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quinta-feira, 2 de maio de 2024

Violência contra mulheres no meio rural ainda é tabu no interior do Brasil

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Falta de denúncias pela cultura do medo leva a dados inexpressivos sobre o crime, o que dificulta políticas públicas efetivas

O medo é um dos principais fatores que leva muitas mulheres a não realizarem denúncias por agressão, o que ocasiona uma falta de informações para quantificar este tipo de crime.

Os únicos dados mais concretos sobre a violência contra mulheres do meio rural são da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag).

A secretária de Mulheres Trabalhadoras Rurais da Contag, Carmen Foro acredita que o aspecto cultural e a falta de políticas públicas inviabilizam uma maior precisão dos dados.

O campo tem um viés mais perverso no aspecto cultural. E no aspecto do Estado brasileiro, compreender isso como uma problemática e aportar mais recursos que são inexistentes nas áreas rurais, principalmente para os serviços de enfrentamento e atendimento às mulheres que estão em situação de violência – alerta.

Uma agricultora, que preferiu não se identificar, passou 30 anos convivendo com as agressões do marido.

Ela conta que o medo e a vergonha pelo que acontecia eram os principais empecilhos para que pudesse denunciar a violência que sofria.

Eu sofri demais e sempre me calei. Por medo, por vergonha, muito mais pela vergonha do que pelo medo.

Eu tinha vergonha de contar para os meus pais que eu estava sofrendo, que eu estava passando por essa dificuldade. E não queria que eles sofressem também – relata.

Em documento entregue à Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, dados da pesquisa realizada pela Contag em 2008 informam que mais de 55% das entrevistadas sofreram algum tipo de agressão ou abuso sexual.

Deste grupo, mais de 63% declararam que a violência foi ocasionada pelos maridos e companheiros.

Algumas cidades do interior contam com delegacias especializadas na proteção à mulher. Em Vacaria (RS), por exemplo, segundo o delegado Alencar Carraro, do Posto de Proteção à Mulher, o mês de fevereiro registrou um aumento de ocorrências deste tipo de crime.

As maiores queixas são em relação a lesão corporal e ameaças de parceiros alcoolizados ou drogados. Carraro acredita que uma das barreiras ainda é o medo das mulheres em denunciar o companheiro.

Principalmente no interior, nas regiões mais longínquas do Estado (Rio Grande do Sul), algumas mulheres não captaram o verdadeiro espírito da lei Maria da Penha. Normalmente, esses pecuaristas e agricultores têm posses e as mulheres ficam mais intimidadas. Há uma questão cultural de que o marido é o chefe da familia e que o marido pode tudo. Nessas localidades temos estas peculiaridades – salienta.

Desde agosto de 2006 está em vigor a lei Maria da Penha. A legislação aumentou o rigor das punições das agressões contra a mulher quando ocorridas no âmbito doméstico ou familiar. Segundo o delegado Alencar Carraro, aos poucos ocorre a mudança cultural das mulheres vítimas da violência, que se sentem amparadas e seguras pela lei.

As mulheres estão começando a procurar os órgãos policiais por terem este conforto, saberem que serão ouvidas e que haverá alguma punição por parte desses agressores. Há uma mudança cultural, em alguns casos até tem demorado um pouco mais, mas os órgãos competentes tem dado uma resposta à altura – avalia.

Apesar dos avanços, a dirigente da Contag, Carmen Foro, afirma ainda que existe muita desigualdade com as mulheres do campo. Um dos exemplos, segundo ela, é o acesso ao crédito rural, que ainda persiste em um modelo onde é necessária a figura paternalista.

O crédito é uma indicação enorme desta lógica de que as mulheres dependem de determinada capacidade, a cultura é pesada em torno disso, que tem uma determinada capacidade de produção naquela família e, muitas vezes, a família não é o lugar mais democrático que nós conhecemos. Muitas vezes o conceito de família é onde tem um chefe – argumenta.

A denúncia e o diálogo podem ajudar a combater a violência. O delegado Alencar Carraro recomenda que em caso de agressão a mulher denuncie seu agressor para evitar que ele continue a praticar o crime movido pela sensação de impunidade.

A partir do momento em que o homem agride e lesiona a mulher e não acontece nada, a mulher não procura os órgãos policiais, ele passa a ameaçá-la. Temos casos em que o homem agride várias vezes a mulher e ele não cessa – explica.

A assessora da Fetag/RS Sonilda Pereira diz que muitas cidades do interior carecem de estrutura para atender este tipo de ocorrência e defende que as mulheres, além de conversa, também precisam de um acompanhamento psicológico, pois o trauma causado pelos atos cometidos pelos companheiros muitas vezes não tem cura.

Além de estar colocando esta dificuldade e fazendo a denúncia, ela tem que ter condições de voltar para casa. Na verdade, é todo um processo de discussão e orientação para estas mulheres e um acompanhamento – ressalta.
(RÁDIO GAÚCHA)

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