21.8 C
Dourados
sexta-feira, 19 de abril de 2024

Escritor paraguaio Luis María Martínez fala sobre suas obras

- Publicidade -

24/05/2013 15h34 – Atualizado em 24/05/2013 15h34

Tácito Loureiro*

Nesta entrevista inédita realizada na capital paraguaia, Assunção (Asunción), o escritor Luis María Martínez (e-mail: [email protected]) conta ao povo brasileiro um pouco mais sobre a vida e a obra dele. O poeta paraguaio é uma das maiores expressões literárias do país vizinho na atualidade. Outro escritor e poeta, Augusto Casola (e-mail: [email protected]), recentemente publicou um livro a respeito da trajetória intelectual do entrevistado: “Luis María Martínez: obrero de la palabra”. Luis María Martínez elaborou revistas, antologias e compilações e poesias. Hoje, continua em intensa atividade intelectual e compartilha conosco, aqui, conhecimentos sobre a arte literária e a realidade social do Paraguai.

Onde o senhor vive?

Vivo em uma população limítrofe à capital do Paraguai: Lambaré. Estimo-a por ser uma população pequena onde se pode desfrutar das coisas simples da vida, sem interferências que têm as cidades populosas nas quais se opera a enorme perda de tempo sem proveito algum.

Como é possível encontrá-lo para falar sobre a literatura ou até mesmo convidá-lo para atividades culturais?

Basta colocar-se em contato com os meios fáceis de comunicação: telefone, alguma nota, ou pessoalmente em endereços virtuais de fácil acesso. Sempre estou disponível para atividades culturais, toda vez que isso não coincida com obrigações já contraídas ou algum impedimento de horário cotidiano. Bem, sabe-se que finalmente o escritor resulta ser um homem público, cuja opinião, vida e obras escritas transcendem mais além do aspecto meramente pessoal.

Fale um pouco da trajetória profissional como escritor. Que livros escreveu e publicou?

Minha trajetória como escritor tem a duração que supera 50 anos. Escrevi uma quantidade apreciável de coleção de poemas: mais de uma vintena, expressando experiências pessoais e muitos aspectos relacionados com a vida histórica do Paraguai.

Ademais, vários ensaios sobre a obra e vida de poetas praticamente ignorados no país, aos quais concedi o título adequado: “O Trino Soterrado”. E outros de itinerário político e social do Paraguai: “Caderno de Notas” (2 tomos), “Jornalista Inoportuno”, Hérib Campos Cervera” (pai), e outro, da difusão e das influências (na América) de José Martí (poeta cubano): “José Martí em Paraguay”.

Encontra-se um volume em preparação: uma série de notas sobre escritores paraguaios, estrangeiros, e apontamentos de aspectos literários vários.

Quais autores lhe marcaram ou encanta-se em ler as obras?

Na minha adolescência, dois escritores são aqueles que marcaram minha vida: Jack London, um escritor norte-americano, que relatou suas experiências marinheiras de grande riqueza, a vida de aventuras no Alasca. Tomou literariamente cachorros como personagens de novelas, coisa que não se havia feito nunca. Profetizou sobre a possível hecatombe da humanidade na “A Praga Escarlate”, e adiantou a aparição fatídica do fascismo com a repressiva brutalidade e inumana alieção deste em “Tacão de ferro”.

Logo, o russo Máximo Gorki, escritor parecido com London, pois relatou a vida dos vagabundos e descobriu a enorme riqueza vital que está colocada debaixo dos acontecimentos simples de tantos seres humanos.

Na poesia, os poetas espanhois da geração de 1927. Inclinei-me posteriormente e em grande medida ao estilo poético de Miguel Hernández, quem foi o vozeiro mais notável, enérgico e pessoal da Revolução Espanhola (1936-1939), a primeira experiência fascista na Europa.

Quais são os dez livros que devemos ler para conhecer melhor o Paraguai?

Creio que as obras completas de Rafael Barret (com destaque: “Dolor Paraguayo”, “Lo que son los Yerbales”, “Modalidades Actuales”, “Mirando Vivir”); “Migraciones”, de Eligio Ayala; “Infortunio del Paraguay”, de Hérib Campos Cervera; “El Dr, Francia visto y oido por sus contemporâneos”, de José Antonio Vázquez; “Yo el Supremo”, de Augusto Roa Bastos; “Antología Poética”, de Elvio Romero; “Obras Teatrales”, de Julio Correa; “Historia de la Cultura Paraguaya”, de Carlos R. Centurión.

Quase em todas suas obras se nota a perspectiva social do Paraguai. O que representa hoje o tema social em seu país?

