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quinta-feira, 28 de março de 2024

Plantas biofortificadas têm alta produtividade e fornecem alimentos enriquecidos

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17/12/2014 13h24

Imagine consumir alimentos básicos para a saúde com até vinte vezes mais vitaminas e minerais. Graças a uma técnica conhecida como biofortificação, isso é possível.

Não bastasse o apelo nutritivo, pesquisas demonstram que altos níveis de ferro, zinco e pró-vitamina A em sementes contribuem para a nutrição da própria planta, gerando uma expectativa de produtividade maior.

A partir de repetidos cruzamentos entre plantas da mesma espécie, novas culturas são originadas até se chegar a uma com quantidade de micronutrientes suficientes para integrar o seleto grupo de cultivares que irão servir de forma eficiente no combate a deficiência alimentar (fome oculta), que assola cerca de dois bilhões de pessoas ao redor do mundo.

Além da alta taxa nutricional, testes em diversas cidades brasileiras confirmam a alta produtividade dessas cultivares.

O produtor rural Francisco Flávio e Silva, do Município de Oeiras no Piauí, conseguiu colher junto com o pai, seu Luís Costa e Silva, 25 toneladas por hectare de mandioca biofortificada (BRS Jari), quando a média nacional da cultivar convencional é de 13,61 toneladas por hectare, segundo dados do IBGE (2012).

Nesta propriedade também se pôde comparar a produção de batata-doce convencional, que resultou em colheitas de dois quilos por metro quadrado, com a batata-doce biofortificada, que superou, atingindo oito quilos por metro quadrado.

O agricultor Laerte Rosa, da cidade de Itaguaí, que fica cerca de 60 km da capital do Estado do Rio de Janeiro, planta batata-doce biofortificada da variedade Beauregard com uma produtividade que chega a dezessete toneladas por hectare; quando a média nacional é de apenas oito toneladas por hectare da variedade convencional.

A assistência técnica oferecida pela Embrapa e instituições parceiras tem garantido esse aumento de produção.

Biofortificação no Brasil

A Rede BioFORT engloba todos os projetos de biofortificação no Brasil coordenados pela Embrapa, concentrando esforços nas áreas mais pobres do Nordeste do País. Objetiva melhorar a nutrição por meio de programas de alimentação escolar.

“A biofortificação ataca a raiz do problema da desnutrição, tendo como alvo a população mais necessitada.

Utiliza mecanismos de distribuição de alimentos já existentes e é cientificamente viável e efetiva em termos de custos. Pode complementar outras intervenções em andamento para o controle da deficiência de micronutrientes.

É, em suma, um primeiro passo essencial que possibilitará que famílias carentes melhorem de uma maneira sustentável, sua nutrição e saúde”, afirma a pesquisadora Marília Nutti, da Embrapa Agroindústria de Alimentos (Rio de Janeiro, RJ), líder da Rede BioFORT Brasil.

De 2009 a 2013, cerca de duas mil famílias de agricultores foram alcançadas com cultivos biofortificados em cinco estados do Brasil (Bahia, Sergipe, Maranhão, Piauí, Minas Gerais e Rio de Janeiro).

O estado do Piauí − o mais pobre do País − possui o maior número de parcerias, desenvolvidas em conjunto com as Escolas Famílias Agrícolas (EFAs), empresas de assistência técnica e governos municipais.

Eles servem como um modelo de Segurança Produtiva, um conjunto de medidas necessárias para reduzir os riscos da produção, prejuízos e permitir aos pequenos agricultores a produzir seu próprio alimento com colheita garantida.

Em relação à distribuição de sementes, a Rede BioFORT Brasil utiliza unidades demonstrativas ou de produção, organizadas através do sistema de extensão nacional, para fornecer a agricultura familiar sementes e mudas de cultivos biofortificados.

“Nós iniciamos a primeira unidade em fevereiro de 2011, a partir de então a primeira colheita foi realizada para consumo. Já com a segunda unidade, começamos a comercializar em nível local (comunidade)”, conta Francisco Flávio e Silva, articulador da Rede BioFORT no Piauí.

Logo após, foi realizado um minicurso de processamento na própria unidade de produção, com mais de 30 participantes, quando foram produzidas receitas para transformação em subprodutos tanto da macaxeira como da batata-doce biofortificada. Isso facilita a venda e agrega valor aos produtos. Hoje, o comércio dos produtos se dá tanto na própria comunidade como nos municípios vizinhos.

O projeto de biofortificação de alimentos conduzido pela Embrapa no Brasil há mais de dez anos é realizado através de melhoramento convencional, sem materiais geneticamente modificados (transgênicos).

O foco do projeto é em alimentos básicos da dieta da população como arroz, feijão, feijão-caupi, mandioca, batata-doce, milho, abóbora e trigo. Maria Cristina Paes, pesquisadora da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas, MG) e membro da equipe que desenvolveu a primeira variedade de milho biofortificado (BRS 4104), explica: “Como encontramos variabilidade no nosso banco de germoplasma, conseguimos trabalhar com o melhoramento tradicional.

