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Grupo que defende direitos indígenas repudia pré-estreia de filme

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19/08/2014 13h12 – Atualizado em 19/08/2014 13h12

O média metragem ‘Matem… os outros’ foi filmado em Mato Grosso do Sul pelo cineasta daqui Reynaldo Paes de Barros

Luiz Radai, da Redação

O Marco (Museu de Arte Contemporânea) exibiu ontem em Campo Grande dois trabalhos do cineasta sul-mato-grossense Reynaldo Paes de Barros. Os filmes ‘Confissão’ e ‘Matem… os outros’ são curtos, têm 17 e 27 minutos, respectivamente. No entanto, despertaram furor em um grupo que defende os direitos indígenas. Os ativistas do Coletivo Terra Vermelha exibiram cartazes e gritaram palavras de ordem ao fim da apresentação.

Entre as palavras de ordem estavam: “Viva os povos indígenas de Mato Grosso do Sul”, “Viva Marçal de Souza”, “Viva Nísio Gomes” e “Viva Oziel”. Todos os nomes de índios mortos ou envolvidos à causa.

Segundo o site do Coletivo, uma das ativistas, Regina Martins, disse que achou que o filme, ao contrário do que o diretor afirmou, não tem neutralidade, aparentemente faz uma crítica sobre a posição dos fazendeiros, mas é falsa. “Na verdade, é um filme racista, preconceituoso, que reforça estereótipos negativos, que já existem a respeito do comportamento dos povos indígenas, estereótipos criados e gerados pelos próprios dominadores”.

A crítica sobrou até para o Governo do Estado. “Quando o Governo do Estado, através da Fundação de Cultura, banca esse tipo de filme, também está ajudando proliferar esse discurso, está patrocinando o genocídio, e deve responder por isso”, disse Regina.

O diretor Reynaldo Paes de Barros, saiu do Marco com a chegada da Polícia Militar e teria dito que “é livre para filmar o que quiser” e que as pessoas não compreenderam o média.

No site, os membros do Coletivo Terra Vermelha afirmaram que vão acionar o Ministério Público Federal, denunciando o teor do filme, considerado racista.
Antes da exibição, ao site da Fundação de Cultura de MS, o cineasta falou sobre o filme “Matem…Os outros!”. Segundo ele, era um média metragem sem maniqueísmo, que “apresenta uma visão contundente do conflito de terras entre fazendeiros e índios em Mato Grosso do Sul”. “São filmes para um público adulto em que conceitos e preconceitos são expressos livremente e que pretendem instigá-lo e levá-lo a uma reflexão”, havia comentado Reynaldo Barros.

O ‘eixo principal’ do Coletivo é a “defesa intransigente da luta pela terra e pelos direitos dos povos indígenas, nessa esfera, apoia a demarcação das terras indígenas e a luta e organização dos povos indígenas”.

Crítica

Segundo o Coletivo publicou no próprio blog, “o filme narra à história de dois fazendeiros que estão na estrada com o carro quebrado, pegam carona com dois paulistas até Sidrolândia, município que ficou conhecido nacionalmente devido o assassinato do terena Oziel durante a ação de reintegração de posse da fazenda Buriti”.

O blog condena o diálogo entre os personagens, exclusivamente sobre a questão indígena. “Os fazendeiros demonstram uma visão totalmente preconceituosa, afirmam que os índios invadiram suas terras, que compraram a terra legalmente, pois possuem a escritura pública, que o Estado não indeniza e faz tudo que os índios pedem – e a FUNAI seria a mentora dessa relação injusta”.

Segundo o blog, o filme “reforça o estereótipo de que os indígenas são todos preguiçosos, vagabundos e alcoólatras”.
“Verifica-se aqui aquele velho discurso ruralista, os índios não decidem sozinhos as “invasões” de terras, tem que ter sempre alguma entidade por trás os influenciando”.

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