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quinta-feira, 28 de março de 2024

Representantes do agro divergem sobre redução de volume da vacina contra aftosa

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Sociedade Nacional de Agricultura 27/05/2017 13h19

A decisão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) de reduzir o volume da dose da vacina contra a febre aftosa nos próximos anos, de cinco para dois mililitros, além da retirada do vírus “C” – considerado desnecessário, já que foi identificado pela última vez em 2005 –, está dividindo a opinião do setor.

Para Sebastião Guedes, presidente do Conselho Nacional da Pecuária de Corte (CNPC), do Grupo Interamericano para a Erradicação da Febre Aftosa (Giefa) e da Academia Brasileira de Medicina Veterinária (Abramvet), com essa redução, o custo da vacina poderia cair em pelo menos 35% para o produtor e não afetaria sua eficácia na imunização contra os vírus A e O.

“Essa iniciativa já seria a primeira fase da retirada total da vacinação na maioria dos Estados brasileiros”, acredita Guedes.

Para ele, “além de proporcionar mais de meio bilhão de reais de economia aos produtores brasileiros, essa proposta também resultará em redução nas condenações nas ‘toaletes’ de carcaças, na mão de obra de vacinação, na perda de peso e de leite em virtude da Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF)”.

Em sua opinião, esses fatores poderão contribui para que o País tenha uma imagem melhor na avaliação internacional de sua defesa sanitária.

“O Brasil teve seu último foco em 2006, portanto, há 11 anos. De acordo com o Panamericano de Febre Aftosa (Panaftosa), a epidemiologia mostra que, após 4, 5 anos sem focos, pode-se prescindir da vacinação”, completa Guedes.

De acordo com o executivo, essas medidas, além de reduzir os custos dos criadores com a aquisição das vacinas, também minimizarão as perdas ocorridas na toalete das carcaças nos frigoríficos, causadas pela vacina ou pelo processo de vacinação, da ordem de quatro quilos de peso vivo por cabeça. “A vacinação cumpriu seu papel, agora está se tornando supérflua e desnecessária”, comenta.

GANHOS AO PRODUTOR

Na visão do vice-presidente executivo do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan), Emílio Carlos Salani, o projeto para a retirada do vírus C da vacina, como também a redução de dose de cinco para dois mililitros, já protocolado junto ao Mapa, trará ganhos ao produtor e a todos os envolvidos no processo, mas ainda é preciso ter cautela.

“O ideal é que a suspensão da vacinação somente seja feita com extrema segurança, de forma a evitar qualquer possibilidade de reintrodução da enfermidade, o que traria enormes prejuízos ao país”, ressalta.

De acordo com Salani, “inicialmente, fala-se em uma possível redução dos custos com a retirada do vírus C, no entanto, essa análise somente será possível após as conclusões de todas as ações e dos testes que serão realizados pela indústria e pelo Mapa”.

Segundo ele, para isso, os laboratórios produtores de vacina precisam se adequar a essas exigências, com novos investimentos no processo de produção.

Guedes, por sua vez, lembra que sempre existirão lobbies de setores mais organizados para manter essa vacinação, que ele considera supérflua, mas acredita que o Mapa deve permanecer com o objetivo de proteger os criadores e tornar o produto brasileiro mais competitivo e atraente no mercado internacional.

“Agora começam a falar de análise de risco, mas todas as análises disponíveis sinalizam que retirar a vacinação é mais inteligente e econômico. Isso mostrará que nossa defesa sanitária está em outro patamar”, pondera.

RETIRADA

O presidente do Giefa defende a retirada da vacinação da febre aftosa em 2018 e sua conclusão em 2020. “Como todos os dados que já foram apresentados nesse sentido, o Brasil tem que assumir a liderança desse processo na América do Sul e não ficar à ‘reboque’ de decisões de países menores que não têm a mesma envergadura no mercado mundial de carnes.”

Além disso, Guedes acredita que a retirada da vacinação em bovinos vai beneficiar os suinocultores, principalmente do Paraná e do Rio Grande do Sul, que poderão vender seus produtos a países de alto nível de exigência e mais remuneradores como Japão, Coréia do Sul, EUA, Canadá, União Europeia, entre outros.

RESSALVA

Para o vice-presidente executivo do Sindan, ainda há algumas questões a serem levadas em conta sobre o Brasil estar preparado para ficar livre da vacinação.

“Essa resposta somente poderá ser dada com segurança após as avaliações que deverão ser feitas junto a todos os estados pertencentes a cada um dos cinco blocos que estarão a cargo da execução da retirada e da manutenção do status de livre sem vacinação”, analisa Salani.

Salani reforça a confiança da entidade nas resoluções do Ministério de Agricultura, porém faz algumas ressalvas.

“Confiamos no Mapa e nas suas decisões sobre o tema, mas não podemos nos esquecer que a reintrodução da enfermidade no país em um plantel sem vacinação pode gerar um grande prejuízo”, enfatiza.

O presidente do Sindan também menciona perdas nos rebanhos de ovinos, caprinos, suínos e no plantel avícola nacional pela eventual suspensão da exportação da carne bovina que ficaria retida no país, o que impactaria o preço de toda a cadeia de carnes, podendo afetar os preços do milho e da soja, principalmente pela queda da produção de animais confinados e/o semi confinados.

“Como seria feita a manutenção do status de livre sem vacinação em um rebanho da magnitude de um país continental como o Brasil”, questiona.

Para ele, a situação atual da vacinação no Brasil é de ótima qualidade em todo território nacional, inclusive com a conscientização do produtor.

“Todavia, temos que observar quais serão as consequências positivas e negativas pós-retirada da vacinação, como ficaria a sanidade do rebanho, por exemplo, sem a obrigatoriedade dos dois manejos anuais, e que, sem dúvida, é o grande indutor de várias ações dos produtores nos rebanhos, tais como o uso de endectocidas, vacina antirábica e anticlostrídios e como ficará a produtividade, o bem-estar animal”, acrescenta.

Sociedade Nacional de Agricultura

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