12/02/2012 18h36 - Atualizado em 12/02/2012 18h36
Pelo menos 90% do lixo que vai parar no local é descartado em embalagem de saco plástico
Flávio Verão
A dependência da sacolinha plástica revela o quanto a população tem dificuldade de viver sem ela. Utilizada para carregar as compras, são reaproveitadas para embalar os mais diferentes tipos de resíduos. Somente em Dourados 90% das 4.800 toneladas de lixo que chegam diariamente no aterro sanitário estão embalados em sacos plásticos. A informação é da própria direção do aterro.
Com a temática meio ambiente em alta, discussão pró e contra está fazendo com que muitas cidades brasileiras decretem o fim das sacolinhas convencionais nos supermercados. Estão sendo substituídas pelas sacolas oxi-biodegradável, cuja degradação do plástico é bem mais rápido, além de um trabalho de conscientização para o uso das sacolas retornáveis, as de pano.
Acontece que essas medidas estão sendo adotadas principalmente nas cidades de grande porte. Alagamento e suas consequências, bueiros entupidos, tem sido um dos discursos para decretar o fim das sacolas. No entanto, nem todas as cidades sofrem com alagamento, o que faz muitas prefeituras não dar atenção ao uso consciente da sacolinha convencional.
Em Dourados não há discussão ou projeto em andamento sobre esse assunto. Mesmo assim população e empresários apoiam o fim da distribuição desordenada das sacolas. Na rede de supermercado Abevê, com sete lojas em Dourados, aproximadamente 5,5 toneladas de sacolinhas são distribuídas ao mês. Em todas as unidades são oferecidas caixas de papelão, mas a preferências pelas sacolas é grande, segundo a gerência. No entanto, a rede já se antecipou e oferece aos clientes as sacolas oxi-biodegradável. Mesmo assim a Rede apoia o fim da distribuição das sacolas e, pensando nisso, já está desenvolvendo modelos de sacolas retornáveis. A empresa diz que não tem interesse em obter lucro com a venda das mesmas.
Já o proprietário do Supermercado Big Bom, Edson Dutra, diz que por ano gasta em média R$ 30 mil em investimento com sacolinha plástica. “Seria muito bom se tivéssemos uma lei que proibisse o uso da sacola convencional. A lei valendo para todos fica mais fácil educar a população”, diz o empresário. Edson já pensa em oferecer sacola de pano. “Como ela tem custo daríamos para oferecer ao cliente como brinde para determinado valor de compra, ou seja, todos nós, empresários e clientes podemos fazer a nossa parte”, finalizou.
Entre a população o assunto divide opiniões. “Se é pra melhorar a vida de todo mundo, salvar o planeta devemos que adotar todas as medias que tragam benefícios”, diz a enfermeira Mariana Paes. Já a técnica de contabilidade Adriana Pereira vai mais longe. “Decretar o fim da distribuição das sacolas só vai estimular a compra dos sacos de lixo, ou seja, lucro para as empresas que vendem esses produtos” disse ela, acreditando que a medida teria que se estender para um projeto ainda maior, visando outras embalagens plásticas. “Decretando só o fim das sacolinhas pouco vai mudar”, acredita.
O professor de biologia Francisco Chamorro lembra que o fim das sacolinhas é apenas uma iniciativa de um grande trabalho de consciência ambiental. “É claro que decretar o fim das sacolas convencionais não basta. É preciso haver coleta seletiva. Sabemos que isso não é uma realidade das cidades brasileiras, mas devemos pensar nessas iniciativas”, disse o professor, explicando que a reciclagem é uma das medidas que os governos devem adotar com urgência. “Toneladas de embalagens plásticas vão parar no lixo. Isso também deve ser analisado”, sintetiza o professor.