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quarta-feira, 24 de abril de 2024

Paulo Coelho trata dos diversos tipos de traição em seu novo livro, ‘Adultério’

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07/04/2014 17h51 – Atualizado em 07/04/2014 17h51

Ubiratan Brasil – O Estado de S.Paulo

Linda tem uma vida sossegada – mora com conforto na Suíça, onde trabalha em um jornal de prestígio, além de manter um casamento com um homem amoroso. Tamanha tranquilidade, no entanto, logo se transforma em depressão, que é combatida quando reencontra um ex-namorado da adolescência, hoje político bem-sucedido, e com quem inicia um caso amoroso.

Esse é o ponto de partida de Adultério, novo romance de Paulo Coelho, que trata de um assunto delicado, mas que comove multidões, como conferiu em uma pesquisa informal pelas redes sociais. Sobre o assunto, ele respondeu, por e-mail, às seguintes questões.

O livro trata de um assunto novo para você?

Penso que nunca tratei do adultério diretamente. Já falei disso em músicas (Sinto Medo da Chuva, Feito a Maçã), de uma postura menos clássica no casamento. Em As Valquírias, falo basicamente do anjo da guarda. Então, sobre adultério é a primeira vez. Foi baseado no Relatório Kinsey (dos anos 1950), um livro que me marcou muito, depois um filme, e hoje soube que estão fazendo uma série. É sobre a sexualidade. Resolvi fazer um post, porque acho que faz parte do compromisso das pessoas dividir coisas. Pensei: “O que eu poderia discutir mais abertamente com os meus leitores?”. Imaginei que fosse “depressão”. Aí, pedi que colocassem visões dele sobre a depressão, pois acredito ser um dos grandes males deste século. Ao fim e ao cabo, ouvi que, entre mais de mil respostas, 10% falavam de depressão clínica, mas as outras 90% falavam da depressão relativa a uma traição ou decepção amorosa.

E o que fez?

Fui pesquisar na internet. Como as pessoas traídas veem isso? Entrei em fóruns, como homens e mulheres traídos ou que traíram. É um assunto inesgotável. A origem do meu livro está nesse post. Foquei em umas quatro ou cinco pessoas, com quem comecei a estabelecer diálogos, e, em determinado momento, revelei que estava pensando em escrever um livro, e as pessoas começaram a falar mais abertamente, ao contrário de ocultarem. Isso foi em novembro, e eu nunca escrevo livro em novembro, mas sentei e escrevi Adultério.

Foi fácil?

Foi um livro que já estava pronto na minha cabeça, além de ter usado depoimentos dessas pessoas. De repente, o livro estava ali. Minha mulher e minha agente leram e adoraram, mas questionaram: quem vai comprar um livro com o título Adultério? Levanta suspeitas. Mas escrevo o que tenho vontade de escrever, faço isso por amor, e o título é esse mesmo. Tivemos alguns problemas com editoras estrangeiras, que queriam que o livro se chamasse O Caso (The Affair), ou Infidelidade, mas no final todos concordaram, não apenas com o título, mas também em lançar este ano. Pela primeira vez, o livro sai em vários países ainda no mesmo ano.

O livro foi escrito com base em conversas confidenciais entre você e seus leitores, via e-mail. Como foi isso: a ideia surgiu das conversas, ou foi o contrário, você pediu para os leitores ajudarem no enredo?

Não é que eu pedi ajuda, eles não sabiam que eu estava escrevendo livro, nem eu. Nasceu espontaneamente. Quando falei que eu era escritor, já estava com o enredo na minha cabeça.

Você acredita que a infidelidade é mesmo um assunto mal resolvido mesmo para pessoas que se consideram modernas?

Acredito que a infidelidade é um assunto resolvido. Mas, veja bem, existem dois tipos de infidelidade: a do corpo e a do coração. Acho que a infidelidade do corpo é menos relevante do que a infidelidade do coração. Transar uma noite, claro que ninguém gostaria de saber que sua mulher ou seu marido transaram com outra pessoa, mas ter uma relação mais frequente, mais regular, com outra pessoa, isso acho que é um terror total.

Você faz curiosas descrições da Suíça, derrubando estereótipos. Por quê?

Quando terminei de escrever, quis usar um pouco da minha experiência de morar aqui e ver com os olhos de um suíço – que não sou. Mas é engraçado como a Suíça é a terra dos estereótipos. Quando mandei a primeira versão, a reação da minha mulher foi: “Isso a gente já conhece”, e a da minha agente: “Isso não pode ser Inferno, do Dan Brown, não pode ser uma descrição de Florença à la Dan Brown”. Também enviei para o meu assistente, que adorou. Gostei de ter escrito isso, porque a Suíça é aquilo que descrevo e não o que as pessoas veem. Quando minha editora suíça leu, ela ficou fascinada porque descobriu uma Suíça que existe, mas que eles não conseguem ver, por estarem habituados. Ela só pediu para eu não mencionar nomes dos restaurantes, onde digo que a comida é ruim.

Também a forma como descreve o dia a dia de um jornalista é real, assim como do político. Por que escolheu essas duas profissões para seus protagonistas? Acredita que o jornalismo e a política, por lidarem com muitas pessoas, são profissões mais suscetíveis a esse tipo de caso?

Não houve nenhuma intenção, para ser bem objetivo. Eu estava lendo o Tribune de Genève, que é um jornal completamente sem notícias. Estávamos em plena época de eleições e uma coisa juntou com a outra. Pensei: “Quem sabe ela é uma jornalista e ele é um político?”. Depois dessa leitura do jornal que decidi escrever esse livro.

Aliás, você parece ter um grande interesse de repórter ao tratar da questão da intimidade, concorda?

Sim, tenho um interesse de repórter nesta questão. Aliás, como todo escritor, tenho uma imensa curiosidade sobre o ser humano, suas qualidades, fraquezas. É algo que me fascina muito. É a matéria-prima de qualquer livro meu, minha curiosidade em relação às pessoas. Não consigo escrever sobre coisas que eu não tenho experiência, ou vivência. Sou um cara muito intenso nesse sentido. Procuro ir fundo nos assuntos que mais me interessam. Todo escritor tem de ser, acima de tudo, um bom repórter, no sentido de poder definir bem as características dos seus personagens.

Você acredita que o adultério entre as pessoas que o cometem resulta em um tipo especial de intimidade inigualável?

Procurei não julgar – note que o livro não faz nenhum julgamento. Eu queria apenas descrever uma situação segundo meu ponto de vista. Procurei o sentido desses depoimentos. A partir daí, cabe ao leitor estabelecer critérios ou julgamentos. O papel do escritor é mergulhar na alma das pessoas, mas não julgar. Apenas descrevê-la da forma com ele vê.

ADULTÉRIO
Autor: Paulo Coelho
Editora: Sextante (246 págs., R$ 24,90)

Paulo CoelhoFoto: Divulgação

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