Conforme a SES, foram 453 registros em 2008 contra 361 em 2007. Analgésico, antiinflamatórios, antigripais. Remédios...
Conforme a SES, foram 453 registros em 2008 contra 361 em 2007.
Analgésico, antiinflamatórios, antigripais. Remédios administrados para combater uma simples dor de cabeça ou um resfriado podem causar intoxicações e até mesmo levar à morte. O alerta é da farmacêutica do Núcleo de Assessoria Técnica da Secretaria de Estado de Saúde (NAT/SES), Priscila Oliveira Fagundes. Dados do órgão mostram que de janeiro a julho deste ano houve aumento de 25% no número de casos confirmados de intoxicação por medicamentos em Minas em comparação com o mesmo período do ano passado.Conforme a SES, foram 453 registros em 2008 contra 361 em 2007. O total de casos notificados também teve acréscimo e passou de 489 no ano passado (até julho) para 776 neste ano, o que representa 58,6% de alta. De acordo com Priscila, os números preocupam os órgãos de saúde, já que revelam irregularidades na venda e no consumo dos produtos.A farmacêutica explica que uma das razões para o alto índice de casos de intoxicação é a falta de informação sobre os riscos e o fácil acesso da população aos medicamentos. Há também problema comportamental. Segundo ela, a sociedade moderna tem considerado o remédio um sinônimo de saúde. "As pessoas agem por imediatismo e acabam ingerindo medicamentos que, se não têm reações a curto prazo, podem trazer problemas no futuro", diz Priscila.Para a coordenadora do Sistema Nacional de Informação Tóxico Farmacológica, (Sinitox), Rosany Pochner, existe ainda um outro agravante para tantos problemas na adminitração desses produtos. Segundo ela, além do fácil acesso aos remédios, a dificuldade que as pessoas têm em receber assistência no serviço de saúde pública contribui para o uso indiscriminado dos remédios. "O grande número de farmácias espalhadas por todo o Brasil mostra que existe um consumo irracional. Isso é um indicador de falhas na assitência. Se o centro de saúde não tem condições de atender à demanda, as pessoas passam a resolver seus problemas sozinhas, o que é muito perigoso", afirma.Um exemplo dessa situação é o da empregada doméstica Vilma Aparecida Viana, 42, que sofre de dores constantes na coluna. Ela afirma fazer rodízio de antiinflamatórios porque ainda não conseguiu ser atendida por um ortopedista na unidade de saúde próxima a sua casa.Atualmente, Vilma toma de dois a três comprimidos por dia e, sempre que as substâncias deixam de fazer efeito, ela decide mudar o medicamento. "Tomo por conta própria porque já sei os nomes dos remédios, ou também faço uso daqueles que as pessoas me indicam. Às vezes peço ajuda de um vendedor na farmácia. A maioria dos remédios não precisa de receita", conta.Vilma afirma que já sofreu intoxicação por uso de medicamento. Mesmo nesse caso, conta ela, também tomou, por conta própria, outro remédio para resolver os problemas de coceira e edemas na pele. Segundo a doméstica, o médico a aconselhou suspender o uso, recomendação não acatada."Deve ter dois ou três anos que tomo remédio sem receita médica. Medo eu tenho, mas fazer o quê? O remédio que o médico passa não resolve. Até hoje não consegui um especialista no SUS e ainda não tenho nem previsão", diz.Na casa da jornalista M.L., remédio também é assunto de família. Segundo ela, que pediu para não ser identificada, as pessoas de gerações mais novas tiveram interferências de comportamentos de pais e avós, que têm a prática da automedicação.Segundo M., a irmã dela chegou a ficar internada por ter ingerido um medicamento indevido.Venda de porta em porta preocupa Além do consumo desenfreado de medicamentos pela população, outro problema registrado pelos órgãos de saúde é a venda irregular. De acordo com a gerente da Vigilância Sanitária de Medicamentos da Secretaria de Estado da Saúde, Maria José Raimundo Drummond, há dois tipos dessa prática.A primeira está relacionada à venda sem receitas nos estabelecimentos farmacêuticos. "Estamos tentando coibir essa prática, mas muitas vezes é complicado porque Minas tem 5.000 farmácias e a fiscalização não consegue estar presente em todo lugar e o tempo inteiro", afirma.Outro fator destacado por Maria José é a venda por meio de sacoleiros. Segundo a gerente, nenhum caso recente de venda feita de porta em porta foi registrado recentemente, mas, segundo ela, várias denúncias e confirmações de irregularidades ocorreram no ano passado. Uma delas foi em Ipatinga, no Vale do Aço, onde várias pessoas comercializavam remédios ditos fitoterápicos, mas que continham anorexígenos (remédios para emagrecer) na fórmula.
Em março deste ano, a SES lançou uma campanha específica para conscientizar a população sobre os riscos desses produtos.De forma geral, Maria José acredita que não só os anorexígenos, mas todos os medicamentos podem causar algum tipo de intoxicação quando não administrados corretamente. Entre os principais riscos, ela destaca os processos alérgicos, sonolência, vômito, dermatites, edema de glote, choque anafilático e até a morte. (VL)Acidentes com remédios - Como evitar Armazenamento: Manter os medicamentos dentro da embalagem, em locais ventilados, longe da luz, do calor e da radiação, em uma altura acima de, no mínimo, 1,5 m e fora do alcance de crianças.Bula: Deve ser preservada para informações sobre as características da substância.Dosagem: Deve ser certificada com os dados da receita. Nunca deve ser medida no escuro ou sem óculos para pessoas com problema de visão. Usar o medidor da embalagem e conferir a data de validade.Crianças: Nunca dizer a elas que o medicamento é bala ou doce. Explicar sempre que é um remédio e pode fazer mal.Orkut reúne simpatizantes do uso de medicamentos
No ano passado, a unidade de toxicologia do Hospital de Pronto Socorro João XXIII, em Belo Horizonte, somou 1.274 casos de intoxicação por medicamentos, de acordo coordenador do setor, o médico Délio Campolina. Segundo ele, parte das ocorrências está relacionada a casos com crianças que ingerem remédios acidentalmente e ao uso inadequado, com dosagens superiores ou ingestão equivocada.O uso indiscriminado de medicamentos virou prática tão recorrente que até mesmo no site de relacionamentos Orkut, na Internet, há várias comunidades relacionadas ao tema. Uma delas, com cerca de 700 participantes, leva o nome Adoro tomar remédio. Para comemorar a entrada no grupo, o criador sugere um brinde com efervescente. (VL)
Autor: Valquíria Lopes
Fonte: O Tempo - MG