Estimo que o tema social é tão vigente e fundamental como há muito tempo. Os problemas sociais, quase todos, têm uma crítica vigente: a saúde, a educação, a vida política pouco justa e livre, as desigualdades econômicas e sociais, a escassa evolução do itinerário histórico do país e um enorme montão de coisas mais.

Até que ponto pode a literatura contribuir na cooperação ao desenvolvimento no Paraguai?

Creio que a literatura deve animar a amar a beleza, ademais fortalecer o sentido crítico da gente, no exame da experiência história do país. Mostrar o que almejamos e o que necessitamos com a máxima urgência: superar essa espécie de paralisia histórica em que ainda permanece o país e o fazer progredir em todos os sentidos.

Que sentido tem a escrita em sua vida?

A escrita permite em primeiro lugar expressar os próprios sentimentos e pensamentos relacionados com a experiência individual, que sempre é única. Logo, o afã de contribuir para despertar o senso crítico da gente que ame a beleza e que dê uma orientação proveitosa à vida.

Como a vida de um escritor pode fazer-se mais presente no Paraguai?

Podendo ter acesso aos meios de comunicação: jornais, rádios, televisão. Nada quase disso existe em nosso meio. Ter facilidade para publicar livros, coisa que não é tão fácil, posto que o FONDEC (Fundo Nacional da Cultura e das Artes) deve atender uma numerosa especialidade da cultura e das artes: teatro, dança, artes plásticas, músicos, e seus recursos devem ser distribuídos entre todos eles. Faz-se necessária a criação do Instituto do Livro, que se concentre na edição e distribuição dos livros. Ao escritor sempre é difícil dirigir-se com recursos próprios e dedicar-se a outras atividades não intelectuais.

Conselhos para os jovens escritores

Que leiam bons livros, os escritos da melhor literatura nacional e mundial. Que enriqueçam os conhecimentos com outros ramos científicos e artísticos. Que não invistam o tempo em entretenimentos pueris, em futilidades que se encontram aos montes na vida diária, em atos de todo tipo, em fantasias inúteis oferecidas pelo consumismo (operam continuamente empobrecendo a realidade da racionalidade da vida…).

O que lhe faz rir?

O notável e paradoxal que se faz nas situações simples, de repente sai a luz, que gera surpresa.

O que lhe faz chorar?

LUIS MARÍA MARTÍNEZ. A dor alheia e as injustiças. E as soluções difíceis para corrigir tais situações.

Quais são teus sonhos?

Que o povo possa desfrutar de seus direitos fundamentais: saúde, educação, meios econômicos para viver bem. Que a cultura cumpra seu papel de comunicação, beleza e virtudes críticas. Que os escritores tenham maiores facilidades para dar a conhecer seus escritos. Que todo o país funcione e progresse. Que reine tanto a justiça como os direitos proclamados pelas Nações Unidas.

Conhece outros países? O Brasil?

Conheço vários países do continente nosso: Argentina, Uruguai, México, Colômbia e numerosos países europeus. Do Brasil, conheço: Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Cascavel, algo de Recife, Foz do Iguaçu… Um país maravilhoso, com um povo muito dinâmico e comunicativo, com homens e mulheres belos e originais. Li inúmeras obras da sua literatura, que se destaca pelo vigor e fortaleza, e livros de outros gêneros, estampas do país como, por exemplo, de Stefan Zweig e a Revista de Cultura Brasileira (editada pela Embaixada do Brasil em Madrid), a qual recebia há vários anos, ainda que já não a receba mais nos últimos tempos.

Onde é possível comprar os teus livros?

LUIS MARÍA MARTÍNEZ. Em algumas livrarias de Assunção, ainda que as mesmas sofram de um mal inveterado: não se preocupam em renovar a existência de livros e o mal principal é a escassa distribuição em todo o país.
Quem tem o maior número dos meus livros é a Editora Arandurá – um termo em guarani que equivale à sabedoria ou conhecimento – cujo e-mail eletrônico é: [email protected] e a página virtual é: www.arandura.pyglobal.com

Gostaria de deixar uma mensagem ao povo brasileiro?

LUIS MARÍA MARTÍNEZ. Que siga com o seu afã de melhoramento econômico e social para o povo. Que siga com sua contribuição ao fortalecimento do Continente. Que trate de afiançar sua comunicação com os demais povos do Continente. Que distribua em maior medida a literatura do país. Que afiance sua marcha ao futuro. Que siga vigorando sua alegria sorridente e original. Que não decline em seu talento nacional e universal. Que seja o Brasil de sempre, de vôo real e inusitado.

*Tácito Loureiro é colaborador

O escritor Luis María Martínez

Veja também

- Publicidade -

Últimas Notícias

- Publicidade -
- Publicidade -

Últimas Notícias

- Publicidade-
Verified by MonsterInsights