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quinta-feira, 28 de março de 2024

UFGD: hora de voltar às aulas, por Geraldo Resende

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04/10/2015 08h32 – Atualizado em 04/10/2015 08h32

Geraldo Resende

No dia 29 de setembro, a greve dos professores da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), como de outras universidades brasileiras, completou quatro meses. Nesse período, nove mil alunos de 33 cursos, oriundos das mais diversas partes do país, estão sem aulas e com os dois semestres praticamente perdidos.

Desde o dia 28 de maio, 950 técnicos estão de mãos dadas com 520 professores — todos eles esperando de braços cruzados que a Pátria Educadora atenda as reivindicações, entre elas: reposição salarial de 27,3%, redução da jornada de trabalho para 30 horas semanais sem diminuição de salário, suspensão dos cortes orçamentos das instituições de ensino, reestruturação da carreira, entre outras pautas.

Enquanto isso, o que se percebe, é que não houve nenhum avanço nas negociações com o governo, com perspectiva praticamente nula de que ainda haja qualquer concessão, tendo em vista a crise econômica e política do governo federal. Assim, a greve pouco tem sido destacada pela imprensa nacional e, muito menos, faz parte da agenda de negociações do governo: nessa queda de braços, perdem não apenas os professores, mas os universitários, que tem sua vida acadêmica paralisada, o sonho de se formar adiado, sobretudo, para aqueles que iam receber o diploma este ano.

As consequências da greve vão muito além das salas de aula. Cidades universitárias como a de Dourados também acabam registrando queda nas receitas, em razão da diminuição na circulação de pessoas que dependem da universidade. Logo, o comércio arrecada menos, prejudicando a economia e geração de emprego e renda do município, A sociedade é penalizada, principalmente, na formação de novos médicos, advogados, psicólogos, entre outras profissões.

Em âmbito nacional, somente a Universidade Federal da Bahia deve encerrar a greve ainda essa semana. As outras 44 universidades e quatro institutos federais em 23 estados permanecem em greve há mais de 100 dias. Igualmente, acontece a paralisação dos servidores da educação superior, que atinge 62 instituições em todo o País. São milhares de salas e inúmeros corredores vazios sem perspectiva de voltar à rotina.

Pelo visto, o Brasil da Pátria Educadora atravessa novamente um ciclo de greves que prejudicam, comprometem e desorganizam muito o calendário dos discentes, além de tornar inviável qualquer planejamento acadêmico. Milhares de universitários acreditavam que se formariam no final deste ano, mas agora viram frustrados os anseios próprios, de seus pais e familiares.

As paralisações que visam forçar o governo a vir à mesa de negociação num quadro de desvalorização dos professores são justas e legais. Mas quando se percebe que, no caso em tela, se esgotaram as chances de conquistas, a volta às aulas é a decisão mais justa e sensata.

No caso da UFGD, temos a agravante de que, segundo alguns professores, o fim da greve não acontece também por conta de um ingrediente político, com o intuito de enfraquecer a reitoria que venceu e assumiu recentemente o pleito naquela instituição, perante o Ministério da Educação. Ou seja, seria uma espécie de “vingança eleitoral”.

A se confirmar tal decisão, temos um cenário onde alunos e seus pais estão sendo penalizados pelo fato de, em sua maioria, terem escolhido um novo rumo para a direção da UFGD. E com isso, os acadêmicos que vêm de fora estão entre a cruz e a espada: ou desistem dos seus cursos e voltam para suas casas, ou têm que bancar custos com alimentação e alugueis sem o devido aproveitamento.

É por isso que muitos acadêmicos, pais e professores estão questionando a quem interessaria essa greve em que as reivindicações postas à mesa não surtiram e não surtirão resultados diante da recessão e da grave crise econômica que compromete as contas públicas e assola povo brasileiro. Por conta disso, cresce a sensação de que alguns professores transformaram a greve da UFGD em um cenário de oportunismo e má fé.

Obviamente não podemos afirmar que todos os servidores e docentes apoiam o atual movimento grevista. Há professores que estão à margem das assembleias. Porém, aqueles que aderiram à paralisação continuam com seus vencimentos em dia, cuidando dos seus afazeres particulares, cuidando de suas pesquisas e tocando seus projetos, escrevendo livros e teses, enquanto a greve vive um protagonismo quase irrelevante no cenário nacional.

Por isso, reforço a defesa da necessidade de regulamentação da greve no serviço público. É o que ocorre em outros países democráticos, onde o funcionalismo público deve respeitar os mesmos critérios que um trabalhador da iniciativa privada.

O que carece nas universidades é o espírito da coletividade e do bem social e comum. A greve prejudica unilateralmente e injustamente os discentes. É preciso abrir um amplo debate sério para melhorar a educação brasileira, sobretudo, para promover a aproximação das relações das universidades com aqueles que frequentam.

As instituições de ensino superior devem caminhar com a sociedade. É essencial promover um pacto pela educação e, não apenas, lançar o mote ‘Pátria Educadora’ e deixar como está.

Se quisermos universidades que formem pessoas capazes de transformar o Brasil em uma nação mais rica, respeitada e que seja modelo internacional de educação, inicialmente é essencial exterminar o câncer do ciclo de greves.

A greve como está, segundo o professor Daniel Araão Reis, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), por tempo indeterminado, não qualifica o debate, anula-o. Não acumula forças, dispersa-as, não concentra, fragmenta e pulveriza, não fortalece, enfraquece.

Esse movimento deve ser página virada para inaugurar um novo ciclo. A greve é um instrumento obsoleto e extremamente prejudicial na educação. E é na educação que devemos evitar que isso ocorra. Afinal, a educação universitária é assunto público, de interesse de todos nós. É primordial que seja instalado o modelo de meritocracia, na excelência acadêmica.

A universidade é um lugar para despertar novos pensamentos e descobrir novos cientistas e estudiosos. É um local de respeito público e convivência coletiva. É essencial que se exerça nos campi o compromisso social da instituição pública. Somente assim, teremos uma educação de qualidade, com perfil e o nível das grandes universidades dos países desenvolvidos.

(*) Médico, graduando em Direito pela UFGD e deputado federal (PMDB-MS)

Geraldo Resende

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