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sexta-feira, 19 de abril de 2024

Gesso na cana contribui para sequestro de carbono no solo

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24/04/2019 06h28 – Por Embrapa Cerrados

Dados de dez anos de estudos conduzidos na área experimental da Embrapa Cerrados (DF) registraram que o uso do gesso agrícola (sulfato de cálcio) na cana-de-açúcar não só eleva a produtividade da cultura como também pode ser um importante aliado no sequestro de carbono atmosférico.

“Isso ocorre devido ao maior crescimento das raízes”, explica o pesquisador da Embrapa Djalma Martinhão.

De acordo com seus estudos, além de dar maior retorno econômico ao produtor, o gesso também contribui para diminuir o passivo ambiental.

O experimento que está avaliando o comportamento do gesso no cultivo de cana-de-açúcar começou em 2008, com a caracterização do solo.

O plantio da cana no local foi feito em julho de 2009. Os estudos visam suprir os produtores de informações sobre a duração dos efeitos residuais de doses de gesso nos atributos químicos do solo, na densidade de raízes e na produtividade dos canaviais.

“A produtividade média da cana no Brasil é de 70 toneladas por hectare (t/ha). Aqui, conseguimos 120 t/ha no nono corte, isso representa um aumento de quase 50% da produtividade alcançada na ausência do gesso, que foi de 81 t/ha”, comemora o estudioso.

Com relação ao comprimento das raízes, as análises registraram que em quatro anos elas cresceram bem até um metro de profundidade e, em sete anos, o efeito do gesso em seu desenvolvimento foi melhor até dois metros.

“O uso do gesso nesse local promoveu um incremento de 34% na massa de raízes, em especial na camada de 40 cm a 200 cm.

Devido a isso, registramos um ganho de 12,3 toneladas de carbono por hectare nessa camada de até dois metros”, afirma Larissa Tormen, orientanda de Martinhão durante o doutorado em Agronomia pela Universidade de Brasília (UnB), cujos estudos foram realizados na Embrapa Cerrados.

O gesso na cana

As pesquisas relacionadas ao uso do gesso na região do Cerrado começaram na década de 1980. Em 1995, a tecnologia foi lançada e recomendada pela Embrapa.

Desde então, a adoção da gessagem no Brasil tem evoluído e a adesão dos agricultores é cada vez maior, sendo a cana-de-açúcar uma das culturas que mais utiliza o insumo.

“Desde quando começamos a plantar cana-de-açúcar sempre usamos o gesso. Primeiramente, foi para corrigir o solo e, hoje em dia, como o perfil do nosso solo é muito bem tratado, usamos mais como fonte de enxofre, pois ainda é a fonte mais barata desse elemento”, conta o produtor rural Sebastião Carvalho, de Quirinópolis (GO).

Ele possui uma propriedade de 1.400 hectares, sendo que 900 deles estão ocupados com cana-de-açúcar. Segundo o produtor rural, a média de produtividade alcançada nos últimos anos foi de 104 toneladas/hectare.

De acordo com o pesquisador da Embrapa, devido à aplicação do gesso como corretivo da acidez e fonte de enxofre, observa-se nas lavouras ganhos de até 12 t/ha de colmos.

No experimento instalado na Embrapa Cerrados, no entanto, foram observados ganhos médios anuais ao redor de 22 t/ha de colmos e 3,8 t/ha de açúcar considerando nove cortes.

O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, com 8,7 milhões de hectares cultivados. Grande parte da área de cultivo está concentrada na região do Cerrado, cujos solos são originalmente pobres em nutrientes e onde é frequente a ocorrência de secas prolongadas.

Por esses motivos, o uso do gesso é considerado de extrema importância ao proporcionar maior crescimento das raízes e, assim, otimizar a eficiência da utilização de água e nutrientes disponíveis no perfil do solo.

Na safra 2017/2018, a produção de cana no País foi de 633 milhões de toneladas, o que gerou 37 milhões de toneladas de açúcar e 27 bilhões de litros de etanol (Conab, 2018).

Alta relação custo-benefício

O gesso agrícola, subproduto da fabricação de ácido fósforico, é vendido atualmente a cem reais a tonelada, sendo que o maior custo pode ser com o frete, que depende da distância entre a propriedade e o local de compra.

Atualmente, as fontes de gesso agrícola no Brasil estão localizadas em Minas Gerais (Uberaba), Goiás (Catalão) e São Paulo (Cubatão e Cajati).

“O retorno econômico devido ao uso do gesso é certo, podendo os custos, na maioria das vezes, serem pagos no ano de aplicação do produto”, explica o pesquisador Djalma Martinhão.

Segundo ele, essa tecnologia apresenta alta relação custo-benefício, pois o efeito residual do gesso agrícola é grande.

“Considerando um período de doze anos, essa relação é de 15 a 25, o que significa dizer que para cada R$ 1,00 aplicado em gesso, o agricultor terá um retorno de R$ 15,00 a R$ 25,00 em culturas de grãos, devido ao aumento da produtividade.

Para cana, o retorno em um período de cinco cortes foi de R$ 7,00 para cada R$ 1,00 investido em gesso.”

Calagem X gessagem

Os solos do Cerrado apresentam em sua maior parte excesso de alumínio e baixos teores de cálcio e magnésio, o que os tornam ácidos tanto na camada superficial (até 20 cm), quanto na camada subsuperficial (abaixo de 20 cm).

Solos ácidos afetam diretamente as raízes das plantas. Por sua vez, um sistema radicular pouco desenvolvido limita a absorção de água e nutrientes e, consequentemente, a produtividade das culturas.

A prática agrícola utilizada para corrigir a acidez da camada superficial do solo é a calagem. No entanto, o problema da acidez dos solos do Cerrado pode muitas vezes atingir a camada subsuperficial, abaixo de 20 cm.

Nesses casos, a incorporação profunda de calcário não corrige de forma satisfatória a acidez e a deficiência de cálcio.

Nessas condições, a aplicação do gesso supre o solo com cálcio e enxofre e reduz a toxidez do alumínio até as camadas mais profundas.

Foto: Djalma Martinhão

Foto: Djalma Martinhão

Foto: Gisele Rosso

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