Foram sete anos de pesquisa para selecionar em cada ciclo as espigas de milho com maior concentração de carotenoides e pró-vitamina A até chegarmos no BRS 4104.

A vantagem dessa cultivar é a polinização aberta, ou seja, os próprios grãos viram sementes para o produtor.”

A equipe da Embrapa Milho e Sorgo também avançou em estudos de retenção desses compostos nos alimentos usualmente consumidos no Brasil, a exemplo do cuscuz, polenta, biscoitos e pães.

Agora, a intenção é avançar nas pesquisas determinando o efeito biológico in vitro e in vivo dos carotenoides nessa variedade de milho para validar a atividade vitamínica A e também o efeito antioxidante, enfim avançar com a determinação da bioacessibilidade e biodisponibilidade.

Além disso, estão em curso pesquisas para o desenvolvimento de novas variedades de trigo, arroz e abóbora no Brasil.

Também estão sendo avaliadas as dimensões de receptividade dos produtores nas comunidades rurais em relação às novas cultivares, os ganhos nutricionais, a aceitabilidade pelo consumidor, as vantagens agronômicas e comerciais.

Novos caminhos para a nutrição e saúde pública com alimentos biofortificados

A deficiência nutricional pode provocar à saúde humana efeitos negativos como morte prematura, cegueira noturna, retardo mental e de crescimento. Isso pode refletir em dificuldades de aprendizagem e baixa capacidade de trabalho, acarretando em prejuízo econômico aos países desenvolvidos e em desenvolvimento.

Na prática, distintas intervenções são necessárias para resolver esse problema de forma eficaz e sustentável, em diferentes contextos socioeconômicos e culturais.

Tradicionalmente, as abordagens para prevenir a desnutrição de micronutrientes foram agrupadas em medicinal (suplementação), de base alimentar (fortificação de alimentos, biofortificação), educação nutricional, e intervenções de saúde pública (saneamento ambiental, vermifugação, controle da malária, etc).

A melhor e mais duradoura solução para eliminar a desnutrição como um problema de saúde pública nos países em desenvolvimento é consumir de forma permanente uma série de alimentos básicos, ricos em nutrientes, visando a segurança alimentar e nutricional.

A estratégia atual para combater a desnutrição nos países em desenvolvimento tem como enfoque principal o fornecimento de suplementos vitamínicos e minerais para mulheres grávidas e crianças.

Entretanto, a biofortificação de alimentos básicos tem o potencial de elevar a ingestão de micronutrientes para milhões de pessoas no mundo, sem nenhum custo adicional para os consumidores.

Merenda mais nutritiva para estudantes

Parcerias formalizadas entre a Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas, MG) e as Prefeituras de Juiz de Fora, Capim Branco, Itabirito, Monte Carmelo, Patrocínio, Santana do Pirapama, no interior de Minas Gerais, reforçam a merenda escolar com alimentos mais nutritivos.

A Rede BIORT, coordenada pela Embrapa, repassa sementes e ramas de cultivares com maiores teores de nutrientes.

A parceria prevê a instalação de uma unidade de produção para multiplicação das cultivares e disponibilização de sementes e ramas a agricultores familiares selecionados, onde produzem feijão, mandioca, milho e batata-doce biofortificados.

Os agricultores, por sua vez, devem se comprometer a retornar a produção à Prefeitura, que comprará os alimentos para utilizar na merenda escolar das escolas da rede municipal de ensino. Mais de dois mil estudantes estão sendo atendidos com essas medidas.

No Rio de Janeiro, três escolas da zona rural do município de Itaguaí, que fica a cerca de 60 km da capital, já estão utilizando alimentos biofortificados.

O almoço dos mais de trezentos estudantes de 4 a 12 anos sempre traz um produto biofortificado, seja batata-doce, mandioca, milho ou feijão. A própria Prefeitura mantém uma unidade de produção para o fornecimento desses alimentos mais nutritivos.

A mestranda do curso de Ciência de Alimentos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Carolina Cláudio, orientada pela pesquisadora Rosires Deliza da Embrapa Agroindústria de Alimentos (Rio de Janeiro, RJ), está realizando testes sensoriais e de aceitação desses produtos. Os resultados devem ser divulgados no início do próximo ano.

Essa equipe do Laboratório de Análise Sensorial e Instrumental (LASI) também está realizando um trabalho de popularização da ciência ligada à educação alimentar nutricional, com atividades lúdicas para os estudantes.

“Há crianças que responderam bem a esse trabalho, antes só comiam arroz e feijão, agora já comem carne, hortaliças e leguminosas, inclusive as biofortificadas”, observa Carolina.
(Embrapa Agroindústria de Alimentos)

Rede Biofort

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