Luiz T. M. de Oliveira*A paz resulta do equilíbrio entre a razão e o sentimento, coração e mente. É uma atitude...
Luiz T. M. de Oliveira*A paz resulta do equilíbrio entre a razão e o sentimento, coração e mente.
É uma atitude interior diante da vida e nunca situação parasitária ou de inércia melancólica. A paz é processo pessoal e intransferível de autodeterminação, de auto-esforço, de auto-abnegação com investimento de decisão e perseverança.
A paz irriga a mente de ideais superiores higienizando as armadilhas internas oriundas muitas vezes de mecanismos de defesa, que diga-se de passagem, apesar de serem necessários para manter a integridade pessoal psíquica, não são a única dimensão psicológica ou de consciência pertinente à estrutura do ser.
A paz implica em esforço de cultivar novos ideais, questionar valores, crenças, pensamentos e sentimentos vivenciados pelo ser humano, para que estejam devidamente mensurados em energia psíquica para o possível sustentado pelo organismo humano.
O que se quer dizer no contexto da paz, que o conceito de saúde e doença, cura e sanidade são diametralmente diferentes. Saúde e doença são polaridades que se completam, pois ambas visam trazer à luz da consciência do ser humano mensagens de reflexão, crescimento, gerando maturidade psicológica, crescimento efetivo interno, confiança em si, motivação para estar na existência. O ser confiante e motivado é aquele que tomou consciência de que os equívocos são para aprendizado e os acertos são estímulos para novos equívocos.
Já cura neste âmbito que estamos conversando está simplesmente vinculada à cura do organismo, "clinicamente em alta", a "cirurgia foi um sucesso", a "ferida cicatrizou-se". Sanidade é um conceito mais profundo no reavivamento da paz. Sanidade é a cura efetiva da alma, da mente, vinculada com o aprendizado das novas limitações e possibilidades que a amiga doença coloca.
Até aqui depreende-se que reavivar a paz interior é nunca desejá-la como instante pronto e acabado, mas é procura intencional de não tê-la.
Paz é postura ativa, trabalhada, esforçada, suada do ser humano diante das experiências que a vida nos proporciona. Como pensar em paz fora da experiência? O próprio Cristo nos disse que não veio ao mundo para trazer a paz mas a espada! Logo, convido-lhe para armar-se com novos valores, com buscas, a viver sem hipocrisia consigo mesmo e lutar para melhorar o mundo íntimo que lhe é próprio.
Na filosofia Zen, o mestre Thich Nhat Hanh (indicado a Prêmio Nobel da Paz por Martin Luther King ) enfatiza que "não há caminho para a paz; a paz é o próprio caminho". Quer ele dizer da necessidade de prestar mais atenção e com a mente aberta na direção da vida, desfrutando a cada momento e a cada passo, pois não se vai a lugar algum, já chegou.
Certa feita, um menino quis desafiar um sábio que passava pela sua aldeia. Com um passarinho preso nas suas mãos, aproximou-se dele e perguntou:
Tenho um pássaro entre as mãos. O senhor sabe se ele está vivo ou se está morto?
Obviamente a pergunta era maldosa, pois se o sábio respondesse que o pássaro estava vivo, o menino pretendia esmagá-lo; se respondesse que morto, abriria suas mãos e o deixaria voar. Contudo, a esperteza do menino sequer desconfiou da extensão dos horizontes da sabedoria, ficando perplexo ante a resposta do venerável homem.
Isso depende apenas de você, meu filho. Sempre é possível escolher o modo, o como viveremos as situações, é aí que reside a nossa liberdade, a única que podemos verdadeiramente exercer. Fazer a paz ou fazer a guerra no nosso dia-a-dia, dentro de nosso lar, com o nosso vizinho, com o colega de trabalho ou estudos, com o nosso próximo na rua, no ônibus ou numa reunião de amigos, depende da nossa escolha. É como se a própria sabedoria encarnada na vida estivesse nos dizendo a todo instante:
— Isso depende apenas de você, meu filho.
Caro leitor, não é o que a "vida" faz conosco que importa, mas sim, o que fazemos com o que a vida nos traz que é importante.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
HANH, Thich Nhat. Meditação Andando. São Paulo: Editora Vozes, 2005.
ÂNGELIS, Joanna de. Elucidações Psicológicas à luz do Espiritismo. Salvador, BA. Editora Leal, 2002.
BURGOS, Ênio. Medicina Interior. A Medicina do Coração e da Mente. Porto Alegre RS. Editora Bodigaya, 2003.
COEN, Monja. Viva Zen. São Paulo: Publifolha, 2004. *Aprendiz