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quinta-feira, 25 de abril de 2024

Cientistas usam larvas de mosquitos aquáticos como bioindicadores ambientais

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06/05/2019 14h16 – Por Embrapa Meio Ambiente

Pesquisadores da Embrapa e da Universidade Federal da Grande Dourados (UFDG), em estudo realizado na Amazônia, descobriram que mudanças no padrão alimentar de uma família de insetos aquáticos (Chironomidae Diptera), presentes nos igarapés da Amazônia Oriental, podem servir como importante indicador das alterações ambientais causadas pela atividade agrícola.

Foi a primeira vez que as consequências de diferentes usos e coberturas do solo foram avaliadas utilizando esses insetos.

Como esses animais podem ter uma maior ou menor sensibilidade à poluição e às mudanças no ambiente, necessitando de condições específicas para se desenvolverem, eles indicam aos cientistas a extensão e intensidade de impactos ambientais em um ecossistema aquático e na bacia.

Para isso, são analisados fatores como a presença dos insetos, sua quantidade, distribuição e comportamento alimentar.

O estudo revelou que os córregos em ambiente de floresta mostraram uma assembleia aquática (grupo de insetos) mais estável, enquanto que as encontradas em áreas com agricultura se apresentaram menos diversas e funcionais.

As diferenças observadas na dinâmica alimentar das comunidades de insetos são relacionadas aos impactos do uso e da cobertura do solo, evidenciando a estreita influência que existe entre o desmatamento de áreas de floresta ripária (mata ciliar) para uso agropecuário e as mudanças verificadas na funcionalidade alimentar desses insetos.

Uma família de peso

Chironomidae geralmente é a família de macroinvertebrados mais abundante nos ecossistemas aquáticos de todo o mundo e exerce um papel ecológico importante, seja na condição de presa, como fonte de alimento para seus predadores naturais, ou como regulador de outras populações, se comportando como predadores.

Ela também auxilia na conversão de matéria orgânica em proteína animal e na sua disponibilização.

Um fator importante de impacto da agricultura observado sobre as comunidades de macroinvertebrados aquáticos é a adição de sedimento mais pronunciada em córregos de pastagem que nos florestados, o que promove significante diminuição na abundância de insetos fragmentadores.

Ou seja, esse tipo de inseto é encontrado em menor quantidade em águas que passam por áreas desflorestadas.

Por outro lado, o estudo identificou comunidades mais estáveis em córregos de floresta, com maior participação de insetos filtradores e coletores, enquanto as comunidades aquáticas em áreas agropecuárias apresentaram maior presença de insetos predadores.

Os insetos fragmentadores são diretamente relacionados à disponibilidade de matéria orgânica que, no estudo, teve presença significativa em córregos florestados.

Conforme ressalta a pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente (SP) Kathia Sonoda, os resultados apurados reforçaram estudos já realizados, nos quais foram reportados efeitos negativos de sistemas agrícolas na degradação de córregos.

Segundo ela, esses trabalhos mostraram a importância da mudança de comportamento da família Chironomidae (veja quadro) na comunidade com o aumento das áreas agrícolas.

Ou seja, quanto menor a interferência no ambiente, maior o equilíbrio das comunidades de insetos aquáticos.

Além disso, a pesquisadora conta que, devido à presença de gêneros sensíveis e resistentes às alterações ambientais, esses insetos são bons indicadores de qualidade do ambiente.

“Apesar da sua abundância e diversidade nos diversos ambientes aquáticos neotropicais, essa família ainda carece de muitos estudos de sistemática, biologia, ecologia e comportamento, além da formação de um maior número de profissionais dedicados a estudá-la”, pondera a cientista da Embrapa.

A pesquisa

A vegetação nativa na área estudada é basicamente composta por floresta úmida aluvial densa e floresta úmida de terras baixas.

A cobertura do solo se apresenta como um mosaico composto principalmente por capoeira em diversos estágios de vegetação nativa, pastagem, campos de pequenas culturas agrícolas e remanescentes florestais.

Quatro áreas de amostragem foram selecionadas para o estudo, duas na bacia do Rio Marapanim, as outras duas na bacia do Rio Capim e Guamá, ambas no Pará. Foram amostrados 20.884 indivíduos nos dez igarapés, compreendendo 64 gêneros, a maioria deles (37) da subfamília Chironominae.

Na região neotropical, em geral, é comum que a subfamília Chironominae seja a mais representativa. Esse padrão de distribuição foi encontrado nas três categorias de uso e cobertura do solo.

“Os resultados corroboram diversos estudos realizados nos últimos tempos demonstrando a importância da preservação, conservação e recuperação das florestas ripárias”, revela Anderson Ferreira, professor da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).

“Alterações nos ecossistemas ripários levam à desestruturação dos canais, principalmente na perda de habitats, além de afetar toda a cadeia trófica de todos os organismos aquáticos.

Nossos resultados vêm ao encontro de estudos que demonstram que o uso e cobertura do solo no restante das bacias hidrográficas também apresentam efeitos deletérios aos ecossistemas aquáticos”, revela.

Biomonitoramento como ferramenta de manejo do solo na Amazônia

De acordo com a pesquisadora da Embrapa Kathia Sonoda, o biomonitoramento pode ser empregado no manejo sustentável do solo da Amazônia Oriental.

“Seria uma contribuição importante para a manutenção da floresta local em macroescala, e isso é relevante à medida que a Amazônia preservada contribui para a estabilidade do regime de chuvas nas demais regiões do Brasil e até nos países vizinhos, por intermédio do fenômeno dos ’rios voadores’.”

Os rios voadores são “cursos de água atmosféricos” formados por massas de ar e vapor de água, acompanhados por nuvens e levados pelos ventos.

Essas correntes invisíveis viajam longas distâncias carregando a umidade da Bacia Amazônica para o Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil para caírem novamente como chuva.

Kathia Sonoda lembra que a redução da pluviosidade na bacia do Rio da Prata é influenciada pelos desmatamentos da Floresta Amazônica e que “esse processo poderá afetar, de forma significativa, a produção agrícola do Brasil e mais quatro países do sul da América do Sul”, prevê a cientista.

Para direcionar as estratégias de manejo visando à conservação do bioma aquático mediante a exploração do solo, é importante considerar a influência dos graus de mudanças no desenvolvimento das bacias hidrográficas e também no tipo de manejo da pastagem, em que aquelas sob regime de rotação são associadas à maior estabilidade das margens de córregos, maior qualidade de habitat aquático, menor compactação do solo e maiores partículas no fundo do córrego.

Para Sonoda, um fator importante de impacto da agricultura sobre as comunidades de insetos aquáticos é a adição de sedimento, mais pronunciada em córregos de pastagem que nos florestados.

Ela explica que esse fator promove significativa diminuição na abundância de insetos fragmentadores, algo que foi observado no estudo.

A presença dos fragmentadores é uma relevante forma de avaliar o ambiente, já que eles estão associados à presença de vegetação oriunda de outras áreas, indicando um local com elevado grau de conservação da floresta ripária.

Segundo a pesquisadora, o entendimento do impacto do uso e cobertura do solo sobre a entomofauna (insetos) aquática é uma etapa fundamental para projetos de restauração.

“É reconhecido que o biomonitoramento aquático é um campo científico capaz de refletir, em tempo real, a qualidade do sistema estudado e, por essa razão, obteve uma grande atenção da comunidade científica mundial nas últimas décadas”, analisa a cientista.

Veja o trabalho completo publicado em um comunicado técnico disponível na internet. Além de Sonoda, participaram da pesquisa Josinete Monteles, oceanógrafa autônoma; Anderson Ferreira, professor adjunto na UFGD; e Pedro Gerhard, pesquisador da Embrapa Territorial (SP).

Insetos aquáticos presentesna água indicam áreas preservadas ou degradadas

Foto: Arte: Silvana Teixeira

Foto: Mariana Silveira

Foto: Projeto Rios Voadores

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