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quarta-feira, 1 de maio de 2024

Prevenção é a chave para o controle da mosca-dos-estábulos

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11/10/2014 11h43

Prevenção é a chave para o controle da mosca-dos-estábulos, diz pesquisador

A prevenção é, por enquanto, a principal maneira de controlar os surtos da mosca-dos-estábulos (Stomoxys calcitrans), praga que tem atingindo alguns polos de pecuária em Mato Grosso do Sul, causando prejuízos aos produtores.

A avaliação foi feita pelo pesquisador da Embrapa Gado de Corte, o médico veterinário Antonio Thadeu Medeiros de Barros, durante reunião realizada em Costa Rica, a 384 quilômetros de Campo Grande, na terça-feira (7).

Na reunião, convocada pela comissão criada no município especialmente para discutir alternativas para o controle do inseto e que reúne representantes da prefeitura, da Câmara de Vereadores, dos produtores rurais, do Ministério Público Estadual e da usina sucroenergética instalada no município, entre outros, o pesquisador inicialmente fez uma apresentação do que é o inseto e dos estragos que ele pode causar.

Barros disse que a mosca-dos-estábulos é um inseto hematófago, ou seja, que se alimenta do sangue de outros animais e que é encontrada em todo o continente americano.

Para se reproduzir precisa de um local que tenha matéria vegetal em decomposição e possui um ciclo biológico de três a quatro semanas, entre a postagem dos ovos até se tornar adulta e uma vez adulta tem um período de vida de até um mês.

Cada mosca, conforme o pesquisador pode botar pelo menos 500 ovos ou mais e pode voar até 20 quilômetros.

Costuma atacar vários tipos de animais, como bovinos, eqüinos, aves e cães, entre outros, e até o ser humano para se alimentar

. É encontrada em maior quantidade próxima aos locais de reprodução e quando não está picando os animais fica em árvores, troncos ou qualquer lugar que ofereça abrigo ao calor, como postes, cercas e cochos.

Nos ataques a bovinos, podem provocar, de acordo com Barros, prejuízos de até 20% para os animais de corte e de 20% a 50% para os de leite. Esse prejuízo, explica ele, ocorre principalmente porque, incomodados com as picadas do inseto, os bovinos começam a se deslocar pela pastagem, deixando de se alimentar.

Nas situações de infestações mais severas da mosca-dos-estábulos, ele explica que os animais, para se proteger, ficam agrupados, o que acaba oferecendo risco dos mais jovens (bezerros), serem pisoteados.

Na África, de acordo com o médico veterinário, insetos da mesma família chegam a provocar a morte de leões.

Além de fazer a identificação da praga, Barros detalhou que há cerca de dois anos a Embrapa Gado de Corte, iniciou uma pesquisa sobre o inseto.

O objetivo inicial deste trabalho que ainda está em curso é identificar os locais de reprodução, determinar a ocorrência de surtos, o que os provoca, estipular estratégias de contenção e aumentar a eficiência dos métodos de controle químico, além de desenvolver sistemas alternativos de controle biológico.

O pesquisador comentou que os resultados iniciais do trabalho indicam que os produtos químicos disponíveis atualmente no mercado, como os de aplicação no dorso dos animais (pour-on), os brincos e a borrifação não se mostraram eficientes no combate a infestação do inseto e que, por isso, a prevenção é a única maneira de controlar os surtos.

O trabalho de prevenção, conforme o pesquisador, envolve algumas ações que têm de ser adotadas pelos produtores rurais e pelas usinas sucroenergéticas, já que a mosca pode sair das propriedades rurais e utilizar a palha que sobra do corte da cana e que foi fertirrigada com vinhaça como local de reprodução.

No caso dos produtores, Barros comentou que as ações têm de ser executadas no período da entressafra das usinas, quando o inseto, em pequenas quantidades permanece quase escondido nas propriedades.

Nestes locais, ele recomendou que se faça a limpeza de resíduos de alimentação dos animais para eliminar possíveis pontos de reprodução e também a drenagem do terreno para evitar o acúmulo de água em áreas com matéria orgânica, e ainda que se realize o manejo adequado das pastagens e se evite o uso da adubação orgânica.

Por outro lado, para as usinas, ele disse que o indicado é que as empresas façam durante a safra o manejo dos subprodutos orgânicos, como a torta de filtro , a palha da cana e a vinhaça.

Outro pesquisador da Embrapa Gado de Corte, o também médico veterinário, Paulo Henrique Duarte Cançado, ressaltou que o combate aos focos de criação da mosca-dos-estábulos representa 90% do sucesso no controle a infestação, que o trabalho tem que ser direcionado às larvas e a prevenção e alertou que uma vez instalados os surtos de ataque, eles são incontroláveis.

Prefeito de Costa Rica, Waldeli dos Santos Rosa (Foto: Anderson Viegas/Do Agrodebate)
Cançado também destacou que somente com a parceria de todos os envolvidos no problema, no caso produtores rurais e as usinas sucroenergéticas, é que a praga será controlada.

“Ações unilaterais são menos eficientes. É necessário diálogo, comprometimento e ações integradas”, afirmou.

O produtor rural Manoel Rodrigues de Oliveira, de 50 anos, dono de uma área de 302 hectares, onde cria cerca de 500 cabeças de gado de corte, e que foi um dos afetados com o surto da mosca-dos-estábulos em Costa Rica, concordou com a proposição dos pesquisadores.

“Temos que dar as mãos, trabalhar juntos para solucionar o problema, cada um fazendo a sua parte”, avaliou.

A Odebrecht Agroindustrial, proprietária da usina sucroenergética localizada em Costa Rica, aponta que desde o dia 4 de setembro, quando a comissão do município enumerou algumas ações que poderiam ajudar no controle do inseto, vem executando um trabalho profilático em suas operações na área agrícola.

Entre as ações realizadas estão o recolhimento prévio de mais de 90% da palha da cana nas áreas em que ocorre a aplicação de vinhaça, a incorporação ao solo por meio da escarificação da palha que ainda fica sobre o solo e uma agilização do trabalho de controle de vazamentos na distribuição da vinhaça para a fertirrigação.

O presidente da Biosul, Roberto Hollanda, por sua vez, lembrou que a entidade e o setor têm sido parceiros da Embrapa, junto com outras instituições, como a Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), na busca por soluções para o problema da mosca-dos-estábulos e que o estado é atualmente o principal centro de pesquisas do país sobre o inseto.

Também recordou que nos últimos anos o segmento tem realizado diversos eventos e veiculado publicações para difundir o máximo de informações possíveis sobre o inseto, visando auxiliar tanto os produtores quanto as usinas a adotarem medidas preventivas contra as infestações.

Por sua vez, o prefeito de Costa Rica, Waldeli dos Santos Rosa, que coordena os trabalhos da comissão municipal de enfrentamento a praga, comentou que saiu satisfeito com o resultado da reunião, em razão dos esclarecimentos apresentados e apontou que nos próximos meses serão realizadas encontros mensais para analisar os avanços no controle do inseto.
(G1)

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