Quase a totalidade de entorpecente foi apreendida na Via Dutra, no sentido São Paulo-Rio de Janeiro.As apreensões de crack...
Quase a totalidade de entorpecente foi apreendida na Via Dutra, no sentido São Paulo-Rio de Janeiro.As apreensões de crack aumentaram 578,9% e de cocaína, 128,2%, nas estradas federais que cortam São Paulo, de janeiro a julho deste ano, na comparação com o mesmo período de 2007. Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), quase a totalidade das drogas foi apreendida no trecho paulista da via Dutra, sentido São Paulo-Rio, usado pela facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) para abastecer áreas controladas pelo Comando Vermelho (CV). De janeiro a julho deste ano, policiais rodoviários federais apreenderam 25,8 quilos de crack nas estradas federais de São Paulo. Isso representa aumento de 578,9% em relação aos 3,8 quilos recolhidos de janeiro a julho de 2007. As apreensões de cocaína subiram 128,2%. Foram encontrados 192,4 quilos da droga de janeiro a julho de 2008, ante 84,3 quilos no mesmo período do ano anterior. Já as apreensões de maconha caíram 51,5% — foram 189,3 quilos, ante 390,4 quilos.Apesar do aumento significativo, o ex-secretário nacional Antidrogas, Walter Maierovitch, faz uma ressalva: historicamente, a polícia apreende apenas de 3% a 5% de entorpecentes em circulação no mercado. "Esse índice é mundial", disse o juiz aposentado. "O número de apreensões é pequeno, mas a movimentação financeira é altíssima. Atinge US$ 400 bilhões por ano", estima. O aumento nas apreensões de crack na Dutra confirma a constatação feita pelo delegado Marcus Vinícius Braga, chefe da Delegacia de Combate às Drogas da Polícia Civil do Rio. Em entrevista, Braga afirmou que a facção paulista introduziu o crack nas favelas cariocas como condição para continuar vendendo cocaína para os traficantes fluminenses. O delegado acrescentou que, em recente operação policial na favela do Jacarezinho, zona Norte do Rio, agentes encontraram uma placa com a seguinte frase: "Bem-vindo à Cracolândia." Também há relatos de consumo e venda de crack no morro Dona Marta, na zona Sul carioca. Maierovitch explica que as duas facções visam ao lucro e, graças à alta demanda de entorpecentes no Brasil e no eixo São Paulo-Rio, fizeram essa aliança para a distribuição de entorpecente. Tanto o PCC quanto o CV têm os mesmos fornecedores na fronteira do Brasil com o Paraguai. Mas, para cortar custos e reduzir a probabilidade de apreensões, optaram por compartilhar a distribuição da droga. "Se um dia a demanda for baixa, esses grupos entrarão em guerra. É isso que acontece com as máfias internacionais", acrescenta. O ex-secretário também destaca um efeito colateral do aumento no tráfico de drogas, até hoje pouco explorado: os danos ambientais. Segundo ele, o plantio de 1 grama de cocaína equivale a 4 metros quadrados de floresta tropical devastada. O desmatamento levou os vice-presidentes da Colômbia e do Peru, portas de saída da droga andina, a se reunirem com representantes dos governos de Portugal e Espanha, portas de entrada na Europa da cocaína produzida na América do Sul, para discutir o assunto. Fiscalização
O inspetor Edson Varanda, chefe do Serviço de Comunicação da Polícia Rodoviária Federal em São Paulo, diz que o aumento das apreensões é resultado do esforço da corporação e da especialização dos policiais nesse tipo de ocorrência. Sobre a queda de mais de 50% nas apreensões de maconha, Varanda disse que ainda não foram contabilizados os 1,3 mil quilos da droga encontrados num caminhão que capotou na semana passada na rodovia Régis Bittencourt, em Registro. (Da Agência Estado) Ao entrar no Brasil, droga tem destino certo: Rio e São Paulo
Os primeiros indícios da estreita ligação entre o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) surgiram há 15 anos, mas foi em 2007, durante a operação Fênix, que a Polícia Federal (PF) obteve informações concretas sobre os "acordos comerciais" mantidos pelas duas maiores facções criminosas do País. O esquema tem duas vertentes: a compra de grandes quantidades de cocaína e maconha na fronteira do Brasil com o Paraguai e o transporte desse entorpecente até Rio e São Paulo. As maiores regiões produtoras de maconha continuam sendo as cidades paraguaias de Pedro Juan Caballero, Salto del Guairá e Ciudad del Este. No rastro da operação Fênix — ofensiva da PF contra integrantes da quadrilha chefiada por Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar —, agentes descobriram uma base de plantio da droga no Estado de Capitán Bardo. A fazenda, localizada numa região de mata fechada, seria de propriedade de Beira-Mar. Ao que tudo indica, PCC e CV contam com os mesmos fornecedores. "Sabemos que todas essas zonas produtoras são gerenciadas por ex-presidiários brasileiros subordinados às facções", afirma o delegado Fernando Franceschini, ex-chefe da Unidade de Repressão a Entorpecentes da PF em São Paulo e atual secretário municipal Antidrogas de Curitiba. Pela facilidade em driblar a fiscalização, a cocaína produzida na Colômbia, na Bolívia e na Venezuela também tem sido direcionada para o Paraguai. "Lá, a coisa é escancarada. Já é o principal entreposto do narcotráfico na América do Sul", diz o delegado. O transporte da droga costuma ocorrer à noite ou de madrugada. Os maiores carregamentos seguem em balsas improvisadas pelo Rio Paraná e pelo Lago Iguaçú. Nas cidades brasileiras de Foz do Iguaçú e Guaíra, no Paraná, e Ponta Porã, em Mato Grosso do Sul, criminosos recrutam as chamadas "mulas" — pessoas encarregadas de levar a droga até as grandes cidades. "O perfil é sempre o mesmo: adolescentes, principalmente mulheres, sem perspectiva de vida", diz Franceschini. (AE)) Autor: Editoria Brasil
Fonte: Correio Popular-Campinas-SP