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quinta-feira, 28 de março de 2024

Funcionários do HU recebem curso de guarani

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Por: Flávio Verão – 24/06/2016 13h48

Como forma de reforçar as ações de humanização do ambiente hospitalar, respeitando as diferenças culturais da região, o Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados (HU-UFGD), filial Ebserh, deu início ontem (23) à primeira capacitação em língua guarani voltada especificamente para o atendimento ao público indígena.

Em parceria com a UFGD, por meio da Pró-reitoria de Gestão de Pessoas (Progesp), o curso, inédito, tem como objetivo trabalhar a oralidade de palavras e expressões usualmente empregadas na área da saúde e no dia a dia da etnia Guarani-Kaoiwá, de forma que o colaborador que atua diretamente com o paciente indígena possa melhor compreendê-lo e, também, ser entendido.

A aula inaugural, realizada na manhã desta quinta-feira, contou com a participação especial do cacique Getúlio de Oliveira, da aldeia Jaguapiru, que fica localizada na reserva indígena de Dourados. Liderança entre seu povo, ele expôs aos colaboradores que, dentro da cultura indígena, muitas doenças são tratáveis com os medicamentos existentes na natureza e com as rezas. No entanto, reconhece a importância das instituições de saúde e seus procedimentos.

“Dentro da nossa cultura temos nossos remédios e nossa reza, mas, hoje, nós precisamos da ajuda de vocês da saúde, pois é difícil perder uma pessoa. Muitos ainda têm medo do tratamento dos brancos. Alguns já conhecem e sabem que é bom. Mas quando tem alguém que fala e explica na língua, nós ficamos felizes e entendemos”, relatou o cacique.

Os participantes também tiveram a oportunidade de iniciar os conhecimentos sobre a cultura indígena com uma pequena palestra proferida pela antropóloga e professora da UFGD, Graciela Chamorro. Conhecida por seu trabalho de pesquisa em religião, língua e história dos povos guarani, a docente falou sobre como as palavras podem ter significados diversos para os indígenas, inclusive, com representações poéticas calcadas em suas crenças ancestrais.

“Espero que essa iniciativa seja uma abertura para o conhecimento, não só da língua indígena, mas da cultura dos povos indígenas, com suas noções de saúde, de corpo e de cura, de sua cosmologia como um todo”, afirmou a pesquisadora.

Barreira cultural x atendimento humanizado

A macrorregião da Grande Dourados é conhecida nacionalmente por ser território de grandes aldeias indígenas, tanto urbanas quanto rurais, cabendo ao HU-UFGD o atendimento de boa parte dessa população. Em setores como a Pediatria, por exemplo, mais de 60% da assistência é a pacientes indígenas.

Dessa maneira, a maior dificuldade para colaboradores de todos os setores, mas principalmente os da assistência à saúde, é a comunicação efetiva com esses pacientes que, muitas vezes, não falam qualquer palavra em português ou, por questões culturais, não se sentem à vontade se expressando em outro idioma.

“Isso dificulta o atendimento, que em muitas situações precisa ser rápido para ter eficácia, pois o profissional de saúde não consegue obter um histórico do paciente, não consegue ao menos saber onde está o problema e como aquele quadro se deu”, explicou a colaboradora Deise Vieira, chefe da Unidade de Apoio Corporativo, que é uma das participantes do curso.

Por sua função, ela tem contato direto com diversos setores do HU-UFGD, como as recepções, as UTIs, a Maternidade e as enfermarias, e pôde perceber que, além da barreira linguística, existe a questão cultural na qual o indígena tende a não aceitar os procedimentos hospitalares.

“Muitos retiram a sonda nasal, arrancam o acesso para soro e remédios e até tentam fugir, simplesmente por não entenderem ou aceitarem o que está sendo feito. Com o curso, esperamos poder romper essas barreiras da língua e da cultura, até porque tentaremos compreender não apenas seu idioma, mas seus costumes e história”, esclareceu.

A capacitação formará 40 profissionais, sendo 32 do hospital e oito da universidade, que terão uma aula por semana até o final do mês de outubro. O conteúdo será ministrado pelos professores Andérbio Martins e Hemerson Catão, da Faculdade Intercultural Indígena da UFGD, e pelo intérprete de língua guarani do HU-UFGD, Silvio Ortiz.

Intérprete

Como primeira solução adotada para a questão linguística, desde 2004 o HU-UFGD conta com o trabalho do intérprete Silvio Ortiz, que auxilia os profissionais de saúde no acolhimento e na comunicação com os pacientes indígenas e seus familiares. Ele é enfermeiro, pós-graduado em Saúde Pública e morador da aldeia Jaguapiru.

Com o trabalho desenvolvido por Silvio, que é indígena da etnia Guarani-Kaoiwá, os índices de fuga do hospital se tornaram menores. “Estamos falando de um povo que se sente estrangeiro dentro de seu próprio país. Eles têm sua especificidade, que precisa ser levada em consideração”, avaliou o intérprete, que agregará sua experiência de mais de dez anos como porta-voz do hospital junto à comunidade indígena no conteúdo do curso.

Para um futuro próximo, conforme as administrações do hospital e da universidade, a ideia é ampliar a capacitação, montando turmas sazonais para que mais colaboradores possam participar. “Aqui, todos são contemplados de forma igual. É importante que tenhamos essa capacitação como forma de, cada vez mais, humanizar o atendimento”, encerrou a superintendente do HU-UFGD, Mariana Croda.

O curso é uma parceria entre HU e UFGD e formará, nessa primeira turma, 40 colaboradoresFoto: HU

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