Dom Redovino Rizzardo, cs*Na manhã do dia 18 de novembro de 2009, em Campo Grande, uma briga de trânsito resultou na morte...
Dom Redovino Rizzardo, cs*Na manhã do dia 18 de novembro de 2009, em Campo Grande, uma briga de trânsito resultou na morte do menino Rogério Mendonça, de dois anos. Ele foi atingido no pescoço por um dos quatro tiros disparados por um jornalista de 60 anos. De acordo com as testemunhas, pelas 11 horas, o carro do comunicador foi fechado por uma caminhonete, o que provocou uma acirrada discussão entre os dois motoristas. Em dado momento, o acusado sacou de um revólver e fez os disparos. Uma das balas atingiu o pescoço da criança. Levada para a Santa Casa, ela morreu no final da tarde. Por volta das 14 horas, o jornalista compareceu na Delegacia para "registrar queixa de agressão", e acabou preso.
É apenas um dentre milhares de casos semelhantes e macabros, que acontecem no trânsito, na maior parte das cidades. Não poucas vezes, por motivos fúteis, que poderiam ser resolvidos no diálogo e no respeito mútuo, a violência que se aninha na coração das pessoas, explode e acaba provocando uma verdadeira tempestade em copo de água.
A esse respeito, alguém me enviou, via internet, uma estória muito elucidativa, que transcrevo para nos ajudar a refletir sobre o assunto e a tomar as devidas precauções.
«Um dia, peguei um táxi para chegar ao aeroporto. Estávamos rodando na faixa certa quando, de repente, um carro saiu do estacionamento e veio em disparada em nossa frente. O taxista pisou no freio, deslizou e escapou de bater no intruso por um triz.
O motorista do outro carro olhou para nós e começou a gritar nervosamente, soltando todo tipo de palavrão. O taxista apenas sorriu, fazendo um sinal de positivo para ele.
Ante uma atitude tão estranha, não me contive e lhe perguntei: "Como consegue manter-se calmo e sorridente? O cara quase acaba com seu carro e nos manda para o hospital!"
Foi então que o motorista do táxi me ensinou a lição que denominei: "A Lei do Caminhão do Lixo". Ele explicou que muitas pessoas se parecem com um caminhão do lixo. Andam por aí carregadas de sujeira, formada por toda a espécie de desilusões, raivas, frustrações, bloqueios e traumas. À medida que suas pilhas de detritos crescem, elas precisam de um lugar para os descarregar e, às vezes, o fazem sobre a primeira pessoa que encontram.
O taxista concluiu: "O problema não é seu, mas dele. Você não deve se sentir atingido por suas imprecações! Apenas sorria, acene, deseje-lhe o bem e vá em frente. Não pegue o entulho que essa pessoa deixa cair, nem o espalhe sobre seus colegas de trabalho, seus amigos e seus familiares. Fique tranquilo! Se você não quiser, ninguém poderá jogar seu lixo sobre você! Não estrague seu dia revirando essa sujeira. Quanto mais mexe, mais fede! A vida é dez por cento o que você faz dela e noventa por cento a maneira como você a recebe!"».
Pode parecer uma estória ingênua, mas é profunda e real. Não têm número os problemas, e até mesmo os crimes, que acontecem exatamente porque acolhemos o lixo que as pessoas jogam sobre nós! Pretendemos, quase sempre, revidar com a mesma moeda. Não levamos desaforo para casa. Situações que se deterioram numa proporção assustadora porque poucas pessoas têm a humildade de pedir desculpas!
Para o autor, "as pessoas andam por aí carregadas de sujeira, formada por toda a espécie de desilusões, raivas, frustrações, bloqueios e traumas". Isso acontece porque, em geral, não é fácil "digerir" os percalços que a vida nos reserva todos os dias. Ao invés de "digerir" - antigamente alguns psicólogos falavam em "sublimar" -, há quem passe o tempo "ruminando" seus problemas. No início, eles podem até ser insignificantes, mas, de tanto remoê-los, acabam ficando intransponíveis. Até estourarem como uma panela de pressão. E ai de quem está perto!
Foi o que aconteceu em Campo Grande no dia 18 de novembro. Rogério Mendonça não teria morrido se nós - e seu assassino - mudássemos de rumo e seguíssemos a orientação dada por São Paulo aos primeiros cristãos: «Como escolhidos de Deus, santos e amados, revistam-se de sentimentos de compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência! Suportem-se uns aos outros e se perdoem mutuamente sempre que tiverem queixa contra alguém. Cada um perdoe o outro, do mesmo modo que o Senhor perdoa a vocês. E, acima de tudo, vistam-se com o amor, que é o laço da perfeição» (Cl 3,12-14).*Bispo de Dourados. [email protected]