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sexta-feira, 19 de abril de 2024

Autismo: Grávidas não devem suspender uso de ácido fólico, diz médica obstetra

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17/11/2017 14h39 – Por: Valéria Araújo

Um estudo norte-americano, que sugere que a ingestão de ácido fólico em excesso na gestação pode duplicar as chances do bebê nascer com autismo, vem assustando grávidas e mulheres que planejam engravidar. Em Dourados, a médica ginecologista e obstetra, Carla Becker, é enfática: “Grávidas não devem suspender o uso de ácido fólico”, destaca, observando que, em quantidades recomendadas por um profissional de saúde, não há riscos de comprometer a saúde do bebê e da mulher.

Segundo ela, essa vitamina, de maneira geral, é amplamente indicada às mulheres que estão prestes a engravidar ou já estão grávidas justamente para ajudar na formação do feto e evitar defeitos do tubo neural, que podem ser prevenidos se o consumo de ácido fólico ocorrer na dose recomendada. O tubo neural é a estrutura que dará origem ao sistema nervoso central do bebê, incluindo cérebro e coluna.

A pesquisasobre o autismo é da escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg, de Baltimore (EUA), e ainda não foi publicada oficialmente. Apesar disso, a instituição divulgou em seu site um texto com o título “Muito folato em grávidas aumenta o risco de autismo”, que gerou enorme repercussão na mídia nacional e internacional e também entre a comunidade médica.

Apesar do estudo trazer dados que relacionam a ingestão excessiva de ácido fólico à incidência de autismo nas crianças, a ginecologista afirma que não há motivos para se preocupar. “O estudo fala em quantidades excessivas. Se a gestante fizer um acompanhamento adequado de pré-natal e não se automedicar, com certeza fará uma suplementação adequada, indicada pelo seu médico e sem riscos”. Ao O PROGRESSO, Carla Becker explica ainda sobre a importância do planejamento familiar, diferentes métodos contraceptivos e os cuidados na gravidez após os 35 anos de idade.

Qual a importância de se falar sobre Planejamento familiar?

O bom planejamento familiar visa definir qual o momento adequado para ter filhos, quantos filhos este casal deseja e pode ter e qual intervalo entre os filhos. Vale ressaltar que esta decisão cabe ao casal, tanto o homem quanto a mulher devem pensar no planejamento.

Porque o número de gestações não planejadas é tão alto no Brasil?

A multiparidade está fortemente associada a fatores socioeconômicos desfavoráveis, principalmente entre as jovens a quem é imprescindível oferecer informação e acesso aos métodos contraceptivos, pois início precoce da maternidade contribui ao número aumentado de filhos.

Quais são os impactos de uma gravidez não desejada?

Gravidez não desejada traz muitas implicações para mãe, mudança planos pessoais, sonhos deixados de lado, retardo para perspectivas acadêmicas, conseqüências na saúde desta mulher, aumento dos níveis de ansiedade e depressão e mudança no aspecto estético. Também traz problemas dentro do ambiente familiar, principalmente quando a gravidez acontece na adolescência, pois envolve tanto os pais da menina grávida quanto a família do pai da criança.

Quando é a hora de começar a falar sobre o planejamento familiar? Há uma idade recomendada?

Não existe uma idade determinada para iniciar a abordagem da sexualidade, depende de situações clínicas particulares do paciente. A idade não determina o início da sexualidade, devem ser considerados aspectos como maturidade, crenças e costumes.

Quais os métodos contraceptivos são os mais escolhidos e quais os mais eficazes?

Os métodos de anticoncepção mais utilizados são os hormonais. A eficácia esta baseada no índice de pearl (número de gravidez para cada 100 mulheres que usam o método, no primeiro ano – é a capacidade desse método de proteger contra a gravidez não desejada e não programada). O método reversível mais seguro pelo índice de pearl é implante subcutâneo de progesterona.

Quais as probabilidades de alguém engravidar tomando pílulas?

Se considerarmos o uso correto e habitual é de 0,3% (índice de pearl teórico uso sem erros), porém com uso habitual é de 8,0 % (índice de pearl prático de uso típico )

As pílulas causam risco de trombose? Em qual fase da mulher há uma incidência maior? (antes, na gravidez ou no pós-parto). Os benefícios do uso dos contraceptivos hormonais ultrapassam os riscos associados a esses medicamentos.

Um bom aconselhamento contraceptivo às mulheres deve incluir todos os aspectos benéficos e possíveis eventos adversos para, nesse contexto, proporcionar uma escolha informada mais apropriada para cada caso. Os anticoncepcionais hormonais aumentam risco de trombose venosa e arterial mesmo em mulheres sadias, porém esse risco é baixo.

As preparações disponíveis atualmente (EE<50 mg) são consideradas de baixo risco para trombose venosa e arterial em pacientes sem risco. São considerados fatores de risco: indivíduos com mais de 40 anos, imobilidade ou mobilidade reduzida, história prévia de trombose venosa profunda, história familiar de trombose venosa, presença de varizes de membros inferiores, traumatismos graves, condições clínicas: infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca congestiva classe funcional grau III e IV, doença pulmonar obstrutiva crônica, pneumonia, acidente vascular cerebral (derrame cerebral), internações em unidade de terapia intensiva, presença de cateteres venosos centrais; câncer e quimioterapia, viagens prolongadas, condições congênitas e adquiridas que facilitam a formação de coágulos (trombofilias) e obesidade.

No caso do Diu ainda há resistência das mulheres? Existem mitos? Quais as principais dúvidas das pacientes em seu consultório?

Em relação ao DIU, ainda existe resistência, é um método pouco divulgado e rodeado de mitos como medo de câncer, de ser abortivo, de perder o DIU. È método muito vantajoso pois é de longa duração, tem boa segurança de anticoncepção, fácil revisão, inserido de forma ambulatorial, poucos efeitos colaterais. Ele é fornecido pelo sistema único de saúde. Quanto ao modelo de DIU será avaliado pelo profissional de saúde para determinar o ideal para cada paciente.

No caso da pré-concepção. Quais os cuidados que as mulheres devem tomar antes de engravidar?

O aconselhamento pré-concepcional é ponto importante para uma gravidez saudável. Toda mulher deveria passar por ele antes de engravidar. Cuidado com peso, vacinas, uso de medicamento, vícios, sorologias, infecções, doenças crônicas, hábitos esportivos, necessitam ser analisados e corrigidos, quando necessário, antes da concepção. Sempre importante lembrar que quando feito esse aconselhamento e temos algo a tratar ainda não estamos tratando o feto e sim somente a mãe.

Qual a importância do acido fólico antes da gravidez? Em excesso na gravidez pode dobrar o risco de autismo? Qual a dosagem ideal a ser consumida diariamente?

De acordo com orientações do Ministério da Saúde, a suplementação vitamínica com ácido fólico é recomendada para a mulher em idade fértil, dois meses antes de engravidar e nos dois primeiros meses da gestação. O objetivo é prevenir defeitos no tubo neural do feto, formado no momento inicial da gravidez. A suplementação de ferro e ácido fólico durante a gestação é recomendada como parte do cuidado no pré-natal para reduzir o risco de baixo peso ao nascer da criança, anemia e deficiência de ferro na gestante (WHO, 2012). A recomendação de ingestão é de 400 µg de ácido fólico, todos os dias. A deficiência de ácido fólico pode causar má-formação no desenvolvimento fetal, sendo as principais anencefalia e espinha bífida.

Um estudo norte-americano sugere que a ingestão de ácido fólico em excesso por mulheres grávidas ou que querem engravidar pode duplicar as chances de o bebê nascer com autismo, transtorno de desenvolvimento que compromete a interação social e a comunicação da criança, entre outros reflexos decorrentes do distúrbio neurológico.A pesquisa é da escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg, de Baltimore (EUA), e ainda não foi publicada oficialmente. Por outro lado, o ácido fólico sem dúvida traz muitos benefícios para gestante e feto.

A comunidade científica pediu cautela em relação ao resultado dos estudos. “Com base nos seus dados, que não foram revisados por colegas, os autores estão provocando riscos”, disse Max Davie, do Royal CollegeofPaediatricsandChild Health à agência de notícias. “(Os pesquisadores) estão sendo bastante irresponsáveis em solapar o trabalho de saúde pública que tem sido feito há décadas para aumentar o número de mulheres que tomam folato antes e durante a gravidez, a fim de prevenir doenças neurológicas potencialmente devastadoras».

«Essa pesquisa não sugere nenhum efeito prejudicial dos suplementos de folato tomados no início da gravidez», afirmou outro médico, Andrew Shennan, professor de obstetrícia na King›sCollege London. «As mulheres deveriam continuar a ingeri-los», acrescentou. Busquei enfatizar estas observações pois devemos continuar prescrevendo.

O Zika vírus é sexualmente transmissível? Quais os cuidados antes e durante a gravidez para evitar a infecção?

Novos estudos indicam que não só o mosquito Aedes aegypti transmite o vírus, mas também o contato sexual.Há evidências de o vírus estar presente no sêmen de homens infectados. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que casais que vivem em regiões onde há transmissão do Zika evitem a gravidez em momentos de alta circulação do vírus. Em atualização de documento sobre prevenção sexual da doença, a organização aconselha ainda a quem visitou áreas onde o vírus é endêmico, que fique por oito semanas sem fazer sexo ou que use preservativos pelo mesmo período, depois que voltar de viagem. Mulheres diagnosticadas com Zika devem esperar pelo menos 8 semanas após os inicio dos sintomas antes de tentarem engravidar, enquanto os homens devem esperar seis meses para engravidar suas esposas após diagnóstico da doença.

Queda na fertilidade. Qual a idade máxima para a mulher engravidar?

É sabido que a chance de gravidez diminui com o passar da idade para as mulheres até que, com a menopausa, se esgota. Isto ocorre, pois todos os óvulos são formados ainda durante a vida fetal da mulher (antes do nascimento). Após o nascimento não são formados novos óvulos, portanto há um número limitado deles nos ovários durante toda a vida da mulher. Com o passar do tempo, estes óvulos vão sendo usados (ovulam ou degeneram) e a reserva diminui, até que este “estoque” encerre e a mulher tenha a menopausa (última menstruação da vida). Após a menopausa não é possível engravidar naturalmente, pois não há mais óvulos.

A menopausa costuma ocorrer, em geral, após os 45 anos. Entretanto, aproximadamente 10 anos antes da idade da menopausa, por volta dos 35 anos, a fertilidade já começa a diminuir. Isto ocorre pois há também a redução da qualidade dos óvulos que ainda estão armazenados nos ovários. Estima-se que aos 40 anos a mulher tenha perdido aproximadamente 80% de sua capacidade reprodutiva, isto é, a chance de gravidez aos 40 anos é 80% menor do que era aos 20 anos para a mesma mulher. A partir dos 40 anos, em média, a diminuição da chance de engravidar é muito maior a cada ano que passa.

As idades de 35 anos para o início da queda da fertilidade feminina e de 45 anos para a menopausa são estimativas baseadas em médias populacionais.A idade em que a fertilidade começa a diminuir e a idade em que ocorre a menopausa dependem de fatores genéticos e da exposição a agentes ambientais durante a vida, por isto são específicas de cada mulher e podem ocorrer antes ou depois das médias observadas na população. Infelizmente, por enquanto não há como prever nem retardar a idade da queda da fertilidade e a idade da menopausa.

Quais os cuidados devem ser tomados na pré-concepção após os 35 anos? Quais os riscos?

Simultaneamente à queda da fertilidade, por volta dos 35 anos há também aumento progressivo dos riscos durante a gestação, isto é, há aumento na chance de intercorrências como abortamento, hipertensão da gestação (pré-eclampsia), diabetes gestacional, parto prematuro, entre outras, tornando a gestação de maior risco. Diferente do risco de más formações, estas condições não estão relacionadas aos óvulos em si, mas ao útero e ao organismo feminino como um todo.

A médica ginecologista e obstetra, Carla Becker. (Foto: Marcos Ribeiro)

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