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sexta-feira, 26 de abril de 2024

Vacina contra leishmaniose canina, criada no Brasil, recebe licença definitiva

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A primeira vacina contra a leishmaniose visceral canina, desenvolvida nos últimos 20 anos pela doutora em microbiologia Clarisa Beatriz Palatnik de Sousa, é brasileira e, pelos efeitos comprovados, acaba de conseguir a licença definitiva. Ela protege de 95% a 99% dos cães vacinados, com eficácia de 76% a 80%.

A doença é considerada pela OMS uma das seis maiores endemias do planeta, por atingir cerca de 500 mil novos casos em humanos por ano.

Transmitida na América pelo inseto Lutzomya longipalpis, que pica cães infectados e depois contamina também os humanos, a doença afeta, anualmente, 3 mil pessoas no Brasil. “O Brasil é um dos quatro países no mundo que concentra 90% dos casos.

Embora não seja endêmica no Rio de Janeiro, a leishmaniose atinge principalmente o Nordeste, com o maior número de casos (64,2%), enquanto o Sudeste e Centro-Oeste detém 13,63% e 8,22% dos doentes, respectivamente”, diz Beatriz.

Segundo ela, a atual política de saúde pública determina que os cães contaminados sejam sacrificados.

“Estamos motivados tanto pela necessidade de poupar esses animais quanto em diminuir a incidência da doença. A leishmaniose é uma infecção que afeta sobretudo o baço, fígado e medula óssea, provocando imunosupressão”, esclarece.

Como ainda não existe vacina para humanos, uma forma para erradicar a doença é por meio da imunização dos cães, que constituem reservatório da doença.

“Os dados epidemiológicos de Araçatuba e Belo Horizonte, já publicados, mostram que essa medida contribui para reduzir significativamente o número de casos em humanos e cães”, confirma a pesquisadora.

Ela explica que a vacina estimula a imunidade celular no cão, aumenta os linfócitos CD8, produtores de interferon gama, e aumenta o teor de anticorpos.

Ao sugar o cão vacinado, o inseto também ingere anticorpos, que impedem o desenvolvimento dos parasitas no intestino.

Com isso, aquele inseto não mais infectará outros cães nem humanos, interrompendo a cadeia de contaminação. “A vacina é um bloqueador da transmissão”, afirma.

Alguns resultados já foram observados em certos pontos do país, como na cidade mineira de Araçatuba.

“Ali, embora a cobertura vacinal ainda seja baixa, com apenas 7% da população canina vacinada, a incidência da leishmaniose foi reduzida de 30% para 21%, já nos primeiros anos de uso da vacina.

Em Belo Horizonte, houve 37% de declínio de casos humanos, após a vacinação de apenas 11% da população de cães”, aponta a pesquisadora.

De acordo com levantamento realizado entre 2009 e 2011, foram vendidas 320 mil doses da vacina.

“Considerando os reforços anuais, a informação que temos é que de 2004 até o momento existem no Brasil mais de 150 mil cães imunizados com a vacina Leishmune”, informa Clarisa.

Segundo ela, para garantir esses bons resultados, é preciso aplicar três doses durante o primeiro ano, e reforçar a imunização com mais uma dose anual.

Outra vantagem da vacina brasileira é que a fórmula demonstrou uma proteção cruzada contra a leishmaniose tegumentar (de pele).

“Isso acontece porque o antígeno principal da Leishmune é a nucleosídeo hidrolase de Leishmania donovani.

Esta enzima está presente em outras leishmanias e por isso serviu de base para o desenvolvimento de uma vacina gênica e recombinante que gera proteção cruzada.

Isso quer dizer que a vacina tanto atua contra a leishmaniose tipo visceral quanto contra o tipo tegumentar”, explica.

A pesquisa, que desde 1993 resultou na patente da vacina para UFRJ, vem sendo licenciada para produção em escala comercial desde 2003, em associação com a empresa americana Fort Dodge, mais tarde adquirida pela Pfizer.

Atualmente recebeu a licença definitiva e, com isso, firma-se como uma enorme contribuição para a erradicação da leishmaniose visceral canina.(Isaude.net)

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