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Dourados 87 anos: Sem preservação, córregos e nascentes podem “sumir do mapa” 

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No quesito preservação de seu patrimônioambiental e mais especificamente seus córregos, Dourados vai mal e precisa tomar medidas efetivas para estancar a poluição das nascentes e dos leitos, o assoreamento e a contaminação, inclusive por resíduos de remédios descartados de forma irregular. Recompor as matas ciliares é outro desafio para que não se veja simplesmente desaparecer do mapa alguns dos 8 córregos da cidade: Laranja doce (o maior, com aproximadamente 64 quilômetros de extensão), Água Boa, Rego D`Água, Paragem, Chico Viegas, Olho D´Água, Córrego do Engano e Córrego da Lagoa. A poluição por óleo e esgoto, por exemplo, atinge 90% dos córregos, segundopesquisa da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) comandada pelo professor doutor Yzel Rondon Suarez. O estudo mostrou ainda que o córrego com maior volume de poluição é o Rego D’água, contaminado com resíduos de esgoto. O mesmo acontece com o córrego Paragem. Praticamente todos os córregos da cidade estão fora dos critérios estabelecidos pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) para a conservação da biodiversidade e para o consumo humano.

    Outra pesquisa do prof. Yzel, esta realizada em parceria com seu colega Prof. Dr. Alessandro Minillo, que é oceanógrafo, Doutor em Engenharia Ambiental pela USP-São Carlos e bolsista de Pós-Doutorado no Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais da UEMS (Trabalha principalmente com ecotoxicologia ambiental voltada à qualidade da água) mostrou que três microbacias da cidade de Dourados (Engano, Água Boa e Curral de Arame) possuem resíduos de fármacos/medicamentos no ambiente aquático, incluindo analgésicos (Diclofenaco, Naproxeno e Ibuprofeno) e hormônios femininos, oriundos do uso de anticoncepcionais. Além dos males aos peixes, estudos mostram que estes hormônios também podem causar aumento de casos de câncer de mama e de próstata em seres humanos.

     A microbacia do córrego Água Boa possui três estações de tratamento de esgoto em sua área, o que significa que praticamente todo o esgoto produzido na região central de Dourados é direcionada para este córrego e, como já comentamos, o tratamento convencional não remove estes fármacos do esgoto.A poluição, na maioria das vezes, é resultado de despejo de efluentes contaminados nos córregos – que desaguam no Rio Dourados – e alguns destes metais estão acima do considerado aceitável para os riachos urbanos. “A importância de se preservar córregos e nascentes que acabam influenciando o Rio Dourados vai além da questão ambiental, mas da manutenção de um bem essencial à vida humana. O rio, por exemplo, é responsável por cerca de 50% das águas distribuídas para os 220 mil habitantes da cidade e outros 50% recebem água de poços, subtraídas do Aquífero Guarani”, ponderou o professor Yzel.

  Se décadas atrás alguns córregos foram retificados, canalizados e emparedados para a construção das vias marginais, como o Córrego Rego D’Água (rua Liberdade) e Água Boa (Rua José Correa de Almeida) e muitas de suas nascentes foram destruídas, parcela de suas matas ciliares suprimidas e eles se tornaram vítimas do lançamento frequente de esgoto clandestino, de substâncias nocivas de lava jato e indústrias diversas, além do descarte de entulho e lixos que transformaram o leito desses córregos em grandes esgotos a céu aberto, a crescente pressão por medidas de preservação obrigou os poderes públicos a rever conceitos.

    Como resultado desse trabalho foram adotadas soluções que garantiram a preservação até hoje de áreas de nascentes e de mata de dois dos principais córregos da cidade: o Paragem e o Água Boa. Isso foi feito com a criação e implantação dos parques Arnulpho Fioravante e Antenor Martins. Além de garantirem a integridade dessas nascentes, estes parques disponibilizaram para a cidade extensas áreas verdes, oportunidades de lazer para a população e duas lagoas de contenção que armazenam grandes volumes das águas provenientes da drenagem pluvial, evitando problemas de inundação a jusante dos parques. Esse é um modelo que concilia de forma mais inteligente e sustentável as necessidades de crescimento da cidade com as de sobrevivência de nossos córregos e de seus fundos de vale.

 “Embora atualmente não se dê continuidade à política de emparedamento dos córregos douradenses e que já se tenham criado dois novos parques (o Rego D’Água e o Victelio Pelllegrin) os córregos, fundos de vale e nascentes aparecem nas políticas públicas como aspectos secundários da vida urbana”, opinou o geógrafo e ambientalista Mario Tompes, ex-diretor presidente do Instituto de Planejamento e Meio Ambiente de Dourados (IPLAN), atual IMAM. “A evidência disso é a persistência da situação de nítida precariedade dos nossos córregos que continuam com o aspecto de esgoto a céu aberto, seus fundos de vale permanecem o destino de entulhos e lixos diversos e suas matas ciliares aqui e ali são vítimas de derrubada e ocupação irregular”, lamentou Tompes, que defende o cercamento dessas áreas a fim deprotegê-las da ocupação irregular, do desmatamento e do descarte de entulhos e lixo. E principalmente garantir a preservação de suas nascentes. 

  “Contudo, somente o cercamento não é suficiente.Esses parques lineares necessitam ser apropriados pela população, serem áreas vivas com a presença de pessoas. Para tanto, é necessário a implantação de estruturas de recreação: ciclovias, trilhas e pistas para caminhadas, parquinhos infantis, bancos, equipamentos para exercícios físicos, quiosques de venda de alimentos, sinalização etc. Também a presença de policiamento e segurança que forneça tranquilidade aos frequentadores. Por fim, a garantia de manutenção a fim de evitar a rápida deterioração das estruturas implantadas”, completou o geógrafo e ambientalista. 

     Responsável pela gestão dos serviços de distribuição de água e tratamento de esgoto e pela preservação dos córregos e nascentes, a empresa de saneamento Sanesul investe em ações práticas e, para que a população entenda a importância do saneamento, a promove ações de Mobilização Social e de Educação Ambiental em todos os municípios, sempre de modo preventivo, atuando nas escolas e comunidades. O objetivo é mostrar os prejuízos que a falta de saneamento provoca como: a propagação de doenças devido ao esgoto a céu aberto; a poluição urbana com resíduos nas ruas; a poluição do meio ambiente com o descarte inadequado de esgoto em rios, córregos e cursos d’água; e as doenças causadas pela falta de tratamento da água. A intenção é mostrar como tudo isso é facilmente evitado quando usamos as estruturas do saneamento disponíveis nas cidades.


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