04/10/2015 15h27
O Brasil poderá se juntar a outros 29 países que já incluíram em seu calendário uma data específica para campanhas informativas sobre o nanismo, doença genética que provoca um crescimento esquelético anormal, resultando num indivíduo cuja altura é muito menor que a média de toda a população.
A reivindicação foi acolhida pelo presidente da Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE), senador Romário (PSB-RJ), que anunciou na quarta-feira (30) um projeto de lei com essa finalidade, durante audiência pública que discutiu o tema.
Como nos demais países, a data escolhida foi 25 de outubro, em homenagem ao já falecido ator norte-americano Billy Barty, que tinha nanismo e foi uma das primeiras pessoas a lutar contra o preconceito. Para isso, fundou a instituição Little People of America.
Para ressaltar que a iniciativa também se destina ao combate a atitudes discriminatórias aos chamados “anões”, a data será denominada de Dia Nacional do Combate ao Preconceito à Pessoa com Nanismo.
É preciso lembrar que as pessoas com nanismo são pessoas com deficiência que têm o direito de viver uma vida normal e completa, sem a imagem de que são engraçadas ou nascidas para provocar o riso — salientou Romário.
Preconceito
Kenia Maria de Souza Rio, que preside a Associação de Nanismo do Estado do Rio de Janeiro, afirmou que a sociedade, desde seus primórdios, marginalizou as pessoas com nanismo, mantidas sem direitos, atendimento e respeito.
Segundo ela, entre as pessoas com deficiência, os que têm nanismo são os mais “ridicularizados e subestimados” pelos órgãos de comunicação, os maiores responsáveis por estimular preconceitos e lendas.
É mais fácil chamar atenção para os impedimentos e aparências do que para os potenciais e capacidades de tais pessoas — criticou.
Conquistas tardias
No debate, foi lembrado o reconhecimento tardio do nanismo como uma deficiência entre aquelas que autorizam o acesso a políticas especiais de atendimento e medidas de inclusão.
Isso ocorreu por meio do decreto 5.296, de 2004, que regulamentou a chamada Lei da Acessibilidade. Depois, veio a possibilidade de acesso às cotas para postos no mercado de trabalho público e privado.
Vanderlei Linck é um servidor público que chegou ao funcionalismo utilizando o caminho das cotas. Porém, como assinalou, essa alternativa continua sendo pouco conhecida.
Em relação ao setor privado, disse que agora há mais contratações, até mesmo em relação a pessoas com outras deficiências, já que as empresas precisam preencher as cotas.
Redes sociais
O ativista Luiz Numeriano Santiago Barbosa de Farias, da Associação Gente Pequena do Brasil, destacou o trabalho da entidade na divulgação sobre a saúde física e psicológica das pessoas com nanismo, sobretudo por meio da internet.
Ele relata que é oferecido suporte para as famílias, muitas vezes desemparadas após saber sobre a condição de nanismo do filho.
Às mães que vem nos dizer ‘o que meu filho vai ser agora’, a resposta é simples: seu filho vai ser o que ele quiser — salientou.
Lorena de Castro Oliveira, da Associação Pequenos Guerreiros, pediu soluções de mobilidade para facilitar a vida das pessoas com nanismo, tanto no ambiente doméstico quanto no espaço público. E apelou para que estudantes e especialistas em ergonomia se envolvam com o problema.
Ocorrência
O IBGE não possui estatísticas sobre a ocorrência de nanismo na população brasileira. Fala-se em nanismo quando um indivíduo tem altura cerca de 20% menor que a média geral da sua população.
Em geral, esses indivíduos têm uma estatura inferior a 1,45 metro, no caso de homens, e 1,40 metro no caso de mulheres.
Há o nanismo causado por alterações hormonais ou por mutações genéticas, em que alguns órgãos podem ter tamanho desproporcional em relação à altura da pessoa.
A audiência foi acompanhada por diversos senadores, entre eles Ronaldo Caiado (DEM-GO) e Lazier Martins (PDT-RS).
Todos se comprometeram em atuar para que o projeto que cria o Dia Nacional do Combate ao Preconceito à Pessoa com Nanismo seja rapidamente transformado em lei.(Agência Senado)