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Dourados
sexta-feira, 19 de abril de 2024

Dourados terá exposição ‘A cuidadora de Sementes’

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Dourados terá nesta quinta-feira (16) a abertura da exposição de Sônia Giraldi Marinho, ‘A Cuidadora de Sementes’. O evento acontece às 19h, no bazar da poesia, localizado na Rua Mato Grosso, 2072 (sub-esquina com Major Capilé).

A CUIDADORA DE SEMENTES

“…o amor da gente é como um grão
Uma semente de ilusão
Tem que morrer pra germinar plantar n’algum lugar
Ressuscitar no chão nossa semeadura”
(Gilberto Gil)
Toda a gente conhece dona Sônia Giraldi Marinho. Por sua extraordinária trajetória pessoal, ela se distingue como uma das mais importantes personalidades da história da cidade de Dourados. Empreendedorismo, caridade, habilidades artísticas, carisma e bondade foram forjando o perfil de um ser humano iluminado e generoso, que poderia ser definido por uma só palavra: amor! No alto de seus 92 anos, ela queda doce a desfiar seus rosários com a alma serena. Sempre em oração, inquieta-se apenas pela sua notável criatividade e energia, que lhe permitem interromper a reza (amarrando um fio de lã entre as contas do rosário para marcar onde parou) e lançar-se nos inúmeros e mirabolantes projetos que pululam em sua prodigiosa cabeça.
Seu ateliê, templo de sua cintilante trajetória, jaz, complacente e fiel, à espera de sua artista. Ao redor da grande mesa central, ressoam ainda as animadas vozes das alunas de artes e artesanato produzindo seus objetos e peças. A enorme estante de madeira abriga, como um relicário, os materiais utilizados nos incontáveis cursos e encontros realizados ao longo dos anos. Papéis especiais, lãs, linhas, tintas e pinceis, pedrarias, tecidos, sementes, caixinhas de mdf, armarinhos… Tudo lá, à espera de suas laboriosas mãos… mãos delicadas, talentosas, que encontram em sua arte mais um jeito de falar com Deus.
Ela chega ao ateliê “no morno da manhã”, quando os primeiros raios de sol o atingem e ela se posta à frente do astro rei para receber toda a luz e energia que parecem emanar dela própria. Enquanto se banha de luz, reflete seus sentimentos sombrios… ocorre-lhe a dor do mundo, dos que têm fome, a preocupação com os excluídos, próximos ou distantes, não importa: seu amor é imenso e vibra intensamente por cada um… O dia está apenas começando e já se anunciam a ela as batalhas que terá que travar em fervorosa oração.
O coração de mãe Sônia (como é carinhosamente chamada) é manso e modesto. Durante toda a sua vida seus pensamentos e ações voltaram-se para o próximo. Quer em projetos coletivos ou em pequenos atos individuais, sua postura agregadora e inclusiva arrebanhou uma infinidade de amigas e amigos que a rodeiam até hoje. E ela, com zelosa atenção, dedica-se a cada um por meio de um telefonema, uma oração, uma ajuda, um presente confeccionado por ela e, principalmente, com sua casa sempre de portas abertas, onde quem chega tem sempre um lugar à mesa e acolhida calorosa… A cuidadora das sementes revela-se em cada gesto de cultivo e rega… Em seu imenso jardim florido e perfumado não pode faltar nenhuma flor, ela não permite que nenhuma se perca, pereça, morra…
Desta forma, ela foi semeando a beleza e o amor vida afora, com elevado altruísmo nas relações humanas e admiráveis talento e sensibilidade na expressão de sua arte. E, embora a natureza seja pródiga na espontânea semeadura, mãe Sônia é aquela que se curva para recuperar uma semente que seja, eventualmente perdida, qual aquelas da famosa parábola cristã, “O Semeador”. Quer tenham caído na rocha ou entre os espinhos, as sementes são recolhidas e lançadas em terreno fértil.
Assim é em sua arte. Cada ponto, cada pincelada, qual conta de seu sagrado rosário, corresponde a contrito diálogo com Deus. As cores, as formas, os materiais vão tecendo íntima linguagem da mais pura forma de expressão, uma oração estética não verbal. Miçangas, canutilhos, armarinhos, pedraria – abecedário de seu código artístico -, culminaram na expressão máxima da simbolização de sua alma, sua ancestralidade: as sementes. Elementos de extrema elaboração plástica e de desconcertante simplicidade, elas reúnem em si o eterno ciclo da vida. Elas são nascimento e morte; nascimento porque dão origem a um novo ser, morte porque derivam de um ser que encerra seu ciclo de vida (“…Tem que morrer pra germinar”). E, por estarem tão intimamente ligadas, mais que a vida, mais que a morte, as sementes representam a eternidade…
Este mais recente trabalho de mãe Sônia, com as mandalas, vem coroar seu extenso e produtivo trabalho artístico. Alia-se à eloquente simbologia das sementes, a simbologia da mandala (que significa “círculo”, em sânscrito, e cuja forma evoca harmonia). É o fluxo incessante de renascimento através dos mundos, o ciclo da vida que nunca termina. Deste modo, mãe Sônia instaura-se, com este trabalho, como um ser atemporal. Em sua busca incessante (sempre à frente de seu tempo em cada tempo), ela nos ensina que, mesmo na espontânea semeadura da natureza é preciso estar atento, pois, embora pareça, “nada acontece por acaso”…

Dourados, primavera, 2021.

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