20/03/2014 10h20
Visão de tarefas domésticas como atividade feminina prejudica acesso a emprego, segundo pesquisa apresentada ontem em audiência.
Maior taxa de desocupação, vínculos trabalhistas mais precários, presença menos frequente em cargos de chefia e menor remuneração.
Apesar de a situação ter melhorado nos últimos anos, esses ainda são desafios das mulheres brasileiras no mercado de trabalho, segundo a coordenadora de Igualdade de Gênero e Raça do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Natália de Oliveira Fontoura.
Em audiência na Comissão de Direitos Humanos (CDH), ontem, ela disse que o fato de as tarefas domésticas serem vistas como atividades femininas se reflete na inserção da mulher no mercado.
A visão da trabalhadora como mãe, filha ou esposa e com responsabilidades familiares se contrapõe a uma visão de que o trabalhador ideal ainda é um homem, totalmente disponível para o trabalho, o que reforça a situação desigual entre os gêneros — afirmou.
Em 2011, segundo Natália, 37,2% das mulheres que trabalham há dez anos ou mais estavam em posições precárias (sem carteira, em trabalho doméstico sem remuneração ou na produção para o próprio consumo). Entre os homens, o índice era de 24,4%.
A especialista pregou a desconstrução do modelo de trabalhador ideal e defendeu a importância do equilíbrio entre família, trabalho e vida social.
É necessária uma grande mudança cultural, mas é possível adotar políticas públicas para transformar tal realidade.
A presidente da CDH, Ana Rita (PT-ES), citou ações legislativas adotadas pelo Congresso — entre elas, o PLS 298/2013, que cria o Fundo Nacional de Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres, e a Emenda Constitucional 72, que garantiu uma série de direitos aos trabalhadores domésticos.
Só a CPI da Violência contra a Mulher resultou na elaboração de 13 projetos e, com o esforço das bancadas femininas no Senado e na Câmara dos Deputados, pretendemos aprová-los nesta legislatura — afirmou.
Também participou da audiência a secretária de Políticas do Trabalho e Autonomia Econômica das Mulheres da Presidência da República, Tatau Godinho.
(Jornal do Senado)