15.5 C
Dourados
sexta-feira, 19 de abril de 2024

Mulheres se “doulam” ao cuidado voluntário de mamães e bebês

- Publicidade -

Mulheres se “doulam” ao cuidado voluntário de mamães e bebês

Conhecidas como “Anjos sem asas”, as doulas voluntárias do Hospital Universitário já ajudaram mais de 450 mamães, dando apoio físico e psicológico

08/03/2018 06h33 – Por: Valéria Araújo

Elas dedicam a vida para ajudar as futuras mamães no momento de “dar a luz”. Conhecidas como “Anjos sem asas”, as doulas voluntárias do Hospital Universitário de Dourados orientam as parturientes sobre o que esperar da gravidez, do parto e pós-parto. Além disso fazem procedimentos comuns como massagens e exercícios que ajudam a mulher a se preparar, física e emocionalmente, para o parto, aliviando as dores, além de proporcionar conforto e segurança nas mais variadas formas.

O grupo de 26 doulas que atuam no Hospital concluiu o 1º Curso de Formação de Doulas Comunitárias do HU-UFGD em janeiro desse ano. São mulheres de profissões diversificadas mas que têm algumas coisas em comum como a vontade de ajudar, a vocação para o voluntariado e para a liderança em suas comunidades, além do entendimento de que a informação é o melhor meio para que a mulher retome o protagonismo e a autonomia sobre seu corpo, a gestação e o parto. Estão entre as doulas, uma policial, uma bombeiro militar, dona-de-casa, terapeuta holística, servidora pública, auxiliar de serviços gerais, agente comunitária de saúde, pedagoga, esteticista, recepcionista, bancária, entre outras mulheres que escolheram servir ao próximo, num momento tão especial e aguardado, que é a chegada do bebê.

Redução nas cesárias

Mais de 450 parturientes já foram assistidas pelas doulas do HU e os resultados não poderiam ser melhores. Dados estatísticos da Unidade mostram uma redução nas taxas de cesárea, verificada no decorrer do ano passado. No primeiro quadrimestre de 2017, os registros do Centro Obstétrico indicam que houve um índice de 50,79% de cesáreas. No segundo quadrimestre, o índice caiu para 50,02% (redução de 0,76%), e no terceiro quadrimestre a taxa de cesáreas ficou em 46,79%, representando uma queda de 3,23% .

De acordo com o HU, esses números mostram que a unidade está no caminho certo para incentivar os partos naturais e humanizados. O procedimento é incentivado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que tem feito recomendações com o objetivo de reduzir a “epidemia” de cesarianas desnecessárias no mundo.

Na avaliação da entidade, enquanto o número de cesáreas e parto com hora marcada aumenta, 830 mulheres morrem diariamente ao dar à luz no mundo. A entidade acredita que não há necessidades de receber intervenções adicionais para acelerar o parto se mãe e filho estiverem em boas condições.

Brasil lidera

Com dados de 2016, a OMS aponta o Brasil como o líder em cesáreas no mundo. A entidade estima que, anualmente, 140 milhões de nascimentos ocorram no mundo, e a grande maioria sem complicações. No entanto, algumas intervenções, como a realização de cirurgias cesarianas ou a administração do hormônio sintético oxitocina para o bebê nascer mais rapidamente, têm sido usadas de forma excessiva nas últimas décadas. Em muitas ocasiões, segundo a OMS, essas intervenções não são apenas desnecessárias, mas fazem com que a mãe e bebê tenha uma experiência negativa em um momento tão importante.

Gratidão de mãe

A dona de casa Selma Fernandes Oliveira acaba de realizar o sonho de dar a luz a uma menininha. Há 11 dias ela foi atendida por uma doula voluntária do HU momentos antes do parto e diz que foi uma das melhores experiências que teve na vida.

“Eu estava enfrentando um momento muito difícil. Estava sozinha no Hospital porque a minha família toda mora em Campo Grande, somente eu e meus filhos residimos em Dourados. Eu estava emocionalmente debilitada, com algumas dúvidas e sentindo muita dor, quando uma dessas meninas que hoje chamo de anjo, veio até mim, me estendendo a mão. Ela me orientou, me confortou e fez diversas massagens que me ajudaram a aliviar a dor. Antes da minha pequena Ester, que foi parto natural, tinha feito uma cesariana. Não tem nem como comparar a recuperação das mães que fazem o natural”, destaca, observando que é mãe de 6 meninos e agora de uma menininha.

Amor ao próximo

A jornalista e empresária Caroline Borges Alia Baggio Ribeiro é doula voluntária no HU. Segundo ela, o sentimento que a moveu para fazer o curso foi o de gratidão. “Eu sou mãe de dois filhos e na gestação do meu primeiro eu queria muito um parto normal e acabei não tendo. Mas na minha segunda filha, como eu queria muito saber como era, eu consegui. Foi um parto bem respeitoso, bem assistido, com bastante carinho e cuidado. Como foi uma busca e algo que tive que lutar para ter, que naquela época não era tão comum, já que as mulheres tinham que buscar muito e querer muito. Então eu sempre tive esse desejo; antes mesmo de me formar doula, eu acho que já poderia me considerar sendo uma porque eu sempre estava ajudando amigas, mulheres que me procuravam, além de gostar muito de falar sobre osso e de como foi essa minha busca, até eu conseguir. Essas ações foram cada vez mais aflorando e decidi fazer disso uma missão de vida. Toda a vez que eu ajudo alguém é como se eu estivesse agradecendo o que um dia fizeram por mim”, destaca, observando que teve um cuidado especial com doula e com uma obstetra que teve um carinho especial por ela.

“Respeitaram o meu momento, o meu tempo e os meus desejos durante o trabalho de parto e isso não tem preço que pague. Hoje eu tento dar as mulheres que ajudo, um pouco do que tive quando precisei. Acredito que todas nós merecemos esse respeito com o nosso corpo, num momento tão especial e único. A mulher pode ter quantos filhos quiser mas cada um dos partos é único e se a gente não tiver a possibilidade de curtir esse momento, ele passa e não volta nunca mais. A gente leva para o resto da vida a experiência boa ou ruim”, explica.

A doula Pullyana Simplício Sena, também é um exemplo de quem teve que lutar muito pelo parto humanizado e hoje se dedica as mulheres com o mesmo desejo. “Em 2013, grávida do meu segundo filho, depois de passar por uma cesárea desnecessária na primeira gravidez, tive que travar uma luta para conseguir um parto humanizado. Me deparei com um modelo de assistência que não incentiva e nem respeita a autonomia das mulheres, que industrializou o parto para atender interesses econômicos, negando a individualidade e o caráter emocional desse momento. Após vivenciar esse processo difícil e transformador, me vi doula ao acolher e ajudar mulheres nessa busca por um parto com respeito. O curso oferecido pelo HU, veio de encontro ao desejo de atuar no Sus e contribuir com essa mudança de paradigma, pois o parto com respeito é direito de todas as mulheres, independente da condição social e financeira”, explica.

Pollyana diz ainda atuar como doula comunitária no HU, é uma experiência única e muito gratificante. “Oferecemos amor, apoio, cuidado, acolhimento, incentivo e informação em um dos momentos mais importantes e de grande vulnerabilidade na vida de uma mulher. Contribuímos para que esse momento seja vivenciado de forma positiva e seja uma boa lembrança para essas mulheres.E recebemos em troca um olhar de gratidão que faz tudo valer a pena, nos faz sentir vivas”, comemora.

Parto Humanizado

A OMS diz que dentre as inúmeras vantagens do parto humanizado está a recuperação da mãe, que é muito melhor, além de estimular fortemente o vínculo entre mãe e bebê. Conforme ainda a Organização, o contato do bebê com as bactérias e os micro-organismos existentes no canal vaginal estimula o sistema imunológico do recém-nascido, fazendo com que o parto normal seja responsável por evitar doenças futuras como asma, obesidade e doenças autoimunes.

O parto natural também evita a prematuridade e a imaturidade pulmonar. De acordo com dados do Ministério da Saúde, as cesáreas agendadas também aumentam em 120 vezes a probabilidade de problemas respiratórios para o recém-nascido e se trata da principal causa do encaminhamento de bebês para UTIs neo-natais.

O que faz uma doula

Desde janeiro de 2013, a ocupação de doula é reconhecida pelo Ministério do Trabalho, inscrita no Código Brasileiro de Ocupações (CBO) sob o número 3221-35.

Durante a gestação, ou mesmo desde antes da concepção, a doula pode orientar o casal sobre o que esperar da gravidez, do parto e pós-parto. Ela explica os procedimentos comuns e ajuda a mulher a se preparar, física e emocionalmente, para o parto, das mais variadas formas.

Durante o parto, a doula ajuda a parturiente a encontrar posições mais confortáveis, mostra formas eficientes de respiração e propõe medidas naturais que podem aliviar as dores, como banhos, massagens, relaxamento. Após o parto, ela faz visitas à nova família, oferecendo apoio para o período de pós-parto, especialmente em relação à amamentação e cuidados com o bebê.

A doula não substitui o pai ou o acompanhante escolhido pela mulher durante o trabalho de parto. Muito pelo contrário: a doula vai ajudá-lo a confortar a mulher, vai mostrar os melhores pontos de massagem, vai sugerir formas de prestar apoio à mulher na hora da expulsão, já que muitas posições ficam mais confortáveis se houver um suporte físico.

O que a doula não faz

A doula não executa qualquer procedimento médico, não faz exames, não cuida da saúde do recém-nascido. Ela não substitui qualquer dos profissionais tradicionalmente envolvidos na assistência ao parto. Também não é sua função discutir procedimentos com a equipe ou questionar decisões.

Vantagens

Pesquisas realizadas em diversos países têm demonstrado que a atuação da doula no parto pode diminuir em 50% as taxas de cesárea, diminuir em 20% a duração do trabalho de parto, diminuir em 60% os pedidos de anestesia, diminuir em 40% o uso da ocitocina sintética (sorinho), e reduzir em 40% o uso de fórceps.

Doula  ajuda mãe com exercícios e massagens para alívio da dor durante o trabalho de parto  Foto: Assessoria de comunicação do HU

Veja também

- Publicidade -

Últimas Notícias

- Publicidade -
- Publicidade -

Últimas Notícias

Extrato de Contrato

- Publicidade-
Verified by MonsterInsights