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quinta-feira, 28 de março de 2024

Lodo de esgoto é ótimo componente de substratos para plantas

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21/03/2018 16h10 – Por Embrapa Clima Temperado

Lodo proveniente de estação de tratamento de esgoto pode se tornar matéria-prima de um substrato para plantas e de um condicionador de solo.

É o que tem demonstrado uma pesquisa conduzida há três anos pela Embrapa em cooperação com a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), do Rio Grande do Sul.

Em uma das avaliações realizadas, o lodo de esgoto foi higienizado e então utilizado como componente de substrato para mudas, e apresentou resultados de produtividade de fitomassa entre 10% e 20% superiores a alguns substratos comerciais utilizados como referência.

Além de excelente para as plantas, a utilização do lodo dá uma destinação limpa a esse resíduo, contribuindo para a sustentabilidade ambiental.

Os resultados vêm de um trabalho-piloto realizado em solo gaúcho com lodos de quatro diferentes regiões do estado.

Os cientistas alertam que esses resíduos não podem ser aplicados diretamente no solo ou substrato, sob risco de contaminação.

A pesquisa desenvolve justamente formas de tratamento viáveis para esses lodos e avalia seu desempenho agrícola.

Destino correto ao resíduo de esgoto

A ideia surgiu da intenção de se dar um destino mais nobre aos resíduos sólidos gerados em estações de tratamento de esgoto da Corsan, chamados lodos de esgoto.

Esses materiais vinham sendo destinados a aterros sanitários. Seguindo exemplos de experiências bem-sucedidas de uso agrícola de lodo de esgoto em outros estados, como Paraná, São Paulo e Distrito Federal, a Embrapa e a Corsan começaram o trabalho analisando as características regionais de cada lodo, por meio de procedimentos de caracterização e identificação de possíveis contaminantes orgânicos e inorgânicos.

Destino correto também ao resíduo do tratamento de água

Os lodos de estação de tratamento de água (Letas), quando descartados diretamente na natureza, causam impactos ambientais significativos.

Os Letas são formados essencialmente por partículas muito pequenas de argilominerais e de matéria orgânica, a porção mais rica do solo, que ficam suspensas na água bruta e que chegam à estação de tratamento para remoção e tratamento.

As etapas de floculação e decantação buscam separar esses sedimentos e ofertar água potável à população, mas geram grandes quantidades de lodo misturado ao agente floculante, podendo também conter nutrientes, o que lhe dá potencial para uso agrícola.

Essa argila com matéria orgânica pode também melhorar a capacidade de retenção de água em certos tipos de solos, especialmente aqueles muito arenosos, e também levar alguns macronutrientes como cálcio, magnésio e potássio.

Essas características tornam os Letas interessantes para a agricultura em determinados tipos de solo.

Como os Letas ainda não possuem um marco legal para aplicação em solo agrícola, a pesquisa vem gerando informações que, futuramente, poderão subsidiar uma proposta de legislação específica que regulamente seu uso na agricultura.

Lodos devem ser tratados e corrigidos antes do uso

Os lodos de estação de tratamento de esgoto (Letes) são gerados a partir da biomassa microbiana que decanta durante o processo de tratamento do esgoto bruto, no qual os microrganismos decompositores e a própria matéria orgânica digerida do esgoto se acumulam no fundo dos tanques das Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs).

Esse lodo é rico em nitrogênio, fósforo, cálcio e magnésio, e contém ainda vários micronutrientes, mas oferece risco à saúde humana se não for desinfetado corretamente.

Além dos processos conhecidos e normatizados pela legislação brasileira para a higienização de Letes, a pesquisa está avaliando o processo de carbonização para que ele seja melhor utilizado no meio agrícola.

O projeto-piloto começou com a coleta e caracterização física, química e biológica dos resíduos de Estações de Tratamento de Água (ETAs) nos municípios de Gravataí, Rio Grande e Santa Maria; e de ETEs em Passo Fundo, Rio Grande e Santa Maria. Segundo o pesquisador da Embrapa Adilson Luís Bamberg, após essa etapa, estão sendo conduzidas avaliações e identificações dos melhores processos de correção desses resíduos para seu uso seguro e eficiente na agricultura.

“Não é possível a utilização do material dos Letes direto ao solo de uma lavoura, é preciso fazer a higienização – por compostagem ou por carbonização – e no caso dos Letas, também trabalhamos ele somente após correção, pois se não for corrigido, libera alumínio, ferro e manganês em níveis que são tóxicos para a água e à maioria das plantas”, explica o pesquisador.

Técnicas para utilização dos lodos e resultados

No uso de Letas, os lodos gerados são coletados nos processos de desaguamento: centrifugação em leitos de secagem ou por secagem térmica.

O processamento final do produto envolve adequação granulométrica e correção das deficiências. Já os Letes, embora utilizem os mesmos processos de desaguamento, devem passar pela etapa de higienização.

O processamento final poderá se dar ainda pela técnica de peletização ou granulação para facilitar a distribuição e aplicação do produto no campo.

Impacto no aproveitamento de resíduos na produção agrícola

Os resíduos sólidos oriundos das ETAs e ETEs comumente são destinados aos aterros sanitários de diversos municípios no Rio Grande do Sul. Por meio desse projeto-piloto, vislumbra-se oferecer melhor destino para mais de 140 mil m3 de lodos úmidos gerados anualmente pela Corsan.

O Rio Grande do Sul espera seguir exemplos como o da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), que destinou 107 mil toneladas de Lete na forma de adubo a pequenos e médios agricultores entre 2011 e 2013.

Com essa quantidade é possível fertilizar mais de dez mil hectares, trazendo uma economia estimada de mais de dez milhões de reais para os produtores.

Ao longo de anos, o Brasil tornou-se um grande produtor de alimentos, biocombustíveis e fibras, mas é muito dependente de matérias-primas importadas, cerca de 70%, para fabricação de insumos agrícolas (especificamente, 76% dos fertilizantes nitrogenados, 43% dos fertilizantes fosfatados e 91% do cloreto de potássio foram importados em 2015).

Conforme estudo da pesquisadora da Embrapa Rosane Martinazzo, existe baixa produção nacional e instabilidade de preços no mercado internacional de fertilizantes, o que fragiliza o posicionamento do Brasil em relação à sustentabilidade de sua produção agrícola e coloca o desafio de prospecção de soluções alternativas para o setor.

Além disso, o Brasil possui uma infinidade de resíduos e coprodutos de processos agroindustriais que muitas vezes são descartados inadequadamente no meio ambiente, podendo ser melhor aproveitados na agricultura como fontes de nutrientes, diz a pesquisadora.

Considerando ainda a possibilidade de aumento drástico do número de domicílios atendidos por sistemas de coleta e tratamento de esgoto no Rio Grande do Sul, a Embrapa e a Corsan se antecipam ao cenário futuro de aumento do volume de lodos de esgoto gerado como consequência da universalização do saneamento básico.

Acredita-se que o volume de lodos de esgoto gerados no estado possa duplicar nos próximos dez anos.

Consumo e importação de fertilizantes (ano base 2010), estimativa da disponibilidade anual e potencial de suprimento da demanda de nutrientes por coprodutos de processos agroindustriais e da mineração no Rio Grande do Sul.

Ações ambientais

O projeto não se resume ao uso agrícola de Letas e Letes. Ele foi ampliado para incluir a implantação de cortinas vegetais no entorno das ETEs.

A medida reduz o odor gerado e melhora o paisagismo, contribuindo para melhorar a imagem negativa que as ETEs costumam passar à população do entorno.

Outra forma de contribuir com a pesquisa são estudos de zoneamento, que irão determinar os territórios do Estado gaúcho, que estão aptos a receber os resíduos sólidos de saneamento urbano.

“Será apresentado um mapa, indicando quais são as áreas onde não há restrições para o uso destes subprodutos, quais as alternativas para a destinação dos resíduos sólidos, avaliação sobre o raio econômico para o uso dos insumos derivados destes resíduos com base nos custos de oportunidade e logísticos de transporte, assim como, vai apontar os locais preferenciais para estabelecimento de UGLs (unidades de gerenciamento de lodos) com base na análise geoestatística da disponibilidade de resíduos”, explicou o pesquisador da Embrapa Adalberto Koiti Miura, responsável pela atividade.

O trabalho prevê ainda a realização de ações de educação ambiental nas regiões em teste. A ideia é estimular nas crianças mudanças de hábitos, por meio da inserção do conceito de sustentabilidade nos valores e crenças da comunidade.

A meta é realizar 12 cursos de capacitação para sensibilizar estudantes das zonas rurais sobre o uso racional da água.

Outra meta é a realização de cursos de capacitação de técnicos e extensionistas da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Sul (Emater/Ascar-RS) sobre a recuperação de áreas de preservação, nascentes e reserva legal, bem como de práticas de manejo conservacionistas do solo, da água e da vegetação no entorno de áreas de captação de água para abastecimento público.

As atividades estão previstas para se estender até o fim de 2018. Entre as ações propostas no projeto estão a avaliação da eficiência agronômica, a segurança ambiental e a segurança dos alimentos produzidos por insumos oriundos de lodos.

O trabalho tem sido acompanhado pela Emater/RS-Ascar, pela Fundação Estadual de Proteção ao Meio Ambiente (Fepam), pelo Ministério Público Estadual, pela Fundação de Apoio à Pesquisa Edmundo Gastal (Fapeg), contando também com parcerias técnicas da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

Pesquisador da Embrapa Adilson Bamberg - Foto: Paulo Lanzetta

Pesquisador da Embrapa Adilson Bamberg - Foto: Paulo Lanzetta

Pesquisador da Embrapa Adilson Bamberg - Foto: Paulo Lanzetta

Pesquisador da Embrapa Adilson Bamberg - Foto: Paulo Lanzetta

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