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sábado, 20 de abril de 2024

UEMS contribui para a formação de mulheres indígenas

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UEMS – 24/03/2016 08h59

Concluir o ensino superior ainda é para poucos, somente 11% da população brasileira entre 25 e 64 anos de idade atingiram esse patamar educacional, segundo o último relatório sobre educação divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Entre a população indígena, principalmente, entre as mulheres este número ainda é relativamente pequeno. Na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), dos 8.793 acadêmicos de graduação, 305 são indígenas e destes, 167 são mulheres cursando bacharelados, licenciaturas e cursos tecnológicos.

Os dados refletem uma realidade tímida, porém, crescente. Afinal, mulheres indígenas têm participado ativamente nos movimentos coletivos e na luta por direitos de seus povos, desempenhado papel fundamental nas articulações em diversos processos como, por exemplo, nas retomadas das terras tradicionais e nas reivindicações de melhorias para suas aldeias. Em busca de aumentar seu protagonismo, hoje, elas não ficam restritas à função de donas de casa, mas caminham na construção de um futuro melhor para seus povos. A formação acadêmica auxilia nesse processo.

A UEMS foi a pioneira a reservar 10% das vagas para todos os cursos para indígenas e isto traz reflexo nas comunidades indígenas. Exemplo disso são histórias de mulheres indígenas que permaneceram na Universidade, concluíram o curso e retornaram as suas aldeias para ajudar e incentivar na mudança da realidade local.

Alessandra Rodrigues da Silva, de 28 anos, formada em Letras Português/Espanhol no ano passado e já atua em uma escola municipal na Aldeia Jaguapiru, em Dourados, lecionando para turmas do 1° ao 8° ano. E se mostra se mostra feliz por ter voltado a sua aldeia para ensinar o que aprendeu na Universidade, “Durante estágio dei aulas em escolas não indígenas, mas prefiro a escola indígena, pois é a minha realidade, então me sinto em casa. E esta realidade é bem diferente, a carência é muito maior e as crianças são mais retraídas. Contudo, a UEMS me deu suporte e me sinto preparada para colocar a teoria em prática. Tenho certeza que escolhi o melhor curso, a melhor profissão, pois sinto uma responsabilidade muito grande de incentivar estas crianças, sei que não posso mudar tudo, mas posso fazer o melhor no que estou fazendo”, ressaltou a professora que ama ensinar português para seus alunos.

A enfermeira Indianara Ramires Machado, de 25 anos, também tinha por objetivo retornar a aldeia de origem e ao se formar na UEMS em 2011, conseguiu trabalho no hospital da missão e meses depois foi selecionada para trabalhar na unidade básica de saúde dentro da Aldeia Bororó, próximo de sua casa. “Gosto de ajudar nas atividades educativas – em ações em rodas de conversa, grupo de gestantes. Trabalhar junto ao meu povo é bom e o aprendizado é diário, pois a cultura influência na forma como eles veem as doenças, então para haver os tratamentos também é preciso de muito diálogo. Hoje as mulheres têm mais representatividade e participação tanto na área acadêmica como na política dentro da aldeia, e isto ajuda muito a comunidade”, finaliza Indianara.

Outras histórias reforçam esse protagonismo de egressas da UEMS que ajudam a transformar positivamente suas aldeias. A indígena terena Dalila Luiz, pedagoga formada pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e aluna do Programa de Mestrado em Letras da UEMS de Campo Grande é um desses exemplos. A profissional reside na comunidade Taunay/Ipegue, localizada na Aldeia Bananal, em Aquidauana. Sua formação na UFMS a habilitou a dar aulas para crianças indígenas, fato que impactou diretamente sua comunidade. Dalila teve que sair de casa ainda cedo para prosseguir no Ensino Médio. “Na época, a escola indígena não ofertava essa modalidade e, para continuar os estudos, tive que deixar meus pais. Sofri com a distância, o preconceito e a ‘realidade’ fora da aldeia, mas superei tudo isso”. Profissionalmente integrada à sua comunidade, Dalila relata que a aldeia tem, hoje, escola que oferece o Ensino Médio, além de transporte que levam os jovens indígenas à Universidade, inclusive, com oferta de bolsas-permanência para eles. “Ainda que a luta por melhorias continue, atualmente vivemos uma realidade bem melhor que antes”, pondera.

Outra terena, Simone Eloy, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e egressa do curso de Direito da Unidade da UEMS de Dourados conta seu relato. Simone também prosseguiu sua trajetória acadêmica motivada por razões pessoais de contribuir com seu povo. Como todas as indígenas citadas, ela teve que superar muitos desafios, “as dificuldades foram superadas com apoio”, revela. Nesse sentido, ainda na graduação, o contato com a Rede de Saberes foi um diferencial para a jovem. O Programa é integrado por quatro Universidades – além da UEMS, fazem parte da Rede de Saberes a UFMS, UCDB e UFGD. Na Universidade Estadual, o projeto é coordenado pela professora Bia Landa. “Integrar a Rede foi fundamental para que eu decidisse seguir a carreira acadêmica. Articular-se junto a outros indígenas universitários, comunidades, lideranças e organizações me auxiliou na construção de minha militância “, finaliza.

Rede de Saberes

A Rede de Saberes da UEMS é uma grande parceira para que os indígenas possam concluir os cursos superiores. De acordo com a coordenadora do projeto, Beatriz Landa, a maioria dos indígenas formados são mulheres. “Houve uma grande alteração no processo de educação dos indígenas nos últimos anos. Com as ações afirmativas as mulheres, hoje, são maior número no ensino fundamental, médio e superior. Isto provocou uma mudança geracional e as mulheres tem possibilidade de ascensão interna na aldeia, na vida pessoal e profissional. Hoje ocupam espaços que eram só de homens e por se formarem em maior número, ocupam também mais cargos, principalmente, na educação e saúde. Elas são protagonistas enquanto pessoas, com nível maior de formação e não dependem mais tanto do homem, começam a poder autogerir suas vidas”, ressaltou Beatriz.

UEMS contribui para a formação de mulheres indígenas

A terena, Simone Eloy, cursa doutorado na UFRJ

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