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sexta-feira, 29 de março de 2024

Reflexões sobre o papel das cidades, por Vito Comar

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18/05/2015 17h04 – Atualizado em 18/05/2015 17h04

Vito Comar*

Com a meta de entender a dinâmica do uso dos recursos e seu impacto no estilo de vida das cidades modernas e providenciar uma avaliação técnica sobre a energia foi realizado em Estocolmo, Suécia, entre os dias 4 e 7 de maio, o 9º Seminário Internacional Avanços em Estudos Energéticos que focou na questão da Cidade Sustentável.

Foram abordadas as tendências atuais e cenários futuros relacionados a opções energéticas disponíveis, condicionantes ambientais, sociais e econômicos, estrutura de design frameworks para o contexto urbano e o papel dos stakeholderse dos envolvidosem definir políticas públicas.

Nos últimos 10.000 anos, desde o final da ultima era glacial, no período geológico definido como holoceno, desfrutamos de uma biosfera estável nos seus padrões climáticos e disponibilidade de recursos naturais, permitindo o avanço das civilizações e a expansão da humanidade; porém, desde 1950, devido ao aumento da concentração de gases de efeito estufa provocados pelas ações humanas,a temperatura média da atmosfera global aumentou de 0,8 graus centígrados, quase um grau, alterando padrões climáticos, acidificando oceanos, bancos de corais, afetando 60% dos ecossistemas, reduzindo a biodiversidade, savanizando florestas, desertificando extensas áreas produtivas; entramos em outra era, nomeada por alguns cientistas de “antropoceno”, um período dominado pelas ações humanas.

Para contrabalançar estes efeitos, ou, pelo menos mitiga-los, a mudança necessária para reestruturar nossos padrões de produção e consumodeve iniciar nas cidades e requer a criação de uma ampla coalisão que integre os interesses dos stakeholders principais com os peritos envolvidos.É necessário adquirir uma visão de futuro para nortear o caminho, algo que seja construído em conjunto entre todos os setores e atores sociais, onde a pesquisa interaja com processos participativos eficazes para identificar e induzir as modificações necessárias. Não é provável nem imaginável que nosso sistema de inovação poderá superar para sempre o esgotamento dos recursos naturais, pois a inovação (informação) não é livre, tem seus custos e os sistemas produtivos sempre dependerão de alguns recursos naturais.

O metabolismo urbano depende na capacidade das cidades em: 1) estabilizar o fluxo de inputs necessários (alimentos, energia, água e outros produtos) e2) dispor de dejetos, resíduos e outras emissões. Entidades governamentais e instituições requerem ou estão incentivandoalternativas de baixas emissões de gases de efeito estufa, mas não necessariamente alternativas de baixo custo energético, pois a produção desta tecnologia exige processos complexos e dispendiosos em materiais e energia, portanto muita pesquisa ainda precisa ser desenvolvida antes de se atingir os níveis de redução de emissões adequados.

Os sistemas de transporte urbanos são os maiores ofensores, responsáveis por expressivas emissões de gases efeito estufa, precisam ser repensados juntamente à inteira estrutura urbana, incluindo tanto suas característica espaciais, quanto as instituições de governança e os processos participativos necessários à redefinição de padrões de ocupação da terra, que propiciem uma distribuição equitativa dos benefícios das funções sociais da cidade. A cidade deve ser reestruturada, bairros devem ser agrupados em setores mais autônomos, com praças centrais multifuncionais, abrigando serviços essenciais, prefeitura, bancos, comunicações e providenciando postos de trabalho e geração de renda, principalmente uma identidade e governança local, diminuindo a dependência do centro da cidade e a necessidade de deslocamento constante para o mesmo.

Faz parte da descarbonização da economia urbana, mas também é um processo necessário para o enfrentamento de uma situação crítica, tanto do ponto de vista social quanto ambiental, que está ameaçando o nosso futuro comum. Precisa reforçar a capacidade de resiliência urbana – resiliência é a capacidade de navegar todas as etapas do ciclo adaptativo -, providenciando oportunidades de reforçar a cidadania e processos participativos em nível de setor urbano, para melhor identificar demandas e soluções locais mais apropriadas.

Para nos ajudar a evitar consequências indesejáveis e inesperadas, advindas da ultrapassagem de limites ecossistêmicos globais, e construir sistemas mais resilientes, o melhor partido é proteger e zelar pela biodiversidade, que nos permitiu, na complexidade da biosfera, a manter sua estabilidade no holoceno. Para a cidade, isto significa transformar os fundos de vale urbanos em parques lineares, por decreto lei e com planejamento e planos de manejo adequados, assim como a definição de um cinturão verde periférico, conectado a uma rede de corredores ecológicos municipais que permitam a sobrevivência das poucas espécies animais e vegetais existentes.

  • Arquiteto-urbanista e ecólogo, professor do Curso de Gestão Ambiental da UFGD. Colaborador do Instituto de Meio Ambiente e Desenvolvimento. Membro da Comunidade Bahá´í de Dourados

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