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quinta-feira, 25 de abril de 2024

Emissão de gases aumenta durante a seca

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Embrapa Semiárido – 03/01/2017 17h13

Pesquisas realizadas pela Rede Pecus com ovinos de corte criados em sistema silvipastoril no Município de Sobral (CE), compararam uma área de Caatinga raleada enriquecida com forrageiras e outra não enriquecida.

Os resultados apontam que os diferentes manejos de pastagem (enriquecimento) não interferem no ganho de peso dos animais e nem na emissão de metano entérico (CH4)­.

As diferenças significativas se concentraram na comparação entre os períodos seco e chuvoso, que apresentaram emissões médias de 29,4 g e 13,4 g de CH4 por quilo de matéria orgânica consumida, respectivamente, o que significa que os animais emitem mais que o dobro do gás durante a estiagem.

Nesse período, foi constatado ainda que, mesmo a ingestão de alimentos sendo menor, a emissão de CH4 pode aumentar. Isso se deve, provavelmente, à baixa qualidade dos alimentos disponíveis no período, o que leva a um maior tempo de permanência desses no rúmen do animal, provocando alterações na fermentação que elevam a taxa de emissão.

Com altas temperaturas, pouca chuva e uma longa estação seca, o Semiárido brasileiro tem na pecuária uma menor vulnerabilidade em relação à agricultura, o que a torna uma das mais importantes atividades produtivas da região.

Diante dessas observações, a alimentação no período de estiagem deve ser uma preocupação constante, não somente para a sobrevivência e manutenção dos rebanhos, mas também para minimizar a emissão de gases de efeito estufa pelos animais.

“Isso mostra que precisamos dar uma atenção especial ao período da seca”, alerta a pesquisadora da Embrapa Semiárido Salete Moraes, coordenadora do projeto componente do bioma Caatinga.

Ela avalia que esses dados darão ao produtor o poder de decisão, pois “é na seca que temos a maior chance de utilizar ferramentas de mitigação, como a suplementação com alimentos de melhor qualidade”.

A importância da alimentação dos rebanhos durante a estiagem foi demonstrada ainda em outra pesquisa da Rede, realizada com caprinos de corte em pastejo na Caatinga, no Município de Petrolina, em Pernambuco.

Neste caso, os animais se alimentavam exclusivamente da vegetação da Caatinga no período chuvoso, mas na seca recebiam suplementação com ração alternativa elaborada com milho, soja e feno triturado de gliricídia, o que fez com que não houvesse diferença na emissão de metano entérico entre as duas épocas estudadas.

O animal e o ambiente

As avaliações das emissões de gases do solo (CO2, CH4 e N2O) apresentaram alguns resultados inesperados, diferentes daqueles relatados em trabalhos similares, o que reflete as particularidades e a complexidade da região semiárida e deste bioma, revela a pesquisadora da Embrapa Semiárido Diana Signor Deon.

Um exemplo é a deposição dos dejetos (fezes e urina) dos caprinos sobre o solo, que, em geral, aumenta as emissões de gases de efeito estufa, o que não ocorreu no estudo realizado em Petrolina (PE).

“Isso acontece porque, no Semiárido, as condições de umidade e a ciclagem de nutrientes no solo restringem os processos de formação desses gases”, observa.

Também foram comparadas as emissões em áreas pastejadas e nativas. Os resultados mostraram que a área cultivada com a forrageira capim-buffel, utilizada para pastejo dos caprinos, emitiu quantidades de óxido nitroso (N2O) semelhantes às da vegetação nativa não pastejada. Já as emissões de metano do solo nas áreas de pastagem cultivada e de Caatinga pastejada foram até mesmo inferiores às da área nativa.

Os dados do balanço de carbono nos sistemas estudados na Caatinga ainda não foram concluídos, mas os resultados preliminares sugerem um saldo positivo na utilização de sistemas silvipastoris para a criação de caprinos e ovinos.

Assim, avalia a pesquisadora Salete Moraes: “Nossa região tem algumas restrições, como altas temperaturas, baixa disponibilidade hídrica, risco climático, solos rasos e pouca cobertura do solo.

Todos esses desafios nos levam a crer que os sistemas que mantêm a biodiversidade, com o uso de pastagem nativa, são a alternativa para a produção desse tipo de animal no bioma Caatinga”.

Por suas diversas características, como tamanho, rusticidade e principalmente por seus hábitos de pastejo (ramoneio), os caprinos e os ovinos são os animais mais adaptados ao ambiente da Caatinga.

Não à toa, esse rebanho predomina nos sistemas de produção do Semiárido brasileiro, onde são tradicionalmente criados em sistemas silvipastoris, baseados no pastejo da vegetação nativa e suplementados com volumosos e concentrados na época seca.

Em comparação com os sistemas de produção que utilizam os bovinos, esses sistemas apresentam menor potencial de emissão de gases de efeito estufa, pois, por sua própria natureza, caprinos e ovinos emitem uma quantidade menor de metano entérico por animal.

Os estudos realizados pela Rede Pecus nos sistemas de produção baseados na Caatinga encontraram estimativas de emissão média de 14 gramas de CH4 por dia para cada ovino e de 34 gramas para caprinos por dia, enquanto para os bovinos o valor de referência indicado pelo IPCC é de 153 gramas de CH4 por animal por dia.

No entanto, como lembra Diana Signor Deon, “esses animais não vivem isolados, eles estão dentro de um sistema de produção e temos que enxergá-los de forma holística, olhando também os solos e as plantas e como esses elementos estão contribuindo para o balanço de carbono e para a emissão dos gases de efeito estufa do sistema como um todo”.

Exclusivamente brasileiro

A Caatinga é o único bioma exclusivamente brasileiro e apresenta fauna e flora únicas, formadas por vasta biodiversidade, composta por 4.500 espécies de plantas e 1.500 de animais, muitas delas com ocorrência apenas nesse bioma.

Sua rica biodiversidade se destaca por resistir a longos períodos de seca intensa, caracterizados por intenso calor, alta luminosidade e falta de água. A palavra Caatinga tem origem no tupi-guarani e significa “mata branca”.

Localizado quase em sua totalidade no Nordeste do País, o bioma possui extensão de 844.453 km², segundo o Ministério do Meio Ambiente, o que corresponde a cerca de 11% do território do País.

Engloba os estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí, Sergipe e o norte de Minas Gerais.

Foto: Marcelino Ribeiro

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