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sexta-feira, 29 de março de 2024

Os bons tempos que não voltam mais – Edgard Jardim Rosa Junior

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11/05/2012 13h19 – Atualizado em 11/05/2012 13h19

Os bons tempos que não voltam mais

Edgard Jardim Rosa Junior

Essa estória de se dizer que “os bons tempos foram aqueles que vivenciamos no nosso passado” tem tudo a ver com as nossas lembranças e, portanto, saudades de um passado que já se foi, que acabou. Nesse contexto é colocado de forma prática pelos norte americanos, como dito popular, que “ o bom dos bons tempos do passado é que eles já se foram e não voltam mais”.

Como é possível se ouvir, ainda hoje, que “no passado é que era bom”, se hoje as condições que o nosso povo tem à sua disposição em termos de saúde, lazer, economia e tudo o mais que os governos possibilitam ou que o dinheiro pode comprar é melhor, como é o caso da uma grande variedade de bens de consumo que estão à nossa disposição e facilitam e melhoram a nossa vida.

A maior prova de que o “hoje” é melhor que o passado nos é fornecida em números e demonstra que a nossa vida está muito mais longa e, portanto, melhor que antes. Temos, nesse contexto, que concordar com aquele ditado dos gringos. Esses números comprobatórios demonstram que em 1960 a expectativa média de vida do brasileiro era de quase 55 anos, passando para 73,5 em 2011 e com previsão que chegue perto de 80 anos em mais vinte anos (quando os homens teriam a mesma expectativa de vida das mulheres).

O que justifica então essas nossas lembranças, mais comuns depois que passamos dos 50 anos, que insistem em nos dizer que os bons tempos foram aqueles já passados, mesmo sabendo que eram difíceis de serem “vividos”, “convividos” e “divertidos”?
Não sei responder a essa pergunta, mas sei que aquele tempo foi responsável por quem sou hoje e, em parte por quem os meus filhos são e meus netos serão no futuro.

A família e o valor que ela tinha talvez fosse um dos pontos fortes daquela época, coisa que não sei se existe nos dias de hoje, por várias razões, incluindo até mesmo as correrias e atribulações do nosso dia a dia atual.
Mesmo sabendo de tudo isso, e que é um contra censo pensar o contrário, gosto de lembrar que, lá em Valparaiso, interior de São Paulo:

  1. As poucas guloseimas que poderíamos ter acesso fora de casa e pelas quais esperávamos com ansiedade eram os biscoitos maria, maria mole, churros, bijus, raspadinhas e algodão doce. Para beber dispúnhamos da tubaína. Crush, e grapette, com seus sabores diferenciados, vieram mais tarde,

  2. Toda manhã podíamos ver a passagens dos verdureiros, padeiros e bucheiros (vendedores de carne) em suas carroças características,

  3. Como não se tinha televisão, vídeos game ou computadores, as brincadeiras quando criança, se baseavam em jogar bolinhas de gude (não me esqueço de termos usados no jogo como “mudes” ou “rouba monte”) ou lançar pião e fazê-lo girar na palma das mãos ou a correr no seu próprio fio. Podia-se, ainda levantar papagaio (pipas) e depois do jantar, brincava-se de “salva” no meio da rua.

  4. Construíamos e rodávamos com carrinhos de rolimãs e, para tanto, procurávamos as ruas mais íngremes e lisas (de terra) e lá nos dispúnhamos a obter a velocidade máxima. Quando nos machucávamos, era com areia que praticávamos os primeiros socorros evitando o sangramento (o duro depois era lavar o machucado em casa com aquilo já seco),

  5. Não era raro sairmos para pescar lambari e no caminho, tentávamos, com estilingue, abater alguma rolinha. Isso sempre acabava, no final da tarde, com os amigos comendo sardinha com pão e uma limonada sempre das piores, mas nos gabávamos dessas proezas ocasionais,

  6. Mais tarde, com a vinda da televisão, era uma angústia esperar o início da programação, que só começava às 15:00 horas e terminava às 21:00, “sempre com as melhores imagens” (chuvisco era a única coisa clara). Por falar em imagens era rotina semanal o meu pai subir no telhado e virar a antena, tendo alguém em baixo dizendo se as imagens tinham melhorado ou não. A programação básica era de desenhos animados, telejornal muita música da jovem guarda ou caipira e novelas melodramáticas, como o caso de “direito de nascer” e “irmãos corsos”,

  7. Normalmente o início dos procedimentos das paqueras se dava na praça central, onde as meninas andavam no sentido horário e os meninos no anti-horário em torno da fonte luminosa e o único “point” da cidade era o bar do “nano”, onde chegávamos às 19:00 h e saíamos em torno das 22:00 h,

  8. O difícil era quando os nossos pais resolviam fazer alguma visita e tínhamos que acompanhá-los e lá chegando, ficar quietinho no canto de um sofá, sem abrir a boca, pois criança nunca falava, só se questionada,

Sabendo e saboreando tudo isso e outras coisas mais que se pode ou não comentar, nos lembramos com carinho e saudades daquela época vencida por todos nós com muito amor recebido e sem dinheiro algum para gastar, mas temos que ter em mente a clareza que nossa vida é melhor hoje que ontem.

*Prof. FCA/UFGD

Professor Edgard Jardim Rosa Junior

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