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sexta-feira, 29 de março de 2024

Dourados tem apenas 3% da mata atlântica, diz Tetila

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Geógrafo físico Laerte Tetila chama a atenção da fauna e da flora sul-mato-grossense em livro recém lançado

17/07/2018 08h43 – Por: Flávio Verão

Com o intenso desmatamento, a cidade de Dourados perdeu nas últimas décadas 97% da mata atlântica. Em livro recém lançado, o geógrafo físico José Laerte Tetila chama a atenção para o esgotamento dos recursos naturais e ambientais no Estado. O ex-prefeito e ex-deputado estadual falou sobre a obra “Meio ambiente – Mato Grosso do Sul em foco”, lançado pela editora Novas edições acadêmicas. Até o final do ano, Tetila lançará mais livro de mesma temática.

De todos os componentes da paisagem de Dourados e região, não há outro que no passado tenha se destacado tanto e de forma intensa quanto a mata de Dourados, que é própria mata atlântica, vinda do litoral. “O que era uma mata vigorosa, não passa agora de uma pálida imagem do passado. Fragmentada e confinada em minúsculas áreas, vem batendo recordes de desmatamento no Estado. O que restou foram 3% da cobertura original, um afronta ao Código Florestal Brasileiro que determina a preservação de 20% de reserva florestal, por propriedade”, diz Laete Tetila, professor aposentado pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).

Mestre em geografia física pela USP, vertente voltada para a análise dos elementos naturais do espaço terrestre, entende ser fundamental abrir áreas florestais para a produção, mas o problema está no excesso. Pesquisas mostram que a mata de Dourados era intacta até 1943. Com o processo de ocupação da região, por meio da implantação da Colônia Agrícola de Dourados (Cand), cerca de 300 mil hectares passou a ser ocupado. Mas foi a partir da década de 1970, com a expansão do modelo agroexportador, teve início a uma intensa devastação ambiental.

Nos espaços agrários de Mato Grosso do Sul, segundo ele, os ventos vêm retirando umidade dos solos e, cada vez mais causando o ressecamento, problema ambiental que vem chamando a atenção dos agroclimatologistas. O que se espera, segundo Tetila, é a implantação de medidas que venham a amenizar o problema. A prática do plantio direto já é uma iniciativa importante, mas a implantação , também, dos chamados quebra-ventos, formados por fileiras de árvores e arbustos, seria uma medida importante.

O Estado tem uma média de 9 milhões de hectares degradados, muitos deles próximos à malha asfáltica, não sendo preciso, conforme o geógrafo, derrubar mais nenhuma árvore, no entanto, não é isso que vem acontecendo. Frequentemente a Polícia Militar Ambiental de MS aplica multas contra fazendeiros. “Isso acontece porque compensa receber a multa, cujo valor é irrisório. Sem contar que a multa é protelada judicialmente”, critica Laerte Tetila sobre a falta de medidas severas para proteger o meio ambiente.
Geograficamente, plantas e animais silvestres vêm passando pelo drama do confinamento espacial.

Conservar a biodiversidade em áreas intensamente cultivadas tem sido um grande desafio para que haja interligação entre os fragmentos florestais. Para Tetila, isso vem se tornando perfeitamente possível, através dos chamados corredores ecológicos. Trata-se de faixas de vegetação que tem por objetivo ligar grandes fragmentos florestais ou unidades de conservação separados pela atividade humana (estradas, agricultura, clareiras abertas pela atividade madeireira), possibilitando o deslocamento da fauna entre as áreas isoladas e, consequentemente, a troca genética entre as espécies e a dispersão de sementes.

Quando bem preservado e conectado, podem prestar bons serviços ecossistêmicos às propriedades, ajudar no controle de pragas e doenças, na retenção de água no solo, no fornecimento de sementes pra reflorestamentos, na melhoria do microclima, na polinização de lavouras e pomares e ainda dar suporte à biotecnologia.

Matas ciliares

Para escrever a obra, Lerte Tetila visitou todo o Estado. Segundo ele, tornou-se visível às margens dos rios Dourados, Rio Brilhante, Vacaria, Ivinhema, Amambai, Iguatemi, Miranda, Pardo, Paraná, Paraguai, as matas ciliares, com exceção de algumas propriedades em que produtores rurais conscientes as mantém intactas, estarem devastadas, perdendo condição de matas primárias para a de matas secundárias.
Um desmatamento que, segundo o geógrafo, já está muito aquém das larguras exigidas por lei, inclusive, com espaços de margens desprotegidas, onde os rios correm a pleno sol. Ele chama a atenção de situações em que lavouras ou pastagens chegam até as margens dos rios, eliminando grandes trechos de matas.

Isso tem provocado uma grande degradação ambiental, com desbarrancamentos, assoreamento, águas mais turvas, rasas e barrentas, que se somam às nascentes em extinção. Tetila cita como exemplo o rio Taquari, que já inviabilizou cerca de 30 propriedades rurais, sendo um alerta sobre o quanto é necessário a sociedade caminhar em harmonia com a natureza, buscando a produção, porém, sem abrir mão de espaços vitais de preservação.

As matas ciliares, conforme Tetila, é um elo entre os sistemas terrestres e aquáticos, por isso imprescindível ao desenvolvimento rural sustentável. Mato Grosso do Sul tem privilégio de contar com um reservatório gigante, o Aquífero Guarani, um dos maiores depósitos de água doce e potável do planeta, que se estende por 213.700 km do Estado, e que vem sendo utilizado para o abastecimento de cidades, como Dourados e Três Lagoas. Na totalidade, o Aquífero tem 1,2 bilhão de km², reserva hídrica maior que todo o volume de água de rios e lagos do mundo. O Aquífero é visto por especialistas como estratégico a toda a humanidade num possível e já prevista crise mundial de água potável.

No entanto, conforme o geógrafo físico, as lavouras podem e estão trazendo grandes prejuízos ao Aquífero, devido ao grande uso de agrotóxicos. Ele diz que as terras na região do Aquífero são mais produtivas e apresentam solos porosos, que facilitam que a água da chuva, em contato com agrotóxicos e fertilizantes químicos contamine tanto o lençol freático quanto o próprio Aquífero. Tetila chama a atenção que, por ser subterrâneo, uma vez contaminado, ele sempre será.

Pantanal

Mato Grosso do sul vem se transformando em uma das principais fronteiras agrícolas do país, que não para de crescer, tendo como linha de frente produtos como a soja, o milho, a cana-de-açúcar, pinus, eucalipto. Em meio a essa expansão cresce também as discussões sobre o desenvolvimento econômico com sustentabilidade. E uma das maiores preocupações das Nações Unidas é sobre a perda acelerada da biodiversidade.

No Pantanal, a discussão sobre a instalação de pequenas hidrelétricas é um alerta. Uma preocupação que, segundo Laerte Tetila, uma vez que o Pantanal não se trata de bacia hidrográfica qualquer, mas por conter mananciais cheios de vida, autênticos corredores de biodiversidade, cuja destruição jamais poderá ser restaurada.

Uma das grandes preocupações no Pantanal está no desmatamento do arco de planaltos circundantes, ou seja, o peripantanal. Essas áreas elevadas estão perdendo seu manto vegetal original. Com isso, segundo Tetila, estudos apontam que até 2030 a região começa a se transformar num imenso areal. Já a planície pantaneira, por concentrar a principal fonte de vida do planeta, é formada por um conjunto de ecossistemas tropicais frágeis, que a partir da pressão ambiental advinda dos planaltos, podem até desaparecer.

Professor e ex-prefeito de Dourados Laerte Tetila Foto: Hedio Fazan

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