Wilson Valentim Biasotto*Freud ensinou no século 19 que, mormente, as criações humanas são coletivas. De fato, é...
Wilson Valentim Biasotto*Freud ensinou no século 19 que, mormente, as criações humanas são coletivas. De fato, é extremamente difícil distinguir algo que seja criação exclusivamente individual. Mesmo essa singela crônica, quantos co-autores teria, se fossemos contar desde os meus pais e minhas primeiras professoras - Dona Enide e Dona Maria do Carmo - que me ensinaram, respectivamente, a balbuciar as primeiras palavras e a escrever as primeiras letras? Até mesmo uma idéia, que nos parece singular, somente ganha corpo, substância e seguidores, no caso destes terem a mesma ideia, ou, ao menos, ideias semelhantes.
Se por um lado as criações são coletivas, por outro, a continuidade, o aperfeiçoamento e o sucesso dessas criações, mais que coletivas, são transgeracionais. Significa dizer que as instituições humanas não são obras acabadas, estão em permanente construção. E quanto melhor a concepção inicial de determinada instituição, tanto maior será a chance das gerações seguintes empenharem-se em torná-la cada vez mais sólida, forte, brilhante.
Tomemos à título de exemplificação as Universidades mais antigas do Ocidente, todas elas com mais de 800 anos de existência: Bolonha, Oxford, Paris, Cambridge, Salamanca. Quem as idealizou? Quem as criou? Quem foi dia a dia, ano a ano, século a século, edificando as suas respectivas histórias?
Mesmo especialistas nessa área da historiografia terão dificuldades em apresentar dados substanciais sobre essas questões acima levantadas, mas não terão dúvidas de suas importâncias no processo de transformação social, política e econômica que operaram e continuam operando.
Da mesma forma, ocorre com o Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Mato Grosso do Sul. Os seus idealizadores, suas primeiras lideranças, vão ficando invisíveis à medida que o tempo passa. Mas em compensação, o processo, tanto de fundação como de desenvolvimento da entidade, vai se tornando cada vez mais compreensível. Não existiram heróis, mas pessoas que fizeram aquilo que deveriam ser feito no tempo certo. É o processo de criação coletiva e transgeracional ao qual me referi de início.
A FETEMS, Federação dos Trabalhadores em Educação do Mato Grosso do Sul, completou dia 9/08/2009, trinta anos. Poucos anos de existência, se comparados às Universidades acima citadas. Muitos e profícuos anos se tivermos em conta a fragilidade da democracia brasileira que, desde a Proclamação da República até os nossos dias, somente ultrapassou essa marca em seu período inicial, chamado de 1ª República, e que vigeu entre 1889 e 1930.
Gestada em 1978 e nascida no mesmo ano que Mato Grosso do Sul - 1979 - a FETEMS não se tornou protagonista somente de sua própria história, é personagem indissociável também das conquistas políticas e sociais que o nosso estado alcançou, bem como contribuiu sobremaneira para que o Brasil tivesse um governo federal que devotasse atenção especial à classe trabalhadora.
Até 1979, em Mato Grosso do Sul, 100 mil crianças em idade escolar estavam fora das escolas. A ditadura militar ainda imperava. Não havia eleições diretas para Presidente. Apenas 10% dos professores estaduais eram efetivos. Os diretores eram nomeados à revelia da comunidade escolar. Inexistia qualquer Plano de Cargos, Carreira e Salários. Não havia piso salarial. O atraso em pagamentos de salários era regra. A comunidade escolar precisava fazer promoções para trocar uma telha que fosse. Faltava giz para as escolas. Mas faltava especialmente respeito dos governantes para com uma categoria que trabalha a educação como arma de plantar a liberdade.
Em relação ao Brasil, convém lembrar que até pouco tempo tínhamos uma dívida impagável, o ensino fundamental abandonado e o superior sucateado, cerca de 1/3 de nossa população abaixo da linha da pobreza e uma política neoliberal que dilapidou com o patrimônio público devido as malfadadas privatizações.
Para cada um dos problemas acima, uma bandeira de luta desfraldada na busca de soluções. Trinta anos de dedicação em benefício da categoria, com certeza, mas em benefício também da educação de qualidade, da cidadania, da democracia, da liberdade de expressão. Trinta anos de lutas por uma sociedade mais justa, mais solidária, mais igual.
Valeu! Parabéns à FETEMS e a todos os que acreditam na Educação como fonte de transformação social. *Suas críticas são bem vindas: [email protected]
Professor e ex-vereador