Especialista em voz também apresenta determinantes à boa saúde vocal e alerta para a prevenção que deve iniciar desde a primeira infância
Por: Maria Lucia Tolouei – 08/12/2016 09h33
Muitas doenças apresentam como primeiros sintomas alterações na fala e na voz. De acordo com o fonoaudiólogo Ademir Garcia Baena, a voz revela não só a personalidade como também o estado de saúde.
“Na voz, é possível detectar as sombras e a luminosidade de cada um. Somos julgados, de uma forma geral, pela maneira de falar e todo projeto de desenvolvimento pessoal deve incluir uma comunicação mais eficiente; é o “marketing pessoal”, enfatiza. Baena também apresenta determinantes à boa saúde vocal e alerta para a prevenção que deve iniciar desde a primeira infância.
Ademir Garcia Baena, que atende em Dourados, é graduado em Fonoaudiologia Pontifícia Universidade Católica do Paraná; especialista em Fonoaudiologia Clinica (Cefac); especialista em Voz (Cefac). Tem aperfeiçoamento em Distúrbios de Aprendizagem e Dislexia (Cefac), Aprimoramento em Eletroestimulação Aplicada à Disfonias e Disfagias. Ele fez estágio em voz pela Universidade Estadual do Arizona (Tempe/EUA), no Centro de Voz da Universidade de Medicina de Pittisburgh (EUA); Universidade British Columbia (Vancouver/Canadá).
O fonoaudiólogo clínico prestou serviço de Otorrinolaringologia no Hospital Santa Maria, da Faculdade de Medicina de Lisboa. É sócio-fundador da Academia Brasileira de Laringologia e Voz, criou o Serviço de Atendimento Fonoaudiológico Público de Dourados.
Baena também criou o Serviço de Atendimento em Fonoaudiologia em Unidade de Saúde, idealizou o Projeto Estadual de Saúde Vocal do Professor (2000), criou o Programa de Saúde Vocal do Professor do Município de Dourados, idealizou o Programa de Saúde Vocal “Viva Voz” do Município de Maracaju e o Programa de Saúde Vocal “Viva Voz” da UEMS. Foi professor de Voz na Mídia (Radio e TV) do Curso de Jornalismo – Unigran. Recebeu várias Moções Legislativas e o Titulo de Cidadão Douradense, pelos serviços prestados na área de Fonoaudiologia.
Confira a entrevista.
Qual o percentual da população que requer atenção fonoaudiológica e por quê?
Com certeza, milhares de pessoas, independentemente de apresentarem motivos ou necessidade evidente de atendimento fonoaudiológico, podem se beneficiar de alguma maneira da fonoaudiologia.
É difícil quantificar um percentual; considerando a ampla área de atuação do fonoaudiólogo: unidades básicas de saúde, ambulatórios de especialidades, hospitais e maternidades, consultórios, clínicas, home care, centros auditivos, asilos e casas de saúde, creches e berçários, escolas regulares e especiais, instituições de ensino superior; empresas de veículos de comunicação (rádio, TV e teatro) e associações.
Distúrbios da voz podem ser prevenidos desde pouca idade? Quais são as principais medidas?
Com certeza, quem tem filhos pequenos sabe que, a cada três meses no máximo, o pequeno apresenta alguma doença. Na maioria das vezes, os casos estão ligados às doenças respiratórias causadas por vírus, e a rouquidão normalmente é um dos sintomas.
Na persistência de rouquidão na criança, há necessidade de uma avaliação mais precisa, pois pode ser um problema vocal e que geralmente tem como causa a incidência de nódulos vocais.
A melhor arma para lutar contra é munir-se de informações e aprender quanto à prevenção. Medidas como publicação de artigos, campanhas preventivas, palestras de esclarecimentos, seriam exemplos a serem colocados em prática.
Fale sobre os principais “inimigos” e aliados da voz.
Os principais vilões da voz são: os abusos vocais, falar alto, gritar, pigarreio frequente, falar em demasia, principalmente em ambientes empoeirados e enfumaçados, competição vocal, tabagismo, ingestão de bebidas alcoólicas, ar condicionado, ventilador, cantar sem conhecimento, ingerir líquido muito quente ou muito frio e contato com produtos químicos e, se apresentar refluxo gastroesofágico, deve-se evitar alimentos, que podem acentuar o problema. Também considero como determinante, a falta de conhecimento de técnicas vocais apropriadas.
Deve evitar o consumo de cigarro, pois, a fumaça quente agride o sistema respiratório, as pregas vocais e o trato vocal; evitar a ingestão de álcool, pois, o álcool produz efeito anestésico e perda da sensibilidade, possibilitando os abusos vocais sem perceber, além de irritar o trato vocal; evitar pigarrear: um hábito comum, que geralmente tem a característica involuntária; é como estivesse raspando a prega vocal, motivando um atrito entre elas. Não gritar, pois o grito agride as pregas vocais.
Evitar o contato com ar condicionado, pois o mesmo provoca ressecamento na mucosa do trato vocal, quando sob ar condicionado, a ingestão de água é muito importante. Evitar a competição sonora, bom como o uso de sprays e pastilhas, sem prescrição médica, porque é um equívoco e tem uma ação, semelhante a do álcool. É de fundamental importância tomar água, de preferência de gole em gole durante o dia, especialmente durante a exposição vocal.
Evitar a automedicação, pois coloca a saúde do indivíduo em risco; a maioria das medicações causam alterações no trato vocal. Evitar roupas ou acessórios apertados na região do pescoço, para não causarem dificuldades na respiração e não atrapalharem a movimentação muscular que promove a fala.
Alterações vocais podem sugerir a ocorrência de determinadas doenças como câncer, gastrite e esofagite, por exemplo, ou alterações no metabolismo?
Sim, com certeza. A voz, além de revelar a personalidade, revela a saúde. Muitas doenças não só as que têm alterações do metabolismo, assim como outras que também tem causas neurológicas apresentam como os primeiros sintomas manifestações na alteração da fala e na voz.
Educação para melhor comunicação e vice-versa não seriam alguns dos propósitos desta ciência [fono] e por que não se investe nesta área? Qual seria o estanque?
Há, sim, necessidade de maiores investimentos, a responsabilidade é de todos, profissionais, entidades educacionais privadas, particulares, órgãos públicos, que devem atuar em harmonia, visando a criação de programas e projetos de atendimento e de prevenção na área de saúde fonoaudiológica.
O que falta é vontade política para executar projetos e programas que visem melhor qualidade de vida.
Qual é sua proposta para a fonoaudiologia prática e democrática?
Minha proposta é a união de todos os profissionais da área de fonoaudiologia e outros profissionais das mais variadas áreas, órgãos públicos, instituições de ensino privadas ou públicas, com o objetivo de planejar, criar projetos e programas, não só na área de voz (aliás, vale ressaltar, que já temos projetos e programas de saúde vocal sendo discutidos), mas também em outras áreas, visando melhor qualidade de vida.
Apontamos para a urgência na planificação da oferta do atendimento fonoaudiológico público.
E a relação entre voz, personalidade e eficiência na gestão da imagem, no mercado de trabalho e, em geral, nas comunicações interpessoais?
A fala, especialmente a voz, é considerada uma tradução e uma das extensões mais fortes da nossa personalidade, ela nos representa revelando nossa saúde, nosso estado emocional, nossas angústias, tristezas, alegrias, nosso equilíbrio, sobriedade, confiança, segurança e outras características. Através dela, as pessoas demonstram quem são o que sentem e como enxergam o mundo.
A voz é um “segundo rosto”, é como se fosse uma “impressão digital”, única e, portanto, singular. Na voz, é possível detectar as sombras e a luminosidade de cada um. Portanto, tendo uma voz de boa qualidade, que convença, com certeza o indivíduo terá mais brilho. Ela é, igualmente, uma arma de extremo poder nos processos comunicativos.
A habilidade de comunicação interpessoal é extremamente exigida no ambiente pessoal, social e profissional. Somos julgados, de uma forma geral, pela maneira de falar no que diz respeito à formação social, profissional, cultural e espiritual, portanto, ter uma articulação precisa e uma voz bem impostada faz parte da arte de viver bem e ter sucesso.
Essa habilidade vai nos representar positivamente, nos permite o desenvolvimento das sensações de segurança, autoconfiança, credibilidade, firmeza, felicidade e enriquecimento interno. Todo projeto de desenvolvimento pessoal deve incluir uma comunicação mais efetiva, mais eficiente; quem se comunica com emoção, eficiência, está naturalmente fazendo seu “marketing pessoal”, evidenciando uma imagem positiva.
O que vemos é uma relação estreita entre esses conceitos, a voz é um cartão de visita.
É possível mudar o perfil da voz? Como? O que acarreta, qual o impacto sobre a vida, trabalho, etc?
É possível, sim, aprimorar o perfil vocal, fazendo uso de condutas que permitam através de exercícios personalizados, treinamentos, considerando a demanda de cada profissional, o que vai propiciar ao indivíduo uma voz bem colocada, uma articulação precisa, com o objetivo de estabelecer uma comunicação mais eficiente, tornando-o um profissional de sucesso.
O bom comunicador é aquele que transmite suas mensagens com clareza, objetividade e personalidade, causando um impacto extremamente positivo. A voz nos permite conjugar o verbo ser.
Considerações finais
Importante ressaltar a criação de Programas de Saúde Vocal, visando o adequado uso deste precioso Instrumento de Trabalho que é a voz.
É fundamental que haja maior envolvimento das instituições, como universidades, órgãos competentes do estado e municípios, para que mudanças mais robustas ocorram, assim como políticas mais efetivas, sempre visando melhor qualidade de vida.
Oportuno, neste dia 9 de dezembro, que se comemora o Dia do Fonoaudiólogo, parabenizar todos o profissionais que abraçam com dignidade a profissão; desejar a todos os meus colegas, pacientes, amigos e aos douradenses, um Natal de muita luz, muita paz, e um Ano Novo pleno de boas realizações e belas conquistas.
