uma doença silenciosa, isto é, causa sintomas apenas quando já está um tanto avançada. Quando existem complicações da doença, às vezes irreversíveis, os sintomas são bastante evidentes. Quando os valores de glicemia já estão bastante altos o paciente pode apresentar perda de peso inexplicável, cansaço, dificuldades visuais, excesso de sede e aumento do número de vezes em que vai urinar no dia.

Quais as principais complicações da doença?

As complicações do diabetes mal controlado por muito tempo são muito importantes, sendo as principais a retinopatia diabética, que pode levar a cegueira, a neuropatia diabética, que pode levar a amputações, e a nefropatia diabética, que pode levar a insuficiência renal e à necessidade de hemodiálise. Também existe um risco bastante elevado de doenças cardíacas e cardiovasculares, como o infarto, em pacientes que tem diabetes mal controlado.

Por que o diagnóstico precoce é tão importante?

Sendo a doença geralmente silenciosa, o diagnóstico precoce é muito importante para se evitar que ela evolua por muito tempo sem tratamento e resulte em complicações.

Como é feito o tratamento? Qual a duração?

O tratamento do diabetes envolve mudanças de estilo de vida, adequações na dieta e abolição do sedentarismo. Além disso, o papel dos medicamentos é muito importante e deve ser bem indicado, constituindo um tratamento bem estruturado. A insulina faz parte do tratamento de um grande número de diabéticos tipo 2, em geral junto com os medicamentos, e de todos os pacientes com diabetes tipo 1.

Como prevenir o diabetes?

O diabetes tipo 2 e o diabetes gestacional são preveníveis através de manutenção do peso saudável, atividades físicas regulares, dieta adequada e controle do stress. O diabetes tipo 1 até o momento não é uma doença que se possa prevenir.

De acordo com a ONU, 70% das amputações realizadas no Brasil são decorrentes do diabetes. Porque isso ocorre?

Amputações podem ser necessárias como resultado final de problemas muito resistentes ao tratamento, como úlceras e infecções nas pernas e nos pés. Essas úlceras ou feridas podem se formar por causa da neuropatia diabética, que é uma complicação do diabetes mal controlado que pode resultar na perda de sensibilidade dos pés e pernas. Pode também acontecer em outras áreas do corpo, mas é mas é mais comum nos membros inferiores. Sem sensibilidade é possível que a pessoa se machuque e não perceba, e a ferida vá se agravando ou infeccionando e muitas vezes chegando a uma situação em que é impossível salvar o membro afetado.

Em Dourados a senhora coordena o grupo AmigO Tipo 1. Qual o objetivo do programa e como são feitos os atendimentos?

O AmigO Tipo 1 não tem fins lucrativos e é um grupo privado de empoderamento e educação em diabetes para pacientes portadores de diabetes tipo 1 residentes em Dourados e cidades próximas. O grupo é coordenado por mim e pela doutora Letícia dos Reis Silva, endocrinopediatra, que é minha parceira nesse projeto. É um projeto muito bem sucedido que resultou na melhora do bem estar e do controle do diabetes tipo 1 dentre os participantes. Conseguimos com o grupo bom controle da doença em mais de 50% dos pacientes, muito superior à média que se costuma registrar mundo afora. Temos levado esse trabalho para congressos em vários locais do Brasil e para o último Congresso Americano de Endocrinologia (ENDO 2017), em abril passado, em Orlando, na Flórida, Estados Unidos, com muito boa aceitação e interesse de colegas de varios países. No sábado, dia 11, tivemos a reunião comemorativa do grupo AmigO Tipo 1 pelo Dia Mundial do Diabetes, em que recebemos, eu e Dra. Letícia, mais de 30 pacientes e seus familiares, totalizando cerca de 80 pessoas vindas de 12 municípios do sul do Mato Grosso do Sul, para receber informação de qualidade e celebrar juntos a oportunidade de chamar a atenção para uma causa que é de todos, importante para todos. Recebemos também nesse dia a visita de colegas de Campo Grande, incluindo a presidente da Regional Mato Grosso do Sul da Sociedade Brasileira de Endocrinologia, Dra. Renata Portella, que vieram conhecer esse trabalho e os pacientes competentes e interessados que fazem parte dele.

Quantos pacientes o grupo atende? Como faz para participar?

Estão inscritos no grupo mais de 40 pacientes, que podem participar junto com seus familiares próximos. Neste momento são pacientes que estão aos meus cuidados profissionais ou da doutora Letícia, e o ingresso no grupo só pode ocorrer através de um desses serviços de endocrinologia ou endocrinopediatria.

Médica endocrinologista e metabologista, Luciana Secchi